Volatilidade afasta IPOs e follow-ons, e ofertas devem ter forte queda no 4º trimestre

22 de outubro de 2021
Eugene Mymrin/Getty Images

Mais de 110 empresas desistiram de realizar essas operações neste ano, oito delas em setembro e três em outubro

A Bolsa brasileira viveu uma onda de IPOs e follow-ons neste ano, com 73 operações (50 ofertas iniciais e 23 subsequentes) que movimentaram R$ 137 trilhões. Embora o mercado esteja a caminho de superar o recorde histórico de 2007, quando registrou 76 operações, o ritmo das ofertas deve diminuir nos últimos meses de 2021, apontam especialistas ouvidos pela Forbes.

Neste ano, 112 empresas já desistiram de realizar IPOs e follow-ons, oito delas em setembro e três em outubro, segundo levantamento da Forbes. “Esse grupo pode crescer ainda mais”, diz Roderick Greenless, chefe global do banco de investimento do  Itaú BBA, instituição que participou de 38 das 73 ofertas realizadas neste ano. “O fato é que, apesar de estarmos em tempo de lançar IPOs e follow-ons, as condições pioraram bastante.”

Greenless afirma que nos próximos meses o mercado verá dois movimentos: o de empresas que terão seus pedidos de abertura de capital autorizados pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), mas que decidirão esperar condições melhores; e o de companhias que desistirão dessas operações.

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Segundo a CVM, existem 32 solicitações de IPO em análise e 24 pedidos de follow-on. Vale destacar que esse levantamento considera apenas ofertas regidas pela instrução normativa 400, mais conhecidas como padrão, pois o modelo obriga as empresas a registrarem os pedidos no órgão. Não foram incluídas as operações que seguem a instrução 476, ou restritas, nas quais as companhias podem realizar todo o processo sem necessidade de registro.

Até o momento, não há IPOs ou follow-ons com realização prevista até dezembro. Greenless projeta, no entanto, que devem ocorrer entre 15 e 20 novas ofertas ainda este ano, que podem movimentar cerca de R$ 20 bilhões. A estimativa representa menos da metade do registrado em igual período de 2020. No quarto trimestre do ano passado a Bolsa transacionou R$ 42 bilhões em 17 ofertas, mostram dados da B3.

Para Daniel Bassan, CEO do UBS BB, banco que atuou em 25 operações em 2021, a atual volatilidade do mercado não favorece novas ofertas. A proximidade das eleições é um dos fatores que ajuda a explicar por que empresas estão adiando ou desistindo de operações desse tipo, afirma ele. “Esse momento político sempre afeta o setor, independentemente [do candidato] que está à frente.”

Outro elemento que tem afetado as novas ofertas de ações é o aumento da taxa básica de juros promovido pelo Banco Central como forma de combate à inflação. O reajuste para cima da Selic aumenta a rentabilidade dos investimentos de renda fixa, tirando capital da Bolsa.

A taxa hoje é de 6,25% ao ano, mas o relatório Focus do Banco Central indica que o país deve encerrar 2021 com os juros a 8,25%. Greenless afirma que, se a Selic superar a marca de 9%, é provável que mais investidores retornem à renda fixa, deixando o mercado de capitais “apreensivo” e volátil, ou seja, menos propício para ofertas de ações.

O levantamento da Forbes mostra que quatro follow-ons foram realizados em setembro: Sinqia (SQIA3), Totvs (TOTS3), Vamos (VAMO3) e AES Brasil (AESB3), que movimentaram R$ 3,66 bilhões. O único IPO do período, da Vittia (VITT3), levantou R$ 382 milhões. No mesmo mês de 2020, foram seis ofertas primárias e quatro, secundárias, de acordo com a B3. Nenhuma oferta foi realizada em outubro.

“Era esperado que não houvesse tantas operações realizadas em setembro, pois esse é o período de revisão de requerimentos na CVM”, diz Greenless. “O que nós esperávamos era um número maior de solicitações para a realização de IPOs e follow-ons.” Foram feitos 13 pedidos ao longo de setembro, o quarto mês do ano com mais solicitações até agora, atrás de agosto, com 22, fevereiro, com 15, e maio, com 14. Em outubro, foram dois pedidos.

 

Quantidade não é sinônimo de qualidade

Um estudo da corretora Nord Research aponta que, dentre as ofertas primárias realizadas neste ano, apenas 4,34% atingiram uma rentabilidade acima dos 50% até setembro, e 58% tiveram retorno negativo.

O principal destaque foi a Vamos Logística (VAMO3), com rentabilidade de 130% depois que realizou a oferta primária de ações, em 29 de janeiro. Já a Mobly (MBLY3) ficou com o posto de pior papel, caindo 67,6% desde a oferta pública de 5 de fevereiro.

A Vittia, único IPO de setembro, caiu 7,14% desde 2 de setembro até quarta-feira (20), quando os papéis fecharam o pregão a R$ 9,75, com recuo de 3,47%. A sócia da Nord Research Danielle Lopes afirma que o desempenho negativo dessas ações ocorre porque muitas empresas prometem resultados ousados em seus prospectos que acabam não entregando.

Dessa forma, as ações começam a refletir a preocupação dos investidores, deixando a Bolsa mais volátil e, consequentemente, restringindo as possíveis e próximas ofertas de ações, diz ela. Um exemplo é a Allied (ALLD3), que suspendeu, em 6 de outubro, os estudos sobre a possibilidade de um follow-on, e a Environmental ESG (EESG3), que postergou seu IPO de R$ 3 bilhões no dia 8 por conta das condições adversas de mercado.