O Ibovespa encerrou o dia de hoje (21) em queda de 2,75%, a 107.735 pontos, o menor patamar de fechamento dos últimos 11 meses, depois de um pregão de forte volatilidade que viu o índice chegar à marca dos 105.713 pontos. A confirmação dos planos do governo de contornar o teto de gastos para expandir o novo Bolsa Família foi o principal motivo da queda, com investidores e instituições piorando suas projeções macroeconômicas para os próximos meses.
O dólar fechou sob o impacto do risco fiscal e subiu 2%, a R$ 5,6697 na venda, a cotação mais alta dos últimos seis meses.
Também pesou sobre o índice a discussão em torno da PEC dos Precatórios, cuja votação estava prevista inicialmente para terça-feira (19). A proposta de emenda à Constituição busca reduzir os valores que devem ser usados para pagar esses títulos, que correspondem a R$ 89 bilhões no orçamento de 2022.
O novo parecer do relator Hugo Motta (Republicanos-PB) propõe modificar o período usado para o cálculo da correção do teto de gastos. Atualmente, para atualizar os valores do orçamento de um ano para o outro, considera-se a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apurado entre julho de um ano e junho do ano seguinte.
O documento propõe que o período passe a ser considerado entre janeiro e dezembro, abrindo assim espaço para mais R$ 84 bilhões em despesas em 2022, sendo que parte desse valor seria usada para bancar o Auxílio Brasil, programa social que substituiria o Bolsa Família. A nova regra também limitaria o montante a ser destinado aos precatórios.
Repercussão no mercado
Após declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, confirmando os planos do Executivo de mudar a regra do teto de gastos, agentes do mercado pioraram as projeções macroeconômicas para 2022, que já eram desanimadoras por causa da combinação de inflação e juros em alta. O JPMorgan passou a prever aumento de 1,25 ponto percentual da Selic, com a taxa básica de juros chegando a 9,75% ao ano em fevereiro de 2022.
“O maior impacto é nos contratos de DI futuro que projetam taxa Selic ainda mais alta nos próximos meses”, afirma João Beck, economista e sócio da BRA. Ele acrescenta que o Banco Central precisará subir ainda mais os juros para segurar o capital no país. “Juros mais altos encarecem os encargos da dívida”, diz.
Uma medida do risco-país subiu nesta quinta-feira ao maior nível em mais de seis meses. O CDS (credit default swap, em inglês) de cinco anos do Brasil bateu 211,200 pontos-base, ante 210,710 pontos-base da véspera, atingindo o patamar mais alto desde 14 de abril (214,270).
O derivativo funciona como uma espécie de seguro contra o calote de uma dívida – seja soberana ou corporativa – e tem precificação baseada no risco de base dos Treasuries, os títulos do governo dos EUA, que são considerados o ativo mais seguro do mundo.
O Dow Jones encerrou o pregão com variação negativa de 0,02%, a 35.603 pontos nesta quinta-feira em meio a uma queda expressiva dos papéis da IBM após um balanço trimestral decepcionante da empresa. O Nasdaq, por sua vez, cresceu 0,62%, a 15.215 pontos.
O S&P 500 subiu 0,30%, a 4.549 pontos, e registrou sua sétima sessão consecutiva de ganhos. O setor de consumo discricionário foi o que apresentou o maior avanço percentual na sessão, enquanto as ações de energia tiveram as maiores quedas, seguindo o recuo nos preços dos contratos futuros de petróleo. (Com Reuters)