A vida de Eduardo Saverin depois do Facebook

1 de abril de 2019
Reprodução/Forbes

“Eu sou muito aberto porque entendo de onde vem a curiosidade”, diz Saverin em sua primeira entrevista cara a cara para a imprensa em sete anos

Resumo da notícia:

  • Eduardo Saverin dá sua primeira entrevista cara a cara após sete anos;
  • O bilionário fala de sua saída do Facebook e esclarece rumores sobre a desistência da cidadania norte-americana dois anos após a mudança para Singapura;
  • Saverin discute o lançamento da B Capital em 2015 e sua rápida expansão.

Quando Eduardo Saverin cumprimenta empreendedores que o visitam em seu escritório no oitavo andar da Singapore Land Tower, o brasileiro de 36 anos sabe que farão perguntas sobre o Facebook. O cofundador da gigante rede social não é apenas um dos bilionários mais jovens do mundo – seu patrimônio é estimado em US$ 10 bilhões -, mas também um nome familiar depois que foi retratado no filme de sucesso de 2010, “A Rede Social”.

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Um ano depois, ele renunciou à sua cidadania norte-americana, evitando assim o pagamento de cerca de US$ 700 milhões em impostos para o país. Saverin sempre negou a mudança para Singapura por motivos fiscais e se envergonha de seu alter ego de Hollywood, já que fica mais confortável atrás de uma planilha do que na tela de cinema. Mas ele não se incomoda – vale tudo para facilitar o que ele quer que o mundo saiba sobre o Eduardo Saverin de 2019: cofundador da B Capital, uma empresa de capital de risco em rápida expansão que está prestes a promover grandes jogadas.

“Eu sou muito aberto porque entendo de onde vem a curiosidade”, diz Saverin em sua primeira entrevista cara a cara para a imprensa em sete anos. “Fico feliz em saber que estão ouvindo de mim e não de um filme.”

Desde o lançamento da B Capital, em 2015, Saverin e seu sócio, Raj Ganguly, têm trabalhando na implantação de seu primeiro fundo de tecnologia no valor de US$ 360 milhões (Saverin liderou uma parte não revelada), guiados por uma reviravolta na abordagem tradicional de construção de empresas. A maioria das companhias de capital de risco começa localmente, com um par de investimentos em empresas da região. Mas não a B Capital, onde 30 funcionários na Califórnia (São Francisco e Los Angeles), Nova York e Singapura buscaram uma abordagem multinacional desde o início. Outro ponto fundamental: uma aliança com o Boston Consulting Group, que fornece às empresas do portfólio de Saverin acesso aos especialistas da consultoria de elite e a seus clientes. Agora, com várias contratações de alto nível, incluindo um presidente baseado nos Estados Unidos e um novo parceiro com as credenciais da Apple e da Box, Saverin e Ganguly estão revelando sua companhia, que vem crescendo bem além do hobby de um bilionário. Espera-se que eles, em breve, levantem um segundo fundo muito maior.

“Não importa quão sortudo ou abençoado eu possa ser, nunca vou me aposentar em uma praia”, diz o brasileiro. “Ainda estamos muito aquém do desenvolvimento das tecnologias que irão impactar o mundo.”

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Saverin nunca voltou para os EUA porque se apaixonou por Elaine Andriejanssen, sua esposa, e por Singapura

Quando Mark Zuckerberg comemorou a estreia do Facebook na Nasdaq, em maio de 2012, Saverin estava a milhares de quilômetros de distância e distraído, exceto pelo fato de que suas 53 milhões de ações estavam sendo convertidas em ações ordinárias. Até aí nenhuma surpresa. O período de Saverin na empresa havia terminado em 2005 no rastro de controvérsias e ações judiciais por causa da redução da sua participação na rede social. Em 2009, o jovem empreendedor se mudou para Singapura e desistiu de sua cidadania norte-americana dois anos depois. Sua vida parecia um clichê: as fofocas falavam sobre seu Bentley, uma mesa fixa em uma boate de elite e contas de bar que chegavam a US$ 50 mil.

