A origem da palavra “arte” é habilidade. Quantas vezes já falamos ou ouvimos “Para de fazer arte!” Agora já podemos usar outra palavra, pois quanto mais habilidades melhor.
Vinho e arte caminham, relativamente, ao lado da história da humanidade. Cada um com sua reflexão direta, às vezes indireta, com os momentos e com os hábitos das civilizações. Ambos conectados às conquistas, à política, à economia e à rotina social.
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A vinícola mais antiga, descoberta em 2007 por pesquisadores da UCLA (Universidade da Califórnia e Los Angeles), foi fundada na Armênia em 4100 a.C.. Para que essa vinícola fosse ativa, a arte da cerâmica já existia pois, afinal, como armazenar o vinho? Vasos, esculturas, narrações em pedra e a escrita foi inventada. Vinho, arte e comunicação. No Egito, com a ascensão dos faraós, uma bebida foi inventada com uvas para as cerimônias por ter a cor vermelha associada ao sangue. Era o vinho, provavelmente horroroso aos nossos paladares atuais, mas, com um grande peso nos momentos importantes.
Os fenícios, que já cultivavam uvas em 1200 a.C., nas suas viagens comerciais para o Mediterrâneo, levavam vinhos e parreiras. Foi em uma dessas viagens que a bebida foi apresentada aos judeus e utilizada nas cerimônias religiosas. A primeira citação foi no livro de Gênesis! Segue a ligação com as celebrações religiosas e importantes.
Já para os gregos, que aprimoraram o vinho, a bebida era símbolo de troca, religião e saúde. Tão significativo que nomearam um deus, Dionysus, para honrar esta bebida que participou das festas no jardim da Babilônia e das conquistas de Alexandre, o Grande. Momento de busca do perfeito, do equilíbrio, das esculturas dos corpos, construção do Coliseu e do Pantheon. Interessante que no oriente, com a disseminação do budismo, a arte era meditativa e serena.
A Grécia teve sua glória abafada pelos romanos que, inclusive, nomearam seu próprio deus do vinho, Bacchus e prosseguiram com a viticultura como se esta fosse de mérito próprio. Com a expansão do império, felizmente, vinhas são plantadas na França, Alemanha, Itália, Portugal, Espanha e vários outros países da Europa Central e em 70 a.C.
Pliny the Elder escreve “In vinum veritas” na Naturalis História. “No vinho há verdade”. E por que Jesus transformaria água em vinho, se esta não fosse uma bebida sagrada? Não só, mas também de união, celebração, vida e morte, culto e reflexão.
Com os romanos adotando o cristianismo, o vinho se torna o centro das cerimônias e sacramentos, levando a uma grande ascensão da viticultura. Quanto mais o catolicismo cresce, mais a viticultura se expande. Nessa época, a Notre Dame é construída, a arte gótica em peso exibindo todo o seu poder e imposição de culto religioso.
No Brasil, com o descobrimento e a disseminação da viticultura nas Américas, o momento era do novo. Com a reforma de Martin Luther King, a energia era de renascimento com Boticelli, Leonardo, Michelangelo e Raphael, entre outros. Mas a igreja consegue atrair sempre pela beleza e pelo medo. A beleza do barroco, o chamado para entrar e apreciar, mas sempre lembrando que sem seguir as regras, existe um preço a pagar. O equilíbrio e a dança da vida com os movimentos artísticos e a presença simbólica do vinho na vida do ser humano.
Com o intercâmbio de culturas, os holandeses na África do Sul, missionários espanhóis na Califórnia, Thomas Jefferson trazendo vinhas da França pra Califórnia, Ingleses aterrando na Austrália (e no pit stop passaram na África do Sul e levaram vinhas de lá), o “pai” da indústria vinícola na Austrália, James Busby, é nomeado residente neozelandês pelo governo inglês e se muda para a Nova Zelândia levando vinhas australianas, estabelecendo o primeiro vinhedo em 1836, França plantando vinhas na Algéria, italianos imigrantes no Uruguai, China e assim por diante o vinho se espalha pelo mundo, trazendo alegrias e comunidades que valorizam a terra, a família, a alimentação e buscam a harmonia com a natureza. Essa é a alma do vinho, tudo que circula em torno é outro capítulo.
Com todas essas viagens longas só os vinhos fortificados (porto, madeira), e os altamente doces (sauternes e constantia) conseguiam sobreviver e eram muito requisitados. Champanhe também estava em ascensão e Napoleão Bonaparte era um grande fã. Sendo nomeado Imperador, suas viagens eram regadas a Moët & Chandon, assim como todas as festas na corte, o champanhe estava sempre presente. Na arte, o romantismo: perfeita harmonia. O triunfo da imaginação e individualidade.
Depois do abuso, vem o realismo. Mas Renoir, Monet e Degas, entre outros, não deixam de nos lembrar da fantasia, das cores, da alegria e da beleza. E mesmo com a fiiloxera, a doença nas vinhas que destruiu 75% dos vinhedos na França, a Belle Époque vem depois para mais uma onda de consumo do vinho e da famosa garrafa da Perrier-Jouët Belle Époque, desenhada por Makoto Azuma. Uma bela visão da Maison pois o Japão estava na “era do ouro”. Hoje, o Japão está entre os três primeiros maiores consumidores de champanhe, atrás de EUA e Inglaterra.
Com todas a guerras, primeira, segunda, guerra fria, depressão, a arte segue com expressionismo, cubismo, surrealismo, o abstrato e a desconstrução para que no meio de tantas dificuldades, se consiga reerguer a sociedade. Mais forte, mais equilibrada, mais sustentável, mais saborosa, mais viva, mais conectada, com menos açúcar, mas não menos prazerosa, com menos aditivos, mas com mais caráter. Exatamente como foi a evolução dos vinhos.
No momento em que estamos, mais consciência. Na dificuldade, na perda, o que é essencial varia para cada um. O vinho não sai do consumo, o consumo de adapta ao momento. Quando uma empresa automobilística, que produz carros elétricos, cresce de maneira exponencial, é porque a valorização do ar que respiramos, agora muito claro quando tiramos a máscara, está em alta.
Vinhos que respeitam, que alimentam, que nutrem. A arte do momento? A arte (habilidade) de respeitar a si mesmo, a todos e tudo ao seu redor. Que o vinho nos traga muitas inspirações de como evoluir, progredir e ter abundância sem desequilibrar. Que a acidez seja equilibrada com a doçura, como a perfeição de um vinho Château D’Yquem.
Tchin tchin!
Carolina Schoof Centola é fundadora da TriWine Investimentos e sommelière formada pela ABS, especializada na região de Champagne. Em Milão, foi a primeira mulher a participar do primeiro grupo de PRs do Armani Privé.
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