A inflação é “transitória” como resultado do Covid-19? Ou veio para ficar? Qual é o papel do bitcoin no que diz respeito à inflação?
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1 – A inflação é mais ampla do que parece
E não são apenas os países que são regularmente citados como “gastadores”, ou que são tidos como típicos exemplos de hiperinflação, como a Venezuela. Argentina, Líbano e Turquia são grandes potências econômicas que têm sido afetadas por inflações que mudaram suas histórias e a vida de muitas pessoas. Por exemplo, na Argentina, conhecida por seu amor cultural por cortes finos de carne bovina, os residentes relataram que não podem mais comprar carne.
É importante reconhecer que, nos EUA, falamos de inflação apenas com foco no contexto local, onde ela não chegou a surtir o mesmo efeito que teve no resto do mundo. Globalmente, é generalizada a história de elites políticas e banqueiros que mal-interpretam a narrativa e causam sofrimento econômico. Só agora a narrativa americana está começando a entender uma nova versão dessa discussão.
Os Estados Unidos viram a inflação aumentar recentemente e lideraram o seu crescimento entre o terceiro trimestre de 2019 e o terceiro trimestre de 2021, de acordo com a Pew Research. No entanto, o mundo viu grandes aumentos médios em 2008 e 2011 na taxa de inflação: nesse período, os Estados Unidos (e a maioria das nações desenvolvidas) viram números de inflação baixos, os mais baixos em 50 anos, de 2009 a 2014.
A inflação é um problema mundial e, como tal, requer uma perspectiva mais global. Há camadas de contexto que vão além de um foco exclusivo nos Estados Unidos.
2 – A inflação é difícil de prever academicamente
O maior exemplo de estagflação nos Estados Unidos, uma economia estagnada com alto desemprego junto com a inflação, também surpreendeu os acadêmicos quando surgiu pela primeira vez na década de 1970.
A Curva de Phillips, a relação entre os salários e a inflação, foi observada e desenvolvida pela primeira vez em 1958.
Uma análise do Federal Reserve fala sobre as diferentes implicações da Curva de Phillips quando observada em diferentes horizontes de tempo, incluindo a tendência de que, no longo prazo, a alta inflação parece, por sua vez, “causar” alto desemprego.
Os acadêmicos, entretanto, discordam sobre se a Curva de Phillips está adormecida com a recente curva de queda da inflação no mundo desenvolvido, se está morta ou se é realmente uma relação funcional. Isso leva a uma situação em que, dependendo do período de tempo que você olha e do país, você pode obter uma resposta totalmente diferente.
Os economistas desta geração, criados em um ambiente de baixa inflação e com a “necessidade” de estímulo fiscal e monetário, estão gradualmente assumindo as cadeiras daqueles que foram surpreendidos (e tiveram que reconfigurar a economia em sua totalidade) após um período sustentado de alta inflação e baixo emprego.
3 – É importante decompor as causas mais “temporárias” e mais permanentes da inflação
Quanto da inflação é causada por problemas da cadeia de suprimentos que passarão com o período de ajuste, após essa grande turbulência econômica? Os preços do transporte marítimo, por exemplo, quase dobraram, com navios presos nos portos e escassez de trabalhadores para descarregar uma linha de carga em expansão.
No entanto, podemos esperar que isso diminua exatamente pelas razões “transitórias” frequentemente citadas? Ou seja, que um aumento na demanda (especialmente a demanda de férias) de economias restauradas está impulsionando os preços e a instabilidade em toda a cadeia de abastecimento, mas logo se estabilizará em uma economia “normalizada”?
Não conte com isso: a Covid-19 mostrou uma capacidade incrível de se transformar em novas variantes – mesmo dois anos ou mais depois, a resposta padrão das elites políticas parece ser um estímulo fiscal e monetário sem precedentes para emparelhar com paralisações mais amplas, seja por motivos culturais ou legais (como visto no Canadá e na Europa).
Há também a ideia de que salários mais altos estão levando a níveis mais altos de inflação, que é a base da Curva de Phillips. Mantendo todas as outras coisas iguais, salários mais altos estão correlacionados com curvas de inflação mais altas no médio prazo.
Mais importante ainda, há um aumento global na oferta monetária. Nos Estados Unidos, por exemplo, a oferta monetária M2 (uma medida de quanto dinheiro está em circulação, com dinheiro físico, equivalentes de caixa e depósitos bancários líquidos contabilizados, com o diferença em M2 e M1 em grande parte sendo poupanças de longo prazo de pequeno valor e depósitos de poupança) acelerou dramaticamente devido à resposta política à Covid-19.
No longo prazo, existe uma associação bastante robusta entre o crescimento da oferta de moeda e a inflação. É esse efeito que o bitcoin está mais bem posicionado para lidar, e que conversa com a escala de tempo de longo prazo da Curva de Phillips: um mundo onde as respostas políticas que permitem que a inflação esquente acaba levando a um excesso de oferta de moeda, criando uma economia que não responde a estímulos monetários – levando à estagflação – alto desemprego, alta inflação e agitação política.
4 – Qual o papel do bitcoin na inflação?
Se o mercado cair, o bitcoin tende a cair também, o que significa que quando surge uma notícia sobre a inflação, o bitcoin não necessariamente terá um desempenho puro.
Afinal, os mercados irão afundar se houver notícias de que há inflação nos Estados Unidos, já que isso provavelmente pesará no duplo mandato do Federal Reserve e forçará uma mudança na taxa básica de juros ou na postura do banco central americano. Se a taxa básica de juros subir ou se houver aperto monetário, os preços dos ativos cairão – incluindo o bitcoin.
O papel do bitcoin na proteção contra a inflação é mais sutil do que seu impacto financeiro imediato e precisa ser separado de acordo com diferentes escalas de tempo, assim como fizemos com a Curva de Phillips.
Ao chamar a atenção para isso, e manter os bancos centrais responsáveis pela transparência que devem a seus povos, o bitcoin reúne as pessoas em torno da compreensão do que se passa na oferta de dinheiro e na inflação, uma conversa tortuosa que os tecnocratas podem tender a esconder na obscuridade (como Alan Greenspan, o ex-presidente do Fed, dominou com o “falar-de-fed”). Também estabelece as condições para um controle mais permanente dos fatores inflacionários e de crescimento da oferta de moeda de longo prazo – combatendo diretamente uma das principais fontes do que pode ser uma inflação antiga e estabelecida.