Investidores estrangeiros apostam alto na Bolsa brasileira em busca de maiores rendimentos

3 de março de 2022

Investidores estrangeiros já injetaram R$ 55 bilhões na Bolsa brasileira do início do ano até o dia 18 de fevereiro, segundo os dados mais recentes disponíveis. O valor é maior do que os aportes internacionais de todos os 12 meses de 2020, de 2019 ou de 2018.

No fim de janeiro, os recursos que vêm de fora do país superaram os domésticos e passaram a representar mais da metade do total movimentado na B3.

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O fluxo internacional é resultado de uma combinação de fatores. Os altos juros brasileiros, por exemplo, atraem os investidores estrangeiros que buscam maiores rendimentos. Do outro lado, a crescente inflação nos EUA faz os norte-americanos buscarem outros mercados para proteger o poder de compra de seus aportes.

A Forbes conversou com três analistas de mercado para entender o que está por trás desse movimento de capital em direção à Bolsa de Valores brasileira.

“Aconteceu uma união de fatores que culminaram na busca por ativos brasileiros no âmbito global. A primeira delas foi o fato de que uma das teses para 2022 é que o investidor buscará proteção contra a inflação”, diz Filipe Villegas, estrategista da Genial Investimentos.

Entre os papéis negociados na Bolsa, os estrangeiros têm dado mais atenção aos vistos como abaixo do preço de mercado.

Paula Zogbi, analista de investimentos da Rico, explica que a expectativa da alta do juros no Brasil faz com que as empresas de crescimento, como as do setor de tecnologia, se tornem menos atraentes neste momento.

Isso acontece porque elas têm como pilar o crescimento futuro, que depende de um momento positivo da economia. “Como consequência, as ações de valor, que são predominantes no Brasil, são mais buscadas “, comenta.

Outro empurrão no investimento internacional foi a alta do preço das commodities, como petróleo e minério de ferro, que alimentaram a procura por Petrobras (PETR3 e PETR4) e Vale (VALE3).

“Os preços das commodities também estão aumentando a cada dia que passa. Com isso, investidores acabam procurando por empresas exportadoras. Como elas apresentam participação bastante relevante [na carteira do Ibovespa], quando sobem, causam a a alta do índice, o que atrai outros investidores”, afirma Heloise Sanchez, analista da Terra Investimentos.

A disputa entre Rússia e Ucrânia deve impulsionar a escalada do preço das commodities, o que torna os investimentos ainda mais atraentes.

O que eles estão comprando

Os estrangeiros têm preferido as ações de empresas já consolidadas no mercado, como os grandes bancos e as exportadoras de commodities.

Assim, estão deixando de lado os papéis das companhias de tecnologia e construção civil, que sofreram muito no último semestre de 2021 com as mudanças na política monetária e com o avanço da inflação.

“Por outro lado, diversas empresas desses setores apresentaram bons números nos balanços do 4º trimestre e no ano de 2021. Esse foi o caso da Totvs (TOTS3), que inclusive teve seu preço-alvo elevado por corretoras e gestoras”, analisa Sanchez, da Terra.

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Villegas, da Genial, afirma que os estrangeiros também têm passado longe de empresas muito ligadas à economia brasileira por causa da expectativa de crescimento baixo.

O que pode afastar os investidores estrangeiros?

Alguns fatores podem reverter o entusiasmo com a Bolsa. Um deles é a chegada das eleições: as turbulências políticas podem fazer os investidores procurarem ativos menos arriscados.

Em relação ao cenário da inflação, especialistas apontam que as chances de uma melhora do quadro no exterior são baixas, e continuam apostando em uma entrada maior dos aportes internacionais.

A perspectiva, portanto, é de crescimento da presença do investidor estrangeiro.

“O cenário para o Brasil deve continuar bastante atrativo, visto que não há perspectivas de curto prazo para queda da taxa Selic, desvalorização das commodities ou resolução diplomática para o caso entre Rússia e Ucrânia, que segue impactando no preço do petróleo”, comenta a analista da Terra.

“Enquanto o mundo estiver com apetite por risco, buscando boas alocações; enquanto os investidores julgarem que os ativos ainda estão atrativos, esse movimento tende a continuar”, completa Sanchez.