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Hoje, Saverin conta uma história diferente. Filho de pais brasileiros que se mudaram para Miami, ele nasceu em São Paulo, mas cresceu no Sul da Flórida e estudou em um internato antes de ir para Harvard, onde estabeleceu sua fatídica conexão com Zuckerberg enquanto cursava Economia. Após seu envolvimento no Facebook, Saverin se juntou a diversos projetos de startups antes de se mudar para Singapura, no que era para ser apenas uma estadia curta para ajudar um amigo a lançar seus negócios. Ele nunca voltou porque se apaixonou por Elaine, sua esposa, e pelo país. Ele havia conhecido brevemente a jovem singapurense nos tempos de faculdade, quando frequentava a Universidade Tufts.

“É um lugar ótimo para quem é da área de tecnologia. E está a apenas cinco horas de avião de grande parte da população mundial.” A decisão de renunciar à cidadania norte-americana no ano anterior ao IPO teve o objetivo de estabelecer raízes em Singapura e não de pagar impostos menores sobre sua riqueza, garante o bilionário. “Não era nada do que as notícias estavam dizendo na época”, diz. O valor de US$ 700 milhões foi especulativo, de acordo com seu porta-voz.

E para ouvir Saverin falar sobre isso, quer dizer que ele está em paz com seu passado no Facebook – ele continua sendo um dos maiores acionistas individuais, com uma participação de 2% na empresa avaliada em US$ 475 bilhões. Ao longo de duas entrevistas, ele diz que a rede social está incrivelmente próxima do seu coração e rasga elogios à liderança de Zuckerberg e da diretora de operações Sheryl Sandberg. “Estou muito orgulhoso do que Mark fez para construir uma instituição desse tamanho e valor. E vai trabalhar duro para acertar as coisas”, diz ele.

Se a serenidade de Saverin é resultado de maturidade ou de prática cuidadosa não dá para saber, mas ela parece inabalável. A Forbes perguntou, em janeiro, se ele usava o Facebook Portal, o dispositivo de vídeo-chat que a empresa tinha lançado em outubro. Ele comprou um e não o abriu, mas está otimista de que seu filho, agora pequeno, seja um entre os bilhões de usuários da rede social. “Hoje ele ainda é jovem demais, mas esperamos que isso aconteça no futuro”, diz ele.

Desde que garantiu sua fortuna – US$ 2 bilhões na época do IPO -, Saverin adotou um novo papel como capitalista de risco na B Capital. Enquanto o cofundador Ganguly cuida mais do dia a dia, o brasileiro fica responsável por todos os investimentos e supervisiona um aspecto fundamental da estratégia da companhia – os aportes no Sudeste da Ásia e na Índia. Embora mantenha um perfil mais discreto entre os principais grupos de ultrarricos em ascensão em Singapura – agora mais conhecidos graças ao filme “Podres de Ricos” (2018) – o acesso a Saverin é um componente-chave da B Capital. “As pessoas esperam que ele seja uma estrela de rock”, diz Ganguly. “E ele se senta com um empresário e começa a perguntar sobre taxas de retorno.”

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Ganguly trabalha com Saverin desde 2012, quando os amigos de Harvard – o sócio do brasileiro cursou Administração lá – se reencontraram em Singapura. Saverin já estava assinando pequenos cheques para startups, mas com Ganguly, um ex-consultor e vice-presidente da Bain Capital, ele se propôs a levantar fundos formais de investidores externos. O primeiro esforço foi a Velos Partners, um fundo de capital privado de US$ 80 milhões com uma tendência mais voltada ao consumo lançado com vários outros amigos. Mas em 2015, Ganguly e Saverin se dividiram em torno de uma nova ideia para construir uma empresa em torno de dois pontos principais: uma forte presença no sudeste da Ásia, um mercado emergente com menos concorrência nos negócios, e um intermediário para uma das empresas de consultoria mais proeminentes do mundo, o Boston Consulting Group.

