Victor Hugo, de 23 anos, é um dos jogadores desses criptogames. Ele deu o primeiro passo no Axie Infinity, um videogame online baseado em NFT (Non-fungible token), ou artes digitais únicas e criptografadas, em que usuários criam equipes de axies (personagens) para duelar com outros jogadores.
Ele conta que começou a jogar com o amigo Luiz Felipe, de 24 anos. Juntos investiram R$ 11 mil para comprar a primeira equipe de personagens. “O investimento para começar [a jogar] era muito caro, então resolvi dividir uma conta com ele”, diz Hugo. Após um cinco meses jogando cerca de duas a três horas por dia, ele recebeu o retorno dos R$ 5,5 mil que havia aplicado para brincar inicialmente, e decidiu jogar sozinho, sem Felipe, já agora, em setembro. “Usamos esse montante para comprar um novo time. Cada um ficou com o seu e seguimos nossa estratégia de forma individual”.
Foi o investimento em criptomoedas que levou Hugo a esse tipo de jogo. No começo, ele investiu no ativo por meio de corretoras. “Já aportei aproximadamente R$ 6 mil desde janeiro (quando fez o primeiro investimento) em bitcoin e ethereum”, diz, se referindo a duas criptomoedas. Ao perceber que poderia misturar os seus dois maiores hobbies, investir e jogar videogame, conta que não pensou duas vezes e baixou o Axie Inifiny.
O jogador diz que, sozinho, terá uma nova estratégia. “Agora, usarei das minhas próximas receitas, dividindo 50% em ETH [ethereum] e 50% na própria criptomoeda do jogo [a AXS], e pensando em uma valorização futura e de longo prazo.” O jogo permite que os usuários saquem o retorno financeiro a cada 15 dias.
De acordo com o site de análise de criptomoedas CoinmarketCap, entre 1º de setembro e quarta-feira, o ETH se caiu 9,45%, e estava custando ontem (29), às 14h41, horário de Brasília, US$ 2.844,48, enquanto o AXS tombou 20,62% no último mês, e está cotado no mesmo horário, a US$ 73,86.
O Axie Infinity, por exemplo, em 23 de setembro, mudou a taxa de criação dos monstros Axies, diminuindo o uso da cripto AXS de duas para uma. Considerando a cotação de ontem, ao invés de pagar US$ 147,72, o usuário pagará US$ 73,86 para comprar um personagem.
Ao mesmo tempo, a vantagem em usar essa tecnologia para os desenvolvedores é que os jogadores conseguem comprar e vender seus produtos em diferentes plataformas. “Antes, só conseguiam realizar compras de artefatos ou vestimentas de personagens na plataforma em que jogo está rodando”, aponta Igor Hosse, professor da Universidade Anhembi Morumbi. “Isso chama ainda mais a atenção do público.”
Por exemplo, há anúncios de monstros axies na internet por R$ 1 mil. “Essa possibilidade existe porque os personagens são NFTs e possuem um código único em que podem ser comercializados”, diz Tatiana.
Interoperabilidade
“O blockchain, por criar uma padronização no desenvolvimento de um jogo, possibilita que usuários usem produtos em games de diferentes produtoras”, diz Tatiana. O blockchain possui SDKs (Software Development Kit), um conjunto de ferramentas que possibilita a criação de aplicativos que interajam entre si. “E é dessa forma que usuários utilizam os mesmos ícones em diversos jogos”, explica Igor Hosse, professor da Universidade Anhembi Morumbi. “Se um usuário gostar de uma espada flamejante com bons danos de ataque ou da vestimenta de um avatar, agora poderá usar esses objetos em vários jogos”, diz.
O risco existe
De acordo com a professora do Insper, porém, “se um desenvolvedor criar um jogo, mas não criar um design que estimule a participação de novos usuários, a quantidade de players pode diminuir e, consequentemente, desvalorizar a criptomoeda”.
“Eu reconheço 100% o risco e sei que literalmente do dia para a noite o investimento que eu fiz [de R$ 5,5 mil] pode acabar totalmente”, afirma Hugo. “Mas eu acredito que não vai acontecer [com o Axie Infinity]”. Entre 4 de setembro e 21 de setembro, a AXS caiu 45,20%
Já os jogos vinculados a criptomoedas são diferentes. O preço da moeda digital pode variar de acordo com a oferta e a demanda relacionadas ao ativo. Essa variação se dá por meio dos jogadores, que utilizam as criptos para realizar aquisições no jogo, e possuem uma carteira virtual, “como se fosse um software que permite realizar transações eletrônicas em uma rede de cripto, [como o blockchain ethereum]”, afirma a pesquisa.
Anti-hackers
Tatiana explica que o blockchain é um sistema extremamente difícil de ser hackeado, “porque, diferentemente de um banco em que os dados são armazenados em um único local que um hacker precisa invadir, com o blockchain é como se existissem diversos locais [de armazenamento] ao redor do mundo e, assim, o invasor precisaria ter um aparelhagem técnica muito avançada para hackear o sistema.”
Ela destaca, porém, que o risco maior é a carteira digital, lugar onde o jogador guarda suas criptos. Para a professora do Insper, as formas de se proteger são “usar um computador para jogar e outro para as atividades pessoais, certificar de que o jogo está rodando em um blockchain de confiança e que o sistema está consolidado no mercado.”
Hosse enxerga um futuro promissor para o mercado de video-games. “Principalmente os jogos que oferecem a venda de itens, migrar para um sistema que facilita as transações financeiras e atrai mais jogadores pode ser um bom caminho para o futuro. Vale destacar que um desenvolvedor pode criar seu jogo em plataformas diferentes e rodar apenas as transações financeiras com a tecnologia blockchain.”
A Forbes separou seis jogos que utilizam a tecnologia blockchain para funcionar e operam com diferentes criptomoedas.
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