O setor ficou bem irritado com essa publicidade e acabou abrindo um precedente para um cancelamento de contas em massa, uma revolta por parte do setor da agropecuária. Afinal de contas, “meu dinheiro é bom para o Bradesco lucrar, mas a minha atividade não é boa para a humanidade”. Então, o pessoal ficou bem chateado.
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Mas quando pensamos em pecuária, agora comparando, o boi emite metano. Esse metano biogênico lançado à atmosfera pelo animal é quebrado após 10 ou 12 anos em CO2 e água. Então, como já disse Lavoisier, nada se perde, tudo se transforma. A água volta para o seu ciclo, mas e o CO2? Ele é sequestrado pelas pastagens para que elas possam fazer a fotossíntese. Então, o boi tem um balanço. A produção pecuária não é só emissora, especialmente a brasileira, que é feita à base de pastagens, ela é sequestradora desse CO2 que está na atmosfera. Muita gente fala do metano, mas ele é quebrado em CO2 e esse, por sua vez, é absorvido por pastagens bem manejadas, que produzem muita biomassa.
E o que a gente vê crescer muito no Brasil são pastagens bem manejadas, que produzem muita biomassa. Tanto é que a gente tem diminuído as áreas de pastagem no Brasil e aumentado a produtividade do gado. Isso aí é uma imagem que a gente já tem muito bem desenhada na cabeça. A aplicação de tecnologia está trazendo uma produtividade maior e que economiza área. Então, temos cedido muita área de pastagem para outras coisas e, inclusive, para a regeneração de florestas. Além disso, tem gente que é tão improdutiva que não consegue nem reformar aquela área e a vegetação nativa toma conta da área novamente. É isso que a gente chama de regeneração.
O que acontece é que pastagens sequestram CO2, esse carbono fica armazenado ali, o boi vem, come e depois expele o metano que é transformado em dióxido de carbono e volta. Portanto, o boi tem um ciclo que a emissão via combustíveis fósseis não tem. Então pastagens bem manejadas podem até mesmo ajudar a sequestrar esse carbono que é emitido por combustíveis fósseis. Essa conversa não foi considerada na publicidade do Bradesco.
Com isso, precisamos tirar uma grande lição para o setor agropecuário. Primeiro, a gente precisa parar de falar de emissões e começar a falar de balanço, a pecuária tem um balanço que as emissões urbanas não possuem. Precisamos tratar isso de maneira justa para o setor, porque quando a gente abomina o setor, tem muita gente pequena; 80% dos produtores rurais, que passa por uma tragédia social. E de uma maneira injusta, pois as pastagens absorvem o CO2 para realizar a fotossíntese.
Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Atualmente é CEO da AgriFatto. Desde 2007 atua no setor do agronegócio ocupando cargos como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operação de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.
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