Em uma salinha pequena, na companhia de mais duas colegas, Maria Cláudia também desenhou uniformes, organizou eventos e cresceu no mundo corporativo, tornando-se diretora de marketing. Mais do que um negócio pelo qual nutria satisfação, a TAM era para ela um local de afeto, um empreendimento familiar. Após o falecimento do pai, em um acidente de helicóptero em 2001, teve que lidar ainda mais profundamente com seu forte senso de responsabilidade pela empresa e migrou para o conselho de administração. Junto com sua mãe e seu irmão, aprendeu a olhar o negócio de outra forma, sob a ótica das regras que definem uma boa governança.
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“A escola não sabia como olhar para uma criança que não tivesse o foco em matemática e sim em artes, por exemplo”, explica a empreendedora. Em paralelo a esse insight, decidiu visitar a ONG Casa do Zezinho, no Capão Redondo, bairro do extremo da zona sul, e começou a entender um pouco a realidade educacional das periferias de São Paulo. “Notei que eles trabalhavam com muito afeto para acolher as crianças. Percebi o quanto o carinho, junto com a pedagogia, é algo transformador.”
Emocionada por uma realidade que até então estava distante de seus olhos, Maria Cláudia se afastou de vez do mundo corporativo e decidiu mergulhar nesse novo universo. “Entrei em grupos de mães, fui conversar com pessoas da área e viajei para saber o que tinha de diferente na área da educação ao redor do mundo.” Seu primeiro pensamento era criar uma escola própria, e para isso precisava entender quais eram as dificuldades e as possíveis soluções de um setor tão complexo. “O Brasil é multicultural. A realidade de uma criança de São Paulo é diferente de uma do interior do Mato Grosso. Eu precisava entender o que de fato poderia ser implantado.”
Em meio a todas as complexidades que encontrou pelo caminho, a empreendedora lembrou de um forte pensamento da época em que trabalhava na LATAM. “No setor aéreo, a gente costuma dizer: o bilhete da ida nós vendemos, o da volta quem vai vender é a tripulação.” De certa forma, isso fez com que ela percebesse que na educação o raciocínio poderia ser parecido. “Quando a porta da sala fecha, o trabalho é com o professor. Temos que olhar para eles de forma profissional e certeira para que os alunos sintam-se acolhidos.” Essa reflexão deu origem à Rhyzos Educação.
Fundada no final de 2017, a Rhyzos tem como objetivo criar, desenvolver, apoiar e investir em negócios e iniciativas de educação básica. Por meio de workshops, oficinas e cursos, o projeto incentiva práticas como o design thinking e o bilinguismo durante o processo de aprendizado. “Queremos modernizar a educação sem que isso caia em uma moda passageira. Nós impactamos a vida de seres humanos, precisa ser algo sério”, destaca.
O bilinguismo, por exemplo, sempre foi uma questão valorizada em seus estudos. “Desde sempre meu pensamento foi: seja qual for o meu projeto, precisa ser bilíngue. Faz parte da minha crença pessoal sobre as oportunidades de mundo que aparecem para as pessoas que possuem um segundo idioma.” Na Rhyzos, a empreendedora já conseguia trabalhar efetivamente com a prática. No entanto, as coisas avançaram ainda mais quando se deparou com o TWICE.
Idealizado pela pedagoga Ana Gurgel, o projeto propõe uma imersão total do inglês na grade curricular estudantil, mais especificamente até o final do Ensino Fundamental II. “Na minha época, o curso de inglês era separado da escola convencional. Já no TWICE, as crianças não têm aulas ‘de’ inglês, e sim ‘em’ inglês. São aulas de matemática, ciências e geografia, por exemplo, todas com vocabulário estrangeiro”, explica Maria Cláudia. Impressionada com o impacto que o método pode gerar, a empresária adquiriu o TWICE, que agora faz parte do portfólio de negócios da Rhyzos Educação.
Pensando em escalar a iniciativa para diversos estados brasileiros, a empreendedora transformou o projeto em um modelo de franquia. “O franqueado paga a taxa de franquia e já pode começar a trabalhar com as escolas da sua região”, destaca, explicando como a prestação de serviços ocorre. “Quando uma escola decide implantar o TWICE na sua grade, nós entramos com treinamento e material didático para preparar os professores para a nova prática.”
Quanto ao potencial financeiro do negócio, Maria Cláudia explica que a renda da franquia vem das mensalidades que as escolas pagam por aluno pelo serviço, enquanto a Rhyzos ganha com as taxas de franquia e com os royalties mensais. “Trabalhamos em 2020 para montar esse modelo e já temos 20 escolas adeptas do serviço.” Com otimismo persistente mesmo em um cenário incerto de estudos online por conta da pandemia, a empreendedora espera um faturamento de R$ 20 milhões em 2021.
Maria Cláudia também espera conseguir impactar cerca de 100 mil estudantes em todas as regiões do estado de São Paulo. “Ao conquistarmos a maior cidade do país, conseguiremos avançar pelo Brasil.” Além disso, o contato com as escolas da periferia, grande responsável pela transformação de sua vida, ainda segue como uma ideia fixa. “Meu grande objetivo é montar um sistema de bolsas dentro dessas escolas que já adotam o sistema TWICE. O que eu quero para as minhas filhas, quero para todos os jovens brasileiros.”
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