À medida que a pandemia de coronavírus avança no Brasil, temos presenciado o aparecimento de outra pandemia. Trata-se de uma pandemia psíquico-emocional chamada ansiedade. Há cerca de um mês, uma reportagem num grande jornal carioca mencionava um estudo que apontava que, em um mês de quarentena, os casos de ansiedade haviam dobrado.
É de certa forma compreensível. É difícil para a mente humana lidar com um cenário de incertezas e de projeções catastróficas. É a esse medo de algo que não definimos muito bem que chamamos de ansiedade. Ela não afeta apenas a nossa mente, mas também o nosso corpo. Temos taquicardia, ficamos com a boca seca, os pensamentos ficam acelerados e confusos. É como manter o pé no acelerador. Logo, o carro começa a esquentar e problemas começam a surgir.
A questão que tem preocupado a nós, médicos, é o confinamento. Restritos às nossas casas, não podemos mais fazer uso das válvulas de escape do período pré-coronavírus: passeio ou corrida no parque, reuniões com os amigos, exercícios na academia. Sem essas fontes de alívio, corremos o risco de contaminar o ambiente que nos cerca com a nossa ansiedade. As relações interpessoais ficam mais difíceis, os atritos tornam-se mais comuns, o sono custa a chegar.
Ansiedade não é uma doença, mas pode se transformar em um distúrbio psíquico quando traz prejuízo pessoal e profissional ao ansioso. A boa notícia é que ela é administrável.
Exercícios, por exemplo, são ótimos moduladores da ansiedade, ao liberarem endorfina, substância associada à sensação de bem-estar. Dá para exercitar-se em casa. Meditação é outra prática que ajuda tremendamente a aliviar a sensação de mal-estar causada pela ansiedade. Ler também, assim como qualquer outra atividade que lhe traga prazer e conforto.
O distanciamento social, infelizmente, nos nega uma das estratégias mais eficientes para o controle da ansiedade: os encontros presenciais com quem amamos. Isso não significa que não possamos, e não devamos, nos reunir, ainda que virtualmente.
Todos estamos passando por situações semelhantes. Nessa hora, todo mundo quer ouvir uma voz amiga. Conecte-se.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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