O mais recente é a 777 Partners, uma empresa de investimentos privados com sede em Miami que anunciou na semana passada a compra da Gênova C.F.C. em um negócio que, de acordo com uma pessoa com conhecimento da transação, envolve a aquisição de 99,9% do clube a uma avaliação de € 150 milhões (US$ 175 milhões), incluindo dívidas. Seis das 20 equipes da Série A, mais dois outros clubes da Série B, agora serão controlados por investidores ou grupos de investimentos norte-americanos que assumirão o comando dos times nos próximos três anos e meio.
Três desses investidores vêm do mundo dos fundos de private equity e hedge, parte de uma tendência mais ampla que tem visto gestores muito familiarizados com ativos problemáticos e nada familiarizados com times esportivos apostando no futebol europeu.
Os investidores acreditam que as equipes italianas estão subvalorizadas em comparação às outras ligas, principalmente com a queda nos preços durante a pandemia. “Vemos uma oportunidade maior de crescimento aqui por causa do estágio de desenvolvimento”, disse Juan Arciniegas, diretor-gerente da 777 Partners, à Forbes. Mas também existem riscos reais no futebol europeu em geral, e na Itália em particular.
As vantagens são óbvias. O futebol é um esporte global e está ficando cada vez maior. Novas empresas estão entrando na batalha pelos direitos de transmissão dos jogos, o que pode aumentar as taxas, e novas oportunidades de negócios – como NFTs (tokens não fungíveis, na sigla em inglês) – estão criando novos fluxos de receita.
A cada temporada, os times italianos têm direito a quatro vagas, bastante rentáveis, na Champions League (Liga dos Campeões, o campeonato europeu), o mesmo número da Premier League e da La Liga, e uma a mais do que a francesa Ligue 1. Além disso, o campeonato italiano da primeira divisão tem pouca competição por atenção, uma vez que o futebol está firmemente entrincheirado como o principal esporte do país. Não é o caso da Inglaterra, por exemplo, onde críquete, tênis e rúgbi também disputam os holofotes.
Ainda assim, a demanda atual por clubes italianos se reduz a dois fatores principais, segundo os investidores. O primeiro é a escassez: simplesmente não há tantos clubes de primeira linha na Europa, e a legislação da Alemanha limita ainda mais os potenciais alvos de investimento ao exigir que os clubes da Bundesliga (campeonato alemão) sejam controlados por torcedores. Somado a isso, os recentes problemas financeiros do futebol italiano, que foram agravados pela pandemia, colocaram muitos times à venda.
O segundo fator importante é o preço. De acordo com o Financial Times, a Elliott adquiriu a Milan em 2018 por cerca de € 400 milhões (US$ 470 milhões no câmbio de hoje) e a pandemia está reduzindo ainda mais os preços de alguns clubes. Em comparação, a Premier League, mais madura financeiramente, tem oito equipes avaliadas em mais de US$ 500 milhões, e seis que valem mais de US$ 2 bilhões, de acordo com a lista da Forbes dos times de futebol mais valiosos de 2021.
Mas, mesmo com preços mais baixos, fazer as equipes italianas crescer não será fácil. Mesmo os clubes bem-sucedidos da Série A têm lutado para atrair grandes marcas globais como patrocinadores. Além disso, a grande maioria joga em estádios antigos que pareceriam decrépitos para os padrões norte-americanos, o que diminui as receitas de bilheteria, alimentação e merchandise dos jogos. O estado das arenas também desestimula os clubes de aumentar os preços dos ingressos, o que os deixaria acima dos baixos níveis comuns em toda a Europa.
“É o momento perfeito, com sorte, para o sistema político italiano entender que as coisas precisam mudar se eles querem ter uma Série A competitiva contra o futebol inglês, espanhol e alemão”, afirmou Commisso à Forbes.
Essas desvantagens forçam os times italianos a depender mais das receitas de mídia em comparação com os clubes de ligas rivais e, ainda assim, a Itália está atrasada em seus esforços de monetização. A Serie A tinha como meta aumentar 20% seus direitos transmissão pelos canais italianos neste ano, mas acabou fechando um acordo de três anos com a DAZN por US$ 995 milhões anuais, uma queda de 13% em relação aos US$ 1,14 bilhão de seu acordo anterior com a Sky. O valor também foi substancialmente menor do que os US$ 1,29 bilhão que a Bundesliga recebeu da DAZN e da Sky no ano passado, e do que os US$ 2,3 bilhões da Premier League. (A liga italiana suavizou as perdas ao conseguir US$ 75 milhões anuais em um recente acordo de três anos com a ViacomCBS por seus direitos de transmissão nos Estados Unidos.)
Os problemas de receita são agravados pelos Regulamentos de Fair Play Financeiro do futebol europeu, que visam manter os clubes longe de problemas de caixa e, basicamente, exigem que eles não gastem mais do que ganham. Na prática, no entanto, as regras obrigam as equipes com baixa receita a manter suas folhas de pagamento pequenas, prejudicando seu desempenho em campo – o que, por sua vez, garante que as receitas permanecerão baixas e que o ciclo se reiniciará.
Isso não significa que Commisso esteja desistindo. Ele reconhece que o sucesso exige tempo e dinheiro. Mas afirma que sua história pessoal de ter nascido na Itália e jogado futebol na Universidade de Columbia, nos EUA, o diferencia dos outros proprietários americanos, já que ele não está investindo no esporte para ganhar retorno financeiro. Comisso está construindo um centro de treinamento de € 70 milhões chamado Viola Park.
As firmas de private equity e os fundos de hedge que entraram na liga ao lado dele terão o mesmo tipo de paciência? Arciniegas, pelo menos, diz que o 777 está pronto para o desafio em Gênova. “Vamos fazer o que precisa ser feito. Acho que as oportunidades estão aí para quem estiver disposto a aproveitá-las. O fato de o clube ter tido um desempenho inferior nos últimos anos apenas nos tornou mais capazes de fazer a diferença. ”
Outro caso do tipo pode surgir em breve Sob pressão financeira, o grupo dono da Inter de Milão, o chinês Suning Holdings, fechou um empréstimo de US$ 336 milhões em maio. Quem assumirá o controle do clube se Suning entrar em default? A Oaktree Capital, com sede em Los Angeles.
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