Concorrente do ethereum, NBA Top Shot aposta em NFTs e levanta US$ 2,6 bilhões em financiamento

31 de março de 2021
Reprodução/Forbes

Em cinco meses, a plataforma colecionável baseada em blockchain já processou US$ 460 milhões em vendas

A NBA Top Shot está em alta nos EUA. Em cinco meses de funcionamento para o público, a plataforma colecionável baseada em blockchain já processou milhões de transações e US$ 460 milhões em vendas no mercado secundário. Agora, com o interesse dos colecionadores em NFTs (Tokens Não Fungíveis, em tradução livre do inglês) em franca expansão, o criador da plataforma tem uma estatística de cair o queixo. 

A Dapper Labs arrecadou US$ 305 milhões em uma rodada liderada pela empresa de investimentos focada em tecnologia Coatue, avaliando a startup de apenas três anos em US$ 2,6 bilhões, disse à Forbes uma pessoa com conhecimento do negócio. A rodada traz o financiamento total levantado pela startup sediada em Vancouver para US$ 357 milhões.

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“Isso é apenas mais combustível no tanque”, disse Roham Gharegozlou, CEO e fundador da Dapper Labs, caracterizando o financiamento como “uma grande aposta em plataformas abertas.”

Essa é também uma grande aposta nos NFTs, ativos digitais não fungíveis que podem ser comprados e vendidos usando a tecnologia de registro distribuído, conhecida como blockchain. Para a NBA Top Shot, isso significa vender destaques de vídeos – ou momentos, como ela os chama – que são montados pela NBA e vendidos em pacotes como uma espécie de card esportivo digital. Os preços dos pacotes variam de acordo com a raridade dos clipes e variam de US$ 9 a US$ 230 por três a dez, ou mais, momentos registrados.

A Dapper Labs também recebe uma parte das negociações feitas entre os usuários, arrecadando 5% de cada transação no mercado secundário, como no “momento” do astro LeBron James, que foi negociado por US$ 208 milhões no último mês. Os preços são voláteis, influenciados noite após noite pelo desempenho dos jogadores, lesões, negócios ou, ainda, pelo volume das negociações. Mas a demanda está crescendo: nos últimos 30 dias, a Top Shot intermediou mais de US$ 200 milhões em negociações secundárias, um ritmo que implica em taxas de US$ 120 milhões anuais para a Dapper Labs, além do dinheiro que arrecada com as vendas dos pacotes de serviços. Até o momento, isso totalizou quase US$ 49 milhões, de acordo com os preços e quantidades listadas em seu website. A empresa divide todos os recursos com a NBA e com a National Basketball Players Association.

Mirando no crescimento e adoção de criptomoedas como o bitcoin, o mercado de NFT quase quadruplicou de valor em 2020, chegando a US$ 250 milhões, de acordo com um relatório do site News Bitcoin, com varejistas e empresas de entretenimento explorando possibilidades. Mas esse foi apenas o começo. Artistas musicais, incluindo Mike Shinoda e Kings of Leon, lançaram músicas ou álbuns inteiros como NFTs nas últimas semanas. A mania culminou neste mês na venda de US$ 69,3 milhões de uma composição feita por Mike Winkelmann, artista digital conhecido como Beeple, em um leilão da Christie’s.

A Top Shot foi abrindo o caminho. O aplicativo agora tem mais de 800 mil contas registradas, e 338 mil desses usuários possuem pelo menos um “momento”, o que garante à plataforma uma grandiosidade maior do que qualquer outro projeto NFT.

“Não havia como ter previsto isso, e se alguém disser que sim, estaria mentindo”, diz Andre Iguodala, veterano do Miami Heat, que inicialmente investiu no Dapper Labs no verão passado e também se juntou à nova rodada de financiamento.

