Dólar cede ante real com mercado digerindo dados do PIB doméstico e impacto na política monetária

2 de junho de 2022

 

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar recuava contra o real nesta quinta-feira, embora tenha recuperado algum fôlego em relação às mínimas do dia, conforme investidores digeriam dados promissores, embora ligeiramente mais baixos que o esperado, sobre a atividade econômica brasileira.

O IBGE informou nesta quinta-feira que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou crescimento de 1,0% no primeiro trimestre deste ano, acelerando ante o ritmo visto no fim de 2021.

O resultado ficou um pouco abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters, de avanço de 1,2% sobre os três meses anteriores, mas Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, disse à Reuters que a economia brasileira se saiu bem melhor no primeiro trimestre que o esperado há apenas alguns meses e que o dado desta quinta-feira pode levar a várias revisões para cima nas estimativas para o PIB de 2022 de grandes instituições financeiras.

Às 10:04 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,26%, a 4,7940 reais na venda, desacelerando as perdas em relação à mínima da sessão, quando caiu 0,68%, a 4,7739 reais na venda.

Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,47%, a 4,8325 reais.

Cruz disse ser natural ver um fortalecimento da moeda brasileira após dados econômicos positivos, já que a resiliência da atividade tende a aumentar a confiança de investidores estrangeiros no país.

Além disso, sinais de crescimento devem permitir que o Banco Central deixe a taxa de juros elevada possivelmente por mais tempo, explicou o estrategista, o que teria impacto positivo sobre o mercado de câmbio local. Uma Selic alta torna o real mais atraente para investidores que buscam lucrar com diferenciais de juros amplos entre duas economias.

Os Estados Unidos estão atualmente num processo de elevação de juros mais agressivo que o inicialmente esperado pelos mercados, o que é, no geral, visto como fator de impulso para o dólar. Mas, pelo fato de o Brasil já estar bem avançado em seu ciclo de aperto monetário, o real tende a sofrer menos em relação a outras moedas de países emergentes nesse contexto, disse Cruz.

Os custos dos empréstimos brasileiros estão atualmente em 12,75% (meta Selic), depois que um intenso ciclo de aperto monetário iniciado há mais de um ano tirou a taxa Selic de uma mínima histórica de 2%. Nesse contexto, o dólar perde 14% contra o real (em termos nominais) no acumulado de 2022.

“Entre os principais mercados avançados e emergentes, o Brasil tem o maior rendimento real de dez anos da dívida soberana”, ressaltou Robin Brooks, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), em postagem no Twitter nesta quinta-feira. “Esse prêmio de risco no Brasil é simplesmente alto demais, e é por isso que os ativos brasileiros continuarão subindo.”

Brooks enxerga a marca de 4,50 por dólar como o valor justo para o real –ou seja, condizente com os fundamentos macroeconômicos do país–, citando também os efeitos da disparada dos preços das commodities, que tendem a elevar o valor das exportações brasileiras e beneficiar a balança comercial doméstica.

Nesta quinta-feira, além de refletir fatores domésticos, o mercado de câmbio local também acompanhava o enfraquecimento do dólar no exterior. Contra uma cesta de rivais fortes, a divisa norte-americana perdia 0,44% nesta manhã, acompanhando ligeiro arrefecimento nos rendimentos dos títulos soberanos dos EUA.

O dólar negociado no mercado interbancário fechou a última sessão em alta de 1,10%, a 4,8065 reais.

Neste pregão, o Banco Central fará leilão de até 18.420 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 1° de julho de 2022.