Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar avançou mais de 2% frente ao real nesta sexta-feira, marcando uma terceira valorização semanal consecutiva com impulso da recente decisão do Federal Reserve de subir os juros dos Estados Unidos no ritmo mais intenso desde 1994, conduta que, além de tornar a moeda norte-americana globalmente mais atraente, elevou temores de uma recessão na maior economia do mundo, minando o apetite de investidores por risco.
Na semana, encurtada pelo feriado de Corpus Christi na quinta-feira, o dólar avançou 3,14%, com os fortes ganhos de segunda e sexta mais que compensando a queda de 2,07% de quarta.
Na B3, às 17:22 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,71% no dia, a 5,1650 reais.
A política monetária foi o grande tema desta semana, com vários bancos centrais realizando reuniões que, no geral, explicitaram a maior urgência das autoridades monetárias para conter as persistentes pressões de preços que, apenas alguns meses atrás, muitos pensavam ser temporárias.
Temores de que um eventual ambiente monetário restritivo nos EUA se some a desafios exógenos –como a guerra na Ucrânia e medidas de combate à Covid-19 na China– e provoque uma recessão levaram a uma onda de mau humor nos mercados globais na véspera.
“Ontem foi um dia bem ruim para ativos arriscados, e os mercados estavam fechados aqui por conta do feriado”, disse à Reuters Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho. “O real está fazendo o ‘catch up’ (ajuste), incorporando a dinâmica ruim do mercado e os temores de recessão (nos EUA) no preço.”
O comportamento do mercado de câmbio local também refletiu o salto de mais de 0,7% do índice do dólar contra uma cesta de rivais fortes nesta tarde. A moeda norte-americana ainda tinha firmes ganhos contra alguns pares do real, como dólar australiano (+1,5%) e peso chileno (+1,1%).
“Rendimentos reais mais altos e volatilidade de dados fundamentais também estariam associados a maior volatilidade nos mercados, o que reduz o apelo do ‘carry’ (retorno)” de moedas de países emergentes, avaliou o banco norte-americano.
Rostagno, do Mizuho, diz perceber movimentos nesse sentido no Brasil. “A taxa Selic elevada ajuda a aumentar a atratividade do real pra operações de ‘carry’, que buscam explorar diferencial de juros entre os países, mas esse efeito é limitado nesses momentos de maior aversão a risco global, porque aí investidores tiram recursos de países emergentes.”
Os juros nominais básicos brasileiros estão em 13,25% ao ano, depois que o Banco Central elevou a Selic, na última quarta-feira, em 0,50 ponto percentual, em linha com as expectativas do mercado. A autarquia sinalizou novo ajuste nos custos dos empréstimos, de igual ou menor magnitude, na reunião de política monetária de agosto.
Rostagno espera que o ambiente externo arisco mantenha o dólar acima da marca psicológica de 5 reais ao longo da segunda metade deste ano, que também trará como desafio as eleições presidenciais brasileiras.
(Edição de José de Castro)