A empresa sempre foi comandada por membros da família que abriu a primeira loja da rede no centro do Rio de Janeiro, em 1942. A gestão do atual CEO, Filipe Barbosa, é um marco na história da Bagaggio: com 32 anos, ele tem menos da metade da idade da empresa que hoje chefia.
Barbosa também é mais novo que os herdeiros do negócio, que segue nas mãos da mesma família de origem espanhola.
“Entrei muito jovem na companhia, no meio de uma família com sucessores igualmente jovens. Mas todos tiveram muita humildade e clareza para entender que isso seria bom para os negócios”, diz Barbosa.
Formado em engenharia de produção, ele chegou à Bagaggio depois que a butique de fusões e aquisições em que trabalhava prestou uma consultoria de gestão para a empresa, em 2016. Sua experiência e conhecimentos o levaram ao comando da área financeira primeiro, onde ele começou a organizar a governança da companhia.
A logística revelou-se o principal gargalo do negócio e foi ao assumir essa segunda área que, de fato, começou a trilhar o caminho das pedras para tornar-se CEO. “Como CFO, eu estava em uma zona de conforto. Chamei atenção porque decidi olhar para o negócio de forma holística”, diz o executivo.
Outra conquista veio em um momento de estresse para o setor varejista: a pandemia. Assumindo a frente da Bagaggio em meio às profundas incertezas de 2020, Filipe conseguiu contornar a crise da Covid-19 mantendo a grande maioria dos funcionários – 10% do quadro foi demitido – e de lojas. Hoje são 153 unidades espalhadas por 23 estados brasileiros.
“Quando cheguei em 2017, tínhamos 110 lojas”, conta ele, acrescentando que, apesar da expansão, crescer não era o foco inicial da estratégia. “Tenho a sensação que só vou começar a pensar em crescimento de verdade agora.”
No ano passado, as vendas totais da Bagaggio caíram 60%, para cerca de R$ 100 milhões. A expectativa para 2022 – que já foi de apenas recuperar as perdas – é superar o faturamento de R$ 250 milhões registrado no pré-pandemia, em 2019.
Filipe diz que a crise da Covid-19 fez a Bagaggio se destacar no mercado, e já descreve empresas como a Le Postiche de “ex-concorrentes”. Para ele, os principais diferenciais da Bagaggio são a aceleração das estratégias digitais, o aperfeiçoamento das vendas omnichannel e o esforço de profissionalização – um processo que incluiu sua própria contratação.
“Gostamos de fazer esforços auto-sustentáveis”, conta ele, explicando que os investimentos para a expansão do e-commerce são feitos com o lucro do próprio e-commerce. Neste ano, o objetivo é pelo menos dobrar o faturamento das vendas digitais. Em 2021, a receita do e-commerce quase quintuplicou em relação a 2020.
Apesar das transformações digitais, o CEO afirma que a Bagaggio não tem planos de abandonar o comércio tradicional: “Não existe marketing mais barato que uma loja física. Ela transmite credibilidade, é um outdoor vivo, e ela dá lucro”.
O executivo conta que costuma perguntar para todo mundo: Você pega a mala para viajar quantos dias antes da viagem? Segundo suas evidências anedóticas, quase 100% das pessoas só fazem a mala com 2 ou 3 dias de antecedência. “É por isso que a Bagaggio entrega em 24h”, diz.
Depois de fazer o dever de casa e reestruturar a companhia, Filipe Barbosa agora tem a missão de modernizar a empresa octogenária por fora. Além de repaginar a aparência das lojas, seus produtos também começaram a ganhar cara nova – especialmente a linha que lançaram em parceria com o reality Big Brother Brasil para a edição deste ano.
O objetivo da empreitada era ampliar a visibilidade da companhia entre o público mais jovem e “cabeça aberta”, com opções coloridas de malas e mochilas que brincam com o design e são menos gênero-normativas.
Segundo Filipe Barbosa, a Bagaggio tem várias outras parcerias no forno, mas ele por enquanto prefere não entrar em detalhes. Todas seguem a mesma toada de renovação: “Desde que me tornei CEO, quis repensar tudo do zero. É como se fôssemos uma startup de 80 anos”.