Outros investidores nesta rodada incluem Andreessen Horowitz, Chernin Group, Union Square Ventures e Venrock, bem como dois donos de times da NBA: a lenda do basquete Michael Jordan, dono do Charlotte Hornets, e Vivek Ranadivé, do Sacramento Kings. Mais de 30 atletas profissionais, como o atacante do Brooklyn Nets, Kevin Durant, o terceiro base do St. Louis Cardinals, Nolan Arenado, e o recebedor do Buffalo Bills, Stefon Diggs, também participaram da rodada.

A Top Shot não é a primeira tentativa de Gharegozlou em um negócio voltado para NFTs. Um esforço anterior, com um jogo chamado CryptoKitties, que permitia aos usuários coletar e criar gatos como NFTs, sobrecarregou o blockchain ethereum em que operava. O custo para concluir uma transação estava vinculado ao tráfego no sistema e, com a sobrecarga, esse custo disparou de frações de centavos para vários dólares. O interesse do usuário diminuiu rapidamente.

O empresário formou a Dapper Labs em 2018, levando o IP, a equipe e a tecnologia por trás dos CryptoKitties com ele, mas logo decidiu construir sua própria plataforma de blockchain, o Flow, em vez de repetir a experiência com o ethereum. Ela foi lançada no ano passado, não muito antes da Top Shot começar em versão beta privada e limitada. A plataforma foi aberta ao público em outubro e até agora provou ser capaz de lidar com uma base de usuários que, segundo Gharegozlou, cresceu 20 vezes nos últimos dois meses.

“O volume de transações que realizávamos em um ano, fazemos agora em um dia na Top Shot”, diz o CEO da Dapper Labs sobre a diferença com os CryptoKitties. A Warner Music Group e a desenvolvedora de jogos, Animoca, estão entre as empresas que desenvolvem produtos no Flow, enquanto o marketplace de criptomoedas VIV3.com já roda na plataforma.

Contudo, ainda existem desafios para a Top Shot. Os usuários têm reclamado de atrasos no lançamento de pacotes e interrupções no site, bem como de bots, (um problema onipresente no e-commerce que contribuiu para longas filas que desencorajam alguns aspirantes a colecionadores). O lançamento de um pacote gerou uma fila de 400 mil usuários, muitos deles acabaram de mãos vazias. O processo de saques das contas também gerou críticas de lentidão devido à exigência da empresa de que os usuários sejam confirmados antes de poder retirar dinheiro. A regra tem como objetivo evitar a lavagem de dinheiro e manter a empresa em conformidade com os regulamentos financeiros, mas o recente aumento na base de usuários gerou um grande acúmulo para a equipe de aprovação, o que significa que dezenas de milhares de usuários tinham dinheiro em suas contas da plataforma que não poderia ser transferido para o mundo real.

Gharegozlou diz que nas últimas duas semanas, a Top Shot reduziu o número de tickets de serviço em 90% e quadruplicou o tamanho de sua equipe de proteção e conformidade contra fraudes, com planos de dobrar novamente na próxima semana. A empresa também escreveu em seu blog no último sábado (27) que o número de usuários com permissão para saques ultrapassou 28 mil, um aumento de 450% em quatro semanas. A Dapper, por sua vez, experimentou limitar o número de novos usuários e a frequência das negociações para resolver alguns dos problemas associados ao fluxo de usuários.

Parte do dinheiro arrecadado recentemente será usado para resolver a fundo esses problemas e adicionar novos recursos à Top Shot, mas Gharegozlou também está procurando atrair desenvolvedores terceirizados para o Flow e fechar acordos com outros detentores de IP em esportes e entretenimento para replicar o modelo da Top Shot. A empresa já anunciou parcerias com a WNBA e com o UFC.

“Não estamos focados em apressar as coisas, copiando e colando estratégias”, afirma o empresário. “Entendemos porque a Top Shot funciona, e isso se tornará uma economia sustentável, isso é realmente endêmico para o basquete”, acrescentando que “nós queremos ser, você sabe, a moeda do fandom”, em referência à expressão utilizada para designar o “reino dos fãs”.

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