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Desde o lançamento da B Capital, em 2015, Saverin e seu sócio, Raj Ganguly, têm trabalhando na implantação de seu primeiro fundo de tecnologia no valor de US$ 360 milhões

Veja o portfólio da B Capital atualmente: ele é composto por cerca de 20 investimentos, nos quais é possível notar um padrão de oportunismo internacional. Saverin e Ganguly favoreceram companhias envolvidas em comércio e logística, especialmente europeias, indianas e asiáticas, que não entraram no radar do Vale do Silício e onde seu conhecimento sobre a complexidade local pode ajudar.

Um exemplo é a Ninja Van. Provedora de logística para serviços de entrega no Sudeste Asiático, a startup baseada em Singapura emprega 2 mil pessoas e trabalha com 10 mil motoristas. É um negócio caro e complicado, mas a B Capital decidiu investir quando outros fundos se recusaram. “Eduardo e a equipe fizeram as perguntas certas”, lembra Lai Chang Wen, CEO da Ninja Van. “Eles conseguem nos fornecer uma perspectiva mais ampla sobre negócios e aspectos geográficos.”

Há, ainda, outras empresas mais tradicionais apoiadas por capital de risco nas áreas de software para saúde e negócios, onde a equipe norte-americana da B Capital lança mão de seu acesso ao BCG. Armadas com profundo conhecimento e conexões executivas, as consultorias tentaram investir em capital de risco por anos. Contudo, elas são tradicionalmente vistas como distrações dos principais negócios e, geralmente, são os primeiros projetos a serem cortados quando a economia desacelera. A grande ideia de Ganguly e Saverin era fornecer grande parte do benefício sem compromisso. O BCG é um investidor passivo na B Capital, o que significa que só chama os consultores quando os fundadores pedem. “É a cereja no topo do bolo”, diz Samir Bodas, CEO da Icertis, fabricante de software de gerenciamento de contratos de Washington que assinou pelo menos três acordos milionários por meio de conexões feitas pelos parceiros sênior no BCG.

Esses laços impressionaram a mais nova parceira da B Capital, Karen Appleton Page. A antiga executiva da Box e da Apple está se juntando ao escritório em São Francisco para dar à companhia sete sócios. Em seus primeiros dias na Box, quando ela era a oitava funcionária e administrava o desenvolvimento de negócios, ela “teria dado os dentes por essas conexões com o BCG”.

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Para aumentar ainda mais a credibilidade, Howard Morgan, cofundador da First Round Capital, conhecido por seus investimentos no Uber e na Warby Parker, largou a aposentadoria em 2017 para se tornar presidente da companhia.

A B Capital está crescendo rapidamente. Contudo, é muito cedo para dizer se o plano de Saverin é um sucesso. A empresa ainda não teve saídas (vendas de startups ou de participações nelas). Apenas cerca de meia dúzia de seus investimentos têm avaliações significativamente mais altas do que quando ela fez seus aportes. E ela entrou em sua marca mais conhecida – a empresa de aluguel de patinetes Bird – relativamente tarde. Mas Saverin e Ganguly estão otimistas. Com seu primeiro fundo quase totalmente comprometido, a B Capital vai levantar um segundo que deve ser duas vezes maior, disseram fontes à Forbes. A B Capital se recusou a comentar sobre seus planos de captação de recursos.

Ao negociar com Saverin e com a B Capital, empreendedores não poderão ter certeza se estarão com um futuro midas dos investimentos em tecnologia ou com um bilionário amador. Mas, como capitalista de risco, o brasileiro está singularmente posicionado para guiar empreendedores pelos perigos do sucesso. O Facebook implorou para que seus primeiros funcionários se “movessem rápido e quebrassem tudo”. Quinze anos depois, seu cofundador alienado oferece uma virada no velho lema: “Cometa erros o tempo todo, mas aprenda com isso imediatamente”, diz ele. “Peça desculpas se isso afetar qualquer outra pessoa e certifique-se de não repetir.”