Com alquimia financeira, um monte de dívidas baratas e um arguto parceiro de aquisição – o bilionário co-CEO da Silver Lake, Egon Durban –, Dell conseguiu elevar o valor das ações da Dell Technologies de US$ 3,6 bilhões em 2013 para US$ 39 bilhões atualmente. O patrimônio líquido total de Dell, que ultrapassou US$ 50 bilhões recentemente, mais do que triplicou em menos de uma década.
Se antes corria o risco de ficar para trás, a Dell Technologies tem hoje uma capitalização de mercado de quase US$ 80 bilhões.
Na quarta-feira passada, a Dell Technologies disse que vai fazer um spin-off do ativo que é sua joia da coroa – uma participação de 81% na VMWare, gigante de infraestrutura na nuvem – para acionistas públicos. A manobra, que deve ser concluída este ano, vai simplificar e desalavancar o império tecnológico de Dell. Também oferecerá uma visão mais clara de sua proeza nas negociações.
Quando Dell fechou o capital de sua empresa, em 2013, ele detinha 15,6% das ações totais em circulação, no valor de cerca de US$ 3,6 bilhões, com base nos termos da LBO. A participação valia uma ninharia em relação ao apogeu de Dell, mas representava uma oportunidade. Com US$ 9 bilhões em dinheiro na época, a empresa de PCs de Dell e seus pesados investimentos em infraestrutura de tecnologia e software estavam subavaliados. Em vez de passar anos tentando recuperar o entusiasmo pelas ações, Dell fez uma parceria com a Silver Lake em uma aquisição recorde, colocando suas ações e US$ 750 milhões de seu dinheiro na transação. O ativista bilionário Carl Icahn protestou e organizou um grupo de acionistas para resistir à aquisição. Dell e a Silver Lake venceram a batalha brutal aumentando ligeiramente seu preço.
Depois de passar alguns anos pagando os US$ 15 bilhões em dívidas usadas para financiar a LBO, a Dell e a Silver Lake encontraram um alvo ainda mais subavaliado. Em 2016, elas arquitetaram a aquisição, por US$ 67 bilhões, do conglomerado de tecnologia EMC, uma empresa com mais do que o dobro de seu tamanho. A aquisição aumentou a escala dos negócios de infraestrutura da Dell e propiciou a ela o controle de uma série de subsidiárias valiosas, como a empresa de segurança cibernética RSA e a de software na nuvem Pivotal. A joia oculta era a participação de 81% da EMC na VMWare, pioneira na virtualização de infraestrutura de tecnologia corporativa.
O negócio foi magistral. O valor da VMWare disparou com a adoção da infraestrutura de computação na nuvem por departamentos de TI de todo o mundo. E, mais uma vez, a Dell e a Silver Lake encontraram um ativo subavaliado para atacar.
O tracking stock que representava 53% da participação na VMWare não conseguia acompanhar a alta valorização das ações da empresa, às vezes sendo negociado com descontos de cerca de 40%. De maneira oportunista, a Dell e a Silver Lake esquematizaram uma transação para tirá-lo de circulação com um grande desconto, o que deixou irados os “policiais” de Wall Street – o bilionário Carl Icahn e a Elliott Management, de Paul Singer. Depois de uma discussão pública, a Dell e a Silver Lake tiraram o tracking stock de circulação por cerca de 80 centavos de dólar, embolsando um valor bilionário por seu gigantesco experimento de LBO.
Nessa fase, a engenharia financeira era inédita. Para retirar o tracking stock de circulação, a VMWare pagou um dividendo especial de US$ 11 bilhões a seus acionistas. O público embolsou US$ 2 bilhões, enquanto a Dell, proprietária de 81% da VMWare, embolsou US$ 9 bilhões. Usando o dividendo mais US$ 5 bilhões em novas dívidas e trocando uma parte da participação em seu projeto de LBO, agora denominada Dell Technologies, eles compraram o tracking stock.
Na cena final do show de mágica financeira, Michael Dell está reduzindo a complexidade, pagando dívidas e voltando à estaca zero, embora seja agora um homem muito mais rico.
A Dell Technologies vai distribuir em breve sua participação de 81% na VMWare aos acionistas e pagar mais de US$ 14 bilhões em dívidas nos próximos 12 meses, segundo analistas. Michael Dell terá, então, grandes participações em duas potências tecnológicas de capital aberto.
Ele deterá 52% da Dell Technologies e 42% da VMWare, que atualmente é negociada a uma capitalização de mercado de cerca de US$ 70 bilhões. Só as ações da VMWare pertencentes a Dell devem valer cerca de US$ 25 bilhões a preços atuais. E não aposte contra a Dell Technologies, a empresa que estava precisando ser repaginada quando a aventura da LBO começou, em 2013.
Ela estará longe de ser uma entidade problemática, repleta de dívidas, como empresa autônoma. O Morgan Stanley prevê que a Dell Technologies gerará lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) de US$ 13 bilhões em 2021 e que a dívida principal terminará o período em cerca de US$ 10 bilhões. As vendas de PCs estão apresentando um crescimento robusto com a ajuda da tendência do trabalho em casa, e a empresa tem feito pesados investimentos em tendências como a mudança para a nuvem. No caso de uma avaliação da Dell Technologies a um valor de empresa de sete vezes o Ebitda, isso a levaria ao patamar de US$ 48 bilhões. Michael Dell teria ações no valor de cerca de US$ 25 bilhões.
No momento, o mercado dá à Dell Technologies uma avaliação de US$ 101 por ação, fazendo com que os 385 milhões de ações de Michael Dell valham em torno de US$ 39 bilhões. Pela primeira vez, não há grandes descontos a explorar no mercado. Há paz entre os acionistas, crescimento para capitalizar e um tesouro de ativos valiosos remanescentes.
Ao valor de US$ 39 bilhões, as ações de Michael Dell correspondem a mais de cinco vezes o dinheiro e as ações que ele investiu na transação. A Silver Lake obteve uma taxa de retorno semelhante sobre os bilhões que investiu. É a aquisição da década.
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