O movimento é uma aposta de diversos investidores diante de uma reforma regulatória prometida pelo governo do presidente Jair Bolsonaro, que se aprovada permitiria que até pequenos consumidores residenciais possam negociar livremente sua própria energia no médio prazo.
De olho nessa perspectiva, empresas de comercialização de energia – que incluem um braço da elétrica italiana Enel, entre centenas de outras – têm buscado formas de disputar clientes de menor porte, que segundo especialistas deverão puxar a expansão do mercado nos próximos anos.
O chefe do BTG para comercialização de energia, Manuel Gorito, disse que o banco pretende usar sua plataforma digital já existente voltada a pequenas e médias empresas (PMEs) para ganhar escala e competitividade frente a rivais.
“Nossa ambição nesse produto para PMEs é ser um dos maiores ‘players’ desse mercado”, afirmou à Reuters.
As comercializadoras oferecem em geral descontos de até 30% em relação ao custo de contratação de energia junto a uma distribuidora, no chamado mercado regulado. O cliente ainda pode escolher prazo de fornecimento e até a fonte de geração, a depender dos pacotes negociados.
Já os consumidores aptos a negociar energia no mercado livre eram mais de 8,5 mil ao final do ano passado, alta de 20% na comparação anual. A expansão foi guiada principalmente por clientes de menor carga, conhecidos como consumidores especiais, com crescimento de 68% ano a ano, segundo a CCEE.
A estratégia do BTG para aproveitar o forte momento do setor de comercialização ainda passa pelo uso da rede de agentes autônomos do banco e pela contratação de consultores especializados na atração de novos consumidores livres, disse Artur Hannud, também sócio da mesa de energia.
“Vemos espaço para a entrada de empresas de menor porte nesse mercado. Mantendo a regulação vigente, estimamos que cerca de 20 mil clientes estejam aptos a migrar para o mercado livre.”
A empresa chegou até mesmo a participar da “Black Friday” em 2020, quando ofereceu descontos especiais para novos clientes.
“A expansão do mercado livre é uma tendência no setor elétrico brasileiro com a modernização do marco regulatório…consideramos que, no futuro, o principal ‘driver’ de crescimento será o segmento do varejo”, disse à Reuters o chefe da Enel Trading, Javier Alonso, em nota.
Disputa Acirrada
A empresa contratou a ex-CEO da rede varejista de alimentação Mundo Verde, Claudia Abreu, para chefiar uma nova unidade voltada à captação de clientes menores.
“Nós configuramos um ‘approach’ comercial mais agressivo. Começamos a entender que nós falávamos muito ‘energês'”, disse à Reuters o CEO da 2W, Claudio Ribeiro.
Ele explicou que a empresa também desenvolveu um aplicativo e expandiu a atuação com agentes autônomos.
O mercado cresceria ainda mais rápido no futuro se aprovada uma reforma do setor elétrico que tramita no Congresso. Apoiado pelo Ministério de Minas e Energia, o projeto prevê redução gradual de exigências para que empresas atuem no mercado livre, até uma liberalização total do mercado após 42 meses. (Com Reuters)
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