No Hemisfério Norte é impressionante como de um dia para o outro, a temperatura muda. Chega o outono e bam! Uma semana depois, acorda-se com 10 graus a menos no termômetro. No Hemisfério Sul, com estações um pouco menos definidas, essa percepção é mais gradual. Outono e primavera são mais instáveis. Isso muda tudo quando pensamos em preparação da pós-colheita. O que acontece depois que as uvas são colhidas?
Acontece um monte de coisas! Uma orquestra aonde os movimentos não podem falhar pois, timing é tudo.
As uvas colhidas vão direto para a fermentação, espumantes são os primeiros a serem colhidos, depois os brancos, tintos e por fim colheita tardia (para fazer os vinhos doces). Fermentação em inox é a mais comum, especialmente para os que produzem em grande escala. Barricas de carvalho, cimento, ânforas são outras possibilidades, dependendo do objetivo do produtor. Não é uma ciência exata e os produtores estão, em sua maioria, abertos a novas experiências. O cérebro humano e a psique demandam estímulos, isso é mais que comprovado.
O que se espera é uma constância de personalidade e estilo, que vai cativar o seu consumidor a embarcar nas novas experiências, como Agrapart, em Champanhe. Ele tem sua personalidade explícita nos vinhos que produz, no caso champanhe, e quando partiu para seu Experience 14, encontrou a lealdade dos consumidores. A curiosidade, o inusitado, a inovação, risco e, ao mesmo tempo, audácia, trazem tempero a vinhos que já tem seu alicerce estabelecido.
Louis Pasteur foi o primeiro a perceber as leveduras e a fermentação, processo imprescindível para transformar o açúcar em álcool. A metamorfose e voilá, a fermentação alcoólica.
Hoje em dia tudo pode ser controlado, à parte a natureza em si. A levedura pode ser adicionada para produzir um vinho com as características desejadas. A temperatura no processo pode ser controlada, a oxidação, as informações científicas podem ser o foco, meio foco e nada de foco, como aqueles que seguem a energia da natureza e se beneficiam do grande risco que isso significa. Obviamente, os resultados compensam, segundo eles e os que pensam como eles.
O homem está buscando sempre o melhor e o que está ao seu alcance, mesmo que não pareça no momento. Quantas vezes nos atualizamos e pensamos, ah se eu soubesse disso antes…
Muitos produtores seguem uma linha de pensamento porque foi assim que aprenderam. Isso não significa que não possam mudar. Mas demora, principalmente, se não houver respaldo financeiro. O trabalho no campo e na adega são fisicamente exaustivos e as pessoas ficam, literalmente, plantadas ali, com poucas exceções durante o ano. As mudanças acontecem, normalmente com as gerações mais novas ou, com a entrada de capital externo. Caso contrário, a linha de pensamento segue de acordo com a necessidade, ano após ano.
Após acabar a fermentação alcoólica, o vinho passa seu período de envelhecimento. Este é o momento que os maquinários são devolvidos, no caso dos que não possuem e alugam. Os trabalhadores extras que vieram para ajudar na colheita retornam para suas regiões e o trabalho nas vinhas inicia, preparando-as para o inverno.
A colheita é sempre um momento muito esperado e excitante para todos que participam. Os trabalhos começam muito cedo, o contato com a natureza é intenso e as celebrações muito ricas, mesmo sendo rústicas. Os alimentos e os vinhos compartilhados têm um sabor de realização, missão cumprida alcançada com muito suor onde, as pessoas são expostas ao trabalho árduo e a consciência de trabalho em grupo e de solidariedade são muito fortes. Tem vinícolas que sempre chamam, na maioria, o mesmo grupo. Imagine que toda a sua produção dependa, fortemente, da maneira como suas uvas serão tratadas? E quando se desengaça as uvas (tirar todos os bagos do cacho), o trabalho é meticuloso. Essa pressão, tensão e exaustão do processo conecta as pessoas, pois é nos momentos de raça que avaliamos as verdadeiras similaridades.
Quando passa esse momento, fica o vinho nas adegas fermentando e envelhecendo toda essa energia que passou por ele. Os almoços de fim de colheita, as risadas e os gritos também!
No Hemisfério Norte, com o frio, as vinhas precisam ter suas raízes cobertas por terra que pode ser feito com trator ou a cavalo. As folhas vão mudando de cor, deixando os campos alaranjados numa estação que prepara tudo para a queda de temperatura e a internalização, das plantas, dos animais e de nós mesmos.
No Hemisfério Sul é a mesma coisa, em períodos diferentes e com uma menor intensidade de inverno.
E as celebrações, claro! Quem planta, colhe (se tudo correr bem)! Mas mesmo nas derrotas, quando a colheita não existiu porque foi queimada, inundada, congelada, o espírito de celebração não pode acabar. Acordar, abrir os olhos, respirar e ter a chance de um novo recomeço é, por si só, um grande motivo de celebração.
E Halloween, tem a ver com pós-colheita? Sim. Origina-se com os celtas, aonde é hoje a Irlanda, que celebravam o ano novo dia 01 de novembro. Então, 31/10 é Réveillon!! A festa era com fogueiras, dança e “fantasias” de cabeça de animais que visavam agradecer a colheita e pedir proteção aos espíritos para o período escuro que, naquela época, era duríssimo e congelante. Um momento de alinhamento com a natureza e seus ciclos.
Halloween hoje? Um quarto da produção anual de balas e afins, produzido nos Estados Unidos, é consumido neste evento. Fora o desperdício com as abóboras, que mesmo sendo a época, atingem uma produção gigantesca.
É sempre delicado julgar uma cultura, mas, olhando de fora fica mais claro. Qual o propósito? Eu aprendi, e repasso a lição, que não se deve brincar com comida. O mesmo se diz para dinheiro, dinheiro não aceita desaforo, certo?
Qual o alinhamento com a nossa existência que, dar um balde de doces para um serzinho que está em pleno desenvolvimento físico, emocional e psicológico pode ser bom? Ok, todos provavelmente já fizemos, assim como a geração dos nossos pais passava urucum no sol, fumavam e comiam gordura hidrogenada, mas vamos evoluindo aos poucos e chegamos lá!
Ah, mas é a tradição. Ah sim, e qual a origem do Halloween e porque se faz isso? Ah, não sei, mas é a tradição. Esse é o gatilho da mudança de conceito!
No Hemisfério Norte, o pós-colheita significa momento de celebrar, de acompanhar o desenvolvimento e aguardar os resultados num clima de aconchego do frio. No Hemisfério Sul, o calor na pele esquenta os corações, traz luz e vida. Nos últimos meses que antecedem a colheita, a expectativa e a esperança é que não tenha muita chuva, o que dilui a concentração das uvas, no caso do Brasil.
Seja no Norte ou no Sul, o alinhamento com os propósitos é uma busca constante.
A lua cheia neste Halloween será uma grande força para alinharmos nossas energias com uma bela taça de vinho, cheia de risos e esforços de quem o fez.
Tchin tchin!
Carolina Schoof Centola é fundadora da TriWine Investimentos e sommelière formada pela ABS, especializada na região de Champagne. Em Milão, foi a primeira mulher a participar do primeiro grupo de PRs do Armani Privé.
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