Por Lisandra Paraguassu
LOS ANGELES, Estados Unidos (Reuters) – O presidente Jair Bolsonaro levou ao encontro com o presidente norte-americano, Joe Biden, um pedido para que os Estados Unidos revejam as cotas para importação do aço brasileiro, uma das principais reivindicações da indústria do país, e a expectativa é que o assunto avance em breve, disseram à Reuters duas fontes do governo brasileiro.
“O presidente Biden disse que não tinha detalhes sobre o tema naquele momento, mas iria se informar e o assunto seria retomado com as equipes técnicas dos dois países assim que possível”, disse uma das fontes.
Procurado, o Itamaraty não respondeu de imediato a um pedido de comentário sobre o assunto.
O assunto foi tratado durante a reunião privada dos dois presidentes onde, além de Bolsonaro e Biden, estiveram presentes apenas o chanceler brasileiro, Carlos França, e o secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, além dos tradutores.
NESTE ANO
“Temos expectativa que saia neste ano” a revisão das cotas, disse o presidente-executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes.
As cotas para importação do aço brasileiro foram criadas no governo de Donald Trump, em 2018, e estabelecem que o Brasil tem direito a exportar parte do produto sem incidência dos impostos de importação.
Além da cota para os semi-acabados, os EUA criaram uma para os acabados, produtos como bobinas e chapas que podem ser usados diretamente pela indústria norte-americana. Neste caso, o país calculou uma média de volume exportado pelo Brasil entre 2015 e 2017 e aplicou um redutor de 30% sobre este montante.
Segundo Lopes, o setor siderúrgico brasileiro aguardava esta primeira reunião entre Bolsonaro e Biden para ter uma sinalização para um início das negociações sobre as cotas. “Seria impensável uma missão se houvesse um estresse na relação”, disse o executivo.
“O desdobramento disso (reunião entre os dois presidentes) é que vamos agora colocar de pé uma nova missão aos EUA”, disse Lopes, sem precisar quando ela poderia ocorrer.
Lopes lembrou que o governo Biden aprovou recentemente o pacote de investimentos em infraestrutura de mais de 1 trilhão de dólares e é defensor de política que incentiva compra de produtos produzidos nos EUA pelos consumidores norte-americanos. Além disso, a Rússia, segunda maior exportadora de placas para os EUA, passou a sofrer sanções do Ocidente após iniciar a guerra contra a Ucrânia este ano.
“A indústria norte-americana precisa do semi-acabado brasileiro. É uma matéria-prima estratégica para eles”, disse Lopes, citando que 85% das exportações de aço do Brasil para os EUA são do material.
Entre os grandes exportadores de aço semi-acabado e acabado do Brasil para os EUA estão ArcelorMittal e CSN. Procurada, a ArcelorMittal preferiu não se manifestar e a CSN não comentou o assunto de imediato.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu, com reportagem adicional Alberto Alerigi Jr em São Paulo, edição de André Romani)