Dólar pode vir a R$ 5 no próximo ano, mas risco fiscal é barreira

25 de novembro de 2020
Matt Anderson Photography/GettyImages

O dólar caía 1,1%, a R$ 5,3149, nesta quarta (25), acumulando em novembro baixa de 7,4%

O cenário externo positivo continuará amparando viés de queda ao dólar no Brasil no curto prazo, mas o alívio seguirá limitado pelas incertezas fiscais domésticas, com uma taxa de R$ 5 sendo “factível” nos primeiros meses de 2021, disse Bernardo Zerbini, um dos responsáveis pela estratégia da gestão macro da gestora AZ Quest.

Além disso, a moeda permanecerá “à mercê” das sinalizações do Banco Central sobre oferta de liquidez e dos fluxos de compra de dólar decorrente do desmonte de overhedge.

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O dólar caía 1,1%, a R$ 5,3149, nesta quarta (25), acumulando em novembro baixa de 7,4%.

“Parece que o mercado ficou confortável em apostar no real, porque talvez o BC vá ofertar o volume necessário de dólares”, disse Zerbini, referindo-se à expectativa de compra de cerca de US$ 15 bilhões na virada do ano por causa do desmonte do overhedge.

Um fator de apoio ao câmbio, segundo Zerbini, poderia vir de eventual aumento de juros em 2021. Mas ele ponderou que esse movimento teria de ser para “normalizar” a política monetária, mirando a inflação, e não por deterioração da percepção de risco oriunda de piora nas expectativas fiscais.

“Você começaria a tentar equiparar o Brasil em termos de carry (retorno de taxa de juros) aos demais pares, como África do Sul e México”, afirmou o gestor.

Os contratos NDFs de real para um ano trazem taxa implícita de 2,2% ao ano, enquanto taxas de juros equivalentes para o rand sul-africano e peso mexicano estão em 4,3%. O rating mexicano está acima do brasileiro e, apesar da mesma classificação de risco da África do Sul, o Brasil oferece praticamente a metade do carry do país africano.

Zerbini avalia que nos atuais preços os ativos brasileiros têm potencial de valorização caso a classe política tire um “coelho da cartola”, com eventual maior empenho para as reformas estruturantes.

“Nosso cenário-base é não haver quebra do teto de gastos, mas sem coelho da cartola. O auxílio emergencial não deverá ser renovado, mas é preciso caminhar para aprovação da PEC emergencial”, disse.

Com um dólar a R$ 5 nos primeiros três meses de 2021, a curva de juros, que segue bastante inclinada, poderia ver alívio de prêmio, com redução de 30 pontos-base a 40 pontos-base no spread entre os vencimentos de DI janeiro de 2027 e janeiro de 2022, hoje em 434 pontos-base, próximo do pico deste ano de 449 pontos-base, alcançado em meados de abril.

“Considerando o que subiu, é um alívio bem discreto”, finalizou Zerbini. No começo de fevereiro, antes da pandemia, essa inclinação estava em 145 pontos-base e chegou a marcar uma mínima pós-pandemia de 332 pontos-base. (Com Reuters)

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