Inicio esta coluna com um fato incontestável: uma parcela significativa de nós está bebendo mais do que o usual. Presos em casa, muitos aumentaram a frequência e o consumo de álcool. Um estudo publicado em maio na revista “Drug and Alcohol Review” reforça que a pandemia de coronavírus tem potencial para causar impacto nos comportamentos relacionados à saúde, um dos quais, o crescimento exagerado do consumo de bebidas alcoólicas.
É verdade que o álcool pode ajudar a aliviar o estresse e o tédio de permanecer o tempo todo em casa, desde que ingerido com moderação. Mas o que significa moderação? O consumo “normal” de álcool é um tanto subjetivo e baseado não só na cultura em que cada um vive, mas também nas características individuais. Somos diferentes uns dos outros e, por isso, alguns têm menor tolerância a um drinque do que outros.
Isso se reflete na grande discrepância entre as diretrizes das entidades internacionais para o consumo de álcool. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), nenhuma quantidade de álcool é considerada totalmente segura para a saúde.
Já o NIAAA (National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism), instituto norte-americano que é referência no tema, considera como limites máximos de consumo não mais do que 3 doses diárias, porém sem ultrapassar 7 doses na semana, no caso das mulheres e, para homens, 4 doses ao dia, sem exceder 14 doses na semana.
Uma dose padrão, para o NIAAA, é a correspondente a 14 g de etanol puro, quantidade que está contida em, por exemplo, 1 lata de cerveja de 350 mL, 150 mL de vinho ou 45 mL de algum destilado. É importante saber que o próprio conceito de dose padrão varia de acordo com cada país.
Se uma pessoa não tem problema com álcool, não é alarmante se ela tomar uma dose extra de bebida alcoólica num dia mais estressante. A preocupação deve vir quando os hábitos e pensamentos em torno do álcool começam a mudar para pior.
O uso não saudável de álcool se encaixa dentro de um espectro que varia de pessoa a pessoa. Não podemos dizer que ele é preto ou branco, mas algo que fica entre os 50 tons de cinza – referência ao famoso livro.
Uma sugestão para quem acredita estar consumindo álcool além da conta é observar se as relações interpessoais têm sido impactadas com isso. Pequenos deslizes, uma palavra ou gesto mais ríspido com a parceira ou o parceiro ou com os filhos são indicativos de que talvez a relação com a bebida alcoólica esteja se deteriorando. Notar tais escorregadelas é mais fácil quando se vive com alguém. Geralmente é um membro da família que liga o sinal de alerta e esse não costuma ser um ato amistoso.
Quem mora sozinho talvez tenha mais dificuldade para ter essa percepção do próprio comportamento quando alcoolizado. Uma boa dica é você procurar perceber se más decisões são tomadas durante o período em que está alcoolizado ou ficar atento a se, no dia seguinte, você não se sente bem fisicamente – se tem fortes dores de cabeça ou sente-se desidratado, por exemplo. Ou, ainda, se sente que o álcool o está afetando negativamente.
Se, por ventura, percebeu alguns desses sinais, é hora de buscar ajuda. Felizmente, hoje existem muitos recursos disponíveis. Comece por conversar com o médico em quem confia. Ele vai ajudar a orientá-lo sobre isso.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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