O processo eleitoral norte-americano, apesar da disputa judicial sobre o resultado, deve ser considerado o que realmente é: um marco institucional da democracia, que garante a alternância no poder. Quando, no futuro, historiadores se debruçarem sobre o pleito, é provavelmente esse o saldo que ficará registrado, e não os impasses momentâneos da disputa.
Para o Brasil, há interesses comerciais e diplomáticos em jogo. Depois da China, país que absorve nossos grãos e minérios, os Estados Unidos são o maior parceiro comercial do Brasil. Da perspectiva dos exportadores, há uma diferença importante entre as duas maiores economias do mundo. Enquanto a China importa produtos de pouco valor agregado, os Estados Unidos compram itens intermediários, como produtos siderúrgicos.
O Brasil, apesar das boas relações entre Trump e o presidente Bolsonaro, não se deu tão bem. Nos três primeiros trimestres deste ano, o comércio entre os dois países recuou 25% em relação ao mesmo período do ano anterior, para pouco mais de US$ 33 bilhões – foi o pior desempenho em mais de dez anos. As nossas exportações, com recuo de 31%, foram mais afetadas do que as importações.
É claro que a recessão provocada pela pandemia explica boa parte dessa história. Mas a verdade é que a retração do comércio brasileiro foi mais acentuada com os Estados Unidos do que com outros parceiros. O Brasil chegou a ser uma vítima indireta da disputa eleitoral. Pouco antes do pleito, Trump anunciou um corte temporário de 80% nas exportações de aço do Brasil, o que deve ter lhe rendido votos no cinturão industrial americano.
Biden, ao contrário, endossa a globalização. É nesse contexto, portanto, que o Brasil deve identificar oportunidades.
As críticas pontuais à política ambientalista do Brasil, justas ou injustas, devem ser entendidas como parte da disputa eleitoral. O Brasil nunca permitiu ações que representassem afronta à soberania nacional – e nunca o fará. Mas seria esse o propósito de Biden? Acredito que não. Criticar a ocorrência de incêndios florestais no Brasil não significa ingerência indevida em assuntos internos. É somente reflexo de uma preocupação que não é só de Biden.
Na linguagem dos negócios internacionais, o que predomina são palavras como reciprocidade, interesses comuns ou complementares e, sobretudo, muito pragmatismo. Na diplomacia e no comércio exterior, o que conta é o resultado prático.
Nesta nova fase que se inaugura em nosso parceiro do hemisfério norte, sejamos realistas.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Tenha também a Forbes no Google Notícias.