Empresas reduzem emissões de carbono e fazem lucro crescer

24 de novembro de 2021
Getty Images

Cada vez mais empresas estão investindo em energia renovável para abastecer operações e compensar emissões de carbono

O eBay, em sua própria essência, foi pioneiro da economia circular, que consiste em encontrar novos donos para tesouros que, de outra forma, poderiam ter parado no lixo. “Evitar que os produtos acabem em um aterro é muito importante para os nossos clientes”, diz Steve Priest, diretor financeiro do eBay.

“A promoção da economia circular está em tudo o que fazemos.” No entanto, encontrar novas prateleiras para brinquedos de pelúcia é apenas um pequeno componente da iniciativa de sustentabilidade da empresa, que prioriza a redução das emissões de gases do efeito estufa. No caso do eBay, isso está relacionado principalmente à eletricidade usada para abastecer os grandes data centers.

Desde 2017, o eBay diminuiu as emissões de carbono em 29%, chegando a 80 mil toneladas por ano. O gigante do comércio eletrônico tornou-se neutro em carbono este ano e visa alcançar um fornecimento de eletricidade 100% renovável para todos os escritórios e data centers até 2025.

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Essa meta poderá realmente ser atingida nos próximos anos, quando os maiores projetos de energia limpa do eBay estiverem em operação. Situado no Texas, o White Mesa Wind Project (uma joint venture com a Apple, a Sprint e a Samsung) começou a operar este ano, gerando 75 megawatts de pico para as quatro empresas, potência suficiente para abastecer 20 mil residências. Por sua vez, o Ventress Solar Project, na Louisiana, um contrato de fornecimento de energia entre o eBay, o McDonald’s e a divisão Lightsource da BP, vai gerar 345 MW. “Colaboramos com nossos pares do setor de tecnologia quando surgem algumas questões de sustentabilidade nas quais a união faz mais sentido”, afirma Renee Morin, diretora de sustentabilidade do eBay.

Essas iniciativas proporcionaram ao eBay a 11ª posição na primeira lista Forbes Green Growth 50. Usando dados da Sustainalytics referentes às emissões e dados da FactSet Research Systems relativos à parte financeira, enfocamos as empresas norte-americanas com capitalização de mercado superior a US$ 5 bilhões que começaram com emissões equivalentes a mais de 90 mil toneladas de dióxido de carbono em 2017 e que, de lá para cá, conseguiram reduzir suas emissões e, ao mesmo tempo, aumentar sua lucratividade (medida por um aumento absoluto da receita líquida ou da receita operacional de 2017 a 2020).

Ao iniciarmos a análise, concluímos que esses critérios gerariam uma lista de mais de 100 empresas. Porém, o crescimento ecológico é mais difícil do que parece: a Weyerhaeuser e a Edison International, situadas na 21ª e na 10ª posição de nossa lista, fizeram o lucro crescer menos de 2% desde 2017.

Existe uma conexão entre a redução das emissões de carbono e o crescimento dos lucros? Priest, do eBay, acha que chegamos a um ponto no qual, para as empresas que não se importam com o aspecto ecológico, será quase impossível gerar crescimento. “Os clientes querem se associar a empresas que levam as responsabilidades ambientais muito a sério. As que fizerem isso continuarão a fortalecer a lealdade de sua base de clientes.”

Essa ênfase estratégica é repercutida por Stephan Tanda, CEO da Aptar, que conquistou a primeira posição na lista Green Growth 50. A Aptar fabrica um sem-número de sistemas de administração de medicamentos e dosadores de produtos de consumo, especialmente alimentos e cosméticos. “Olhamos para tudo que fazemos através da lente da sustentabilidade.”

A maioria das instalações da empresa na Europa já está certificada como isenta do uso de aterros. Até o final do ano, a Aptar pretende alcançar “80% de eliminação de descarte”. É algo que envolve conciliar contradições. A maioria dos produtos dela é de plástico, o que, segundo Tanda, gera uma pegada de carbono bem baixa em comparação com outros recipientes. Um dos novos produtos da Aptar é uma bomba de loção feita com um único material, sem partes metálicas e totalmente reciclável.

