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“Cada ano fica mais quente, e nos dois últimos anos tem sido insuportável. Como moro em uma casa sem muita ventilação próxima a um rio e à noite tem muitos pernilongos, preciso escolher entre me expor aos insetos ou derreter dentro de casa”, diz a recepcionista Renata Abreu. Ela mora em dois cômodos num bairro periférico da cidade com a mãe idosa, que tem problemas circulatórios e sofre com as altas temperaturas. As duas se viram como podem, com um ventilador que funciona aos trancos e barrancos, e toalhas umedecidas para lidar com o calor intenso.
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Renata até gostaria de comprar um ar-condicionado, mas o valor do aparelho está fora do seu orçamento atual. “Um aumento na conta de luz, que já é alta, também me preocupa”, confessa. A situação ilustra o racismo ambiental – ou seja, a forma em que populações negras e pobres são as que mais tem sofrido as consequências do aumento consistente da temperatura, que afeta a maior parte do país.
Estamos tentando viver normalmente em meio a temperaturas anormais. Mas, até quando conseguiremos? E como a tecnologia pode ajudar a enfrentar esta situação?
Nossa tolerância ao calor está no limite
No final do ano passado, estive em uma grande conferência de inovação em Londres, onde a crise climática foi a pauta principal das discussões. Entre as sessões, a que mais me chamou a atenção foi a do climatologista e especialista em eventos climáticos extremos, Tom Matthews. Ele trouxe um panorama que ilustrou a capacidade do ser humano de se manter resiliente em um cenário de temperaturas extremas, e possíveis formas de sobrevivência nesse cenário.
Além disso, a fisiologia humana tem um limite para a tolerância ao calor, que varia de acordo com a umidade do ar, explicou Matthews. Com baixa umidade, podemos tolerar temperaturas mais altas, mas a crescente umidade do ar diminui nossa tolerância ao calor, pontuou o climatologista, alertando que a humanidade está chegando muito perto do seu limite.
Com as projeções atuais de aquecimento global, Matthews previu que lugares em países emergentes – como Lagos, na Nigéria, Karachi, na Índia e Shanghai, na China – podem chegar em breve a ondas de calor que excedem o limite de tolerância humano.
Inovações para enfrentar o aumento em temperaturas
Outra ideia do climatologista faz alusão ao emprego de tecnologias ancestrais. Ele sugere resgatar métodos tradicionais de construção – desde as antigas abóbadas núbias egípcias até construções de terra batida – que podem mitigar os efeitos do calor de forma mais eficiente, especialmente em regiões em desenvolvimento. A disseminação de abrigos de calor, algo similar ao que certos países usam para se proteger de furacões, também está entre as estratégias sugeridas.
Além disso, o especialista sugere usar equipamentos de ar-condicionado que sejam alimentados por fontes renováveis de energia, para não piorar o problema da mudança climática. No entanto, ele não comentou sobre a como esta alternativa, especialmente em países fora do grupo de economias desenvolvidas, pode ser um tanto utópica.
A infraestrutura de energia de um país também precisa ser resiliente o suficiente para lidar com a crescente demanda e outros eventos climáticos extremos. Esse é um ponto mencionado na palestra que os milhões de famílias brasileiras que ficaram sem energia por dias por conta das chuvas intensas das últimas semanas, conhecem bem.
O calor extremo é um lembrete potente da nossa interdependência e da necessidade de colaboração em escala nacional e global. É importante lembrar que essa narrativa não é somente sobre a sobrevivência (e conforto) individual, mas sim sobre a construção coletiva de soluções sustentáveis, imprescindível para enfrentar um dos problemas mais urgentes dos dias atuais.
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