No documento, Campos Neto ressaltou que o movimento de alta nos preços foi um fenômeno global que atingiu a maioria dos países avançados e emergentes.
De acordo com o presidente do BC, o dólar encerrou 2021 em patamar 9,83% acima do observado no fim de 2020, motivado por ruídos fiscais.
Esta é a sexta vez que um presidente do Banco Central brasileiro apresenta carta aberta ao ministro da Economia (ou da Fazenda), que preside o Conselho Monetário Nacional, para justificar o descumprimento da meta de inflação do ano anterior.
As explicações já foram dadas nas aberturas de 2002, 2003, 2004, 2016 e 2018. Na mais recente, o então presidente do BC, Ilan Goldfajn, apresentou justificativas ao fato de a inflação ter ficado ligeiramente abaixo do piso da margem de tolerância para a meta.
A regra determina que o presidente do BC divulgue a carta sempre que a inflação encerrar o ano fora dos intervalos de tolerância para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
Segundo dado divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira, o IPCA encerrou 2021 com alta de 10,06%, muito acima do limite máximo de 5,25%.
O ano foi marcado por alta nos preços de alimentos, combustíveis e energia elétrica. Contribuíram negativamente para esse processo a elevação nos preços internacionais de commodities, a aceleração da inflação mundial e a desvalorização do real frente ao dólar.
GARGALOS
Campos Neto afirmou que a inflação de preços administrados, que incluem energia elétrica e combustíveis, atingiu 16,90%, contribuindo com 4,34 pontos percentuais para a variação do IPCA –menor apenas do que a variação observada em 1999 e 2015.
Ressaltando o impacto da alta das commodities, o chefe do Bacen disse que os preços de bens industriais e de alimentação no domicílio subiram, respectivamente, 12,00% e 8,23% (contribuições de 2,75 pontos percentuais e 1,25 ponto percentual para o IPCA).
Ele pontuou que os valores do setor de serviços aumentaram 4,75% (contribuição de 1,72 ponto percentual), após movimento de recuperação de preços que estavam deprimidos em decorrência de impactos da crise sanitária.
Na análise das razões que motivaram o desvio da inflação, modelo do BC mostra que o principal fator foi a chamada inflação importada (combinação de variação da taxa de câmbio e dos preços de commodities –incluindo petróleo). Esse fator contribuiu com 4,38 pontos percentuais do total de 6,31 pontos percentuais de desvio do IPCA em relação à meta.
A inércia da inflação do ano anterior, segundo o BC, foi responsável por 1,21 ponto percentual no dado de 2021, enquanto as expectativas de inflação medidas pela pesquisa Focus contribuíram com 0,25 ponto percentual para a discrepância.
Para 2022, a meta de inflação é de 3,50%, com tolerância máxima de 5,00%. De acordo com o boletim Focus divulgado pelo BC, o mercado espera um resultado do IPCA ligeiramente acima do teto da meta neste ano. A previsão mais recente coloca o índice de 2022 em 5,03%.