Pode-se dizer que a demanda desses novos produtos por parte dos consumidores causa mais impacto do que o circo de políticas governamentais montado nas recentes reuniões da COP26 em Glasgow, na Escócia.

“Os governos não afetam tanto o que fazemos. São os consumidores, os pacientes e os clientes que exigem o que fazemos”, diz Tanda. Eles pagam pela transição do carbono porque é isso que querem. É ouvindo os consumidores que Tanda pretende “preparar a empresa para o futuro”.

Essa abordagem funcionou bem para a gigante da eletricidade AES, que conquistou o 15º lugar na lista Green Growth 50 depois de reduzir as emissões em 22%, substituindo as usinas elétricas a carvão por energia eólica e solar e baterias – “uma combinação vencedora, capaz de descarbonizar 90% da rede”, comenta Chris Shelton, presidente da AES Next. Como o custo das energias renováveis continuava caindo, a empresa conseguiu passar os clientes para um programa voltado à energia ecológica e à combinação de energias.

A AES também conta com uma espécie de operação interna de capital de risco. A Fluence, sua joint venture de baterias em grande escala com a Siemens, abriu o capital recentemente, já ostenta uma capitalização de mercado de US$ 6 bilhões e é a empresa que está por trás de algumas das maiores instalações de baterias do mundo.

Havia um grande grupo de empresas que estavam “em negação” no que diz respeito à redução das emissões de gases de efeito estufa. “Esse grupo está desaparecendo rapidamente” e as empresas vêm passando ao grupo da “barganha”: querem saber o mínimo que precisam fazer para sobreviver e para manter os ativistas o mais longe possível.

Essa é a visão de Chris Romer, cofundador da Project Canary, que instala sensores a laser em indústrias para monitorar vazamentos de metano. Segundo ele, um momento histórico em termos ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) foi a assembleia anual da ExxonMobil ocorrida no ano passado, na qual os acionistas votaram em conselheiros mais preocupados com os aspectos ecológicos. Não há como retroceder. Romer diz que a venda de produtos “ecológicos” a preços mais altos já pode proporcionar aos fabricantes ganhos muito maiores do que os custos de monitoramento e certificação.

Mesmo na lista Green Growth 50, algumas empresas estão menos empolgadas do que as outras. A título de exemplo, a Altria, gigante da nicotina que está na 35ª posição de nossa lista, parece estar fazendo o suficiente, tendo reduzido as emissões em 10% no período estudado. De acordo com o relatório de sustentabilidade mais recente da empresa, o uso de energia renovável pela Altria é de meros 2,3% do total, uma proporção surpreendentemente baixa.

A companhia também mostra como pode ser difícil seguir um programa bem-intencionado. A Altria vinha fazendo grandes avanços na diminuição da quantidade de resíduos que enviava a aterros. Em 2018, ela quase atingiu sua meta de 9,5 mil toneladas. Entretanto, 2019 detonou essa tendência: a Altria mandou 79 milhões de toneladas a aterros, em grande parte entulho de uma reforma da sede. O próximo desafio é reduzir o lixo formado pelas bitucas de cigarro.

Entre as empresas de melhor desempenho está a farmacêutica Eli Lilly, que ficou em oitavo lugar em nossa lista depois de trocar as lâmpadas antigas de três fábricas por LEDs, o que propiciou uma economia de 330 MWh por ano. E a Bristol Myers Squibb, que aquece prédio de escritórios da companhia em Munique, na Alemanha, com energia 100% geotérmica, conquistou o 13º lugar.

Por sua vez, a Church & Dwight, controladora da Arm & Hammer, ficou em terceiro lugar na lista, tendo atingido o objetivo de deixar de usar PVC nas embalagens. Além disso, compensa as emissões de carbono plantando milhões de árvores no Vale do Rio Mississippi.