Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) – O Ibovespa fechou em queda nesta quinta-feira, afetado pelas preocupações com o ritmo do crescimento econômico global, que também foram determinantes para que junho registrasse a pior performance mensal desde março de 2020.
No mês, o Ibovespa caiu 11,5%, maior queda percentual desde março de 2020, quando foi duramente afetado pelo alastramento da pandemia pelo Brasil. O desempenho trimestral também foi o pior desde o começo de 2020, com perda de 17,88%. Em 2022, cai 5,99%.
Na visão do sócio e estrategista da Meta Asset Management, Alexandre Póvoa, os bancos centrais dos países desenvolvidos estão nitidamente atrás da curva em relação à inflação, o que tem afetado prognósticos de investidores sobre a atividade econômica.
“A sensação de descontrole fez com que os investidores, antevendo um aperto monetário mais forte, começassem a projetar um cenário de recessão mundial, ou até pior, uma estagflação”, acrescentou o gestor.
“E esse cenário de juro alto, inflação persistente e recessão não é um cenário benéfico para emergentes, afinal é um cenário de propensão menor a risco e maior dificuldade de atração de investimentos dada toda a incerteza”, afirmou.
Para Póvoa, o mercado ainda está sob intensa neblina, dado que os BCs mundiais não estão seguros nem em relação ao ritmo e nem em relação ao final do processo de aperto monetário. “Sem essa visibilidade, dificilmente as bolsas se recuperarão.”
No Brasil, ele avalia que a bolsa vive o “pior dos mundos”, com ações de commodities sofrendo pelo receio de deterioração de atividade e as de mercado doméstico sendo penalizadas pelo estresse na curva de juros em razão de riscos fiscais.
Rocha também destacou que o componente de incerteza fiscal afetou os ativos brasileiro nesse mês. “A mensagem (do governo com as últimas medidas propostas) é que houve novamente um enfraquecimento da âncora fiscal…e esse enfraquecimento ocorre próximo à eleição, o que indica que novos furos no teto de gastos não podem ser descartados”, afirmou.
Para Póvoa, uma boa notícia em relação ao Brasil é que já há uma maior clareza sobre até que ponto o BC irá na taxa Selic, algo entre 13,5% e 14%, ficando nesse nível por muito tempo. “Além disso, tem muita barganha já na bolsa. O problema é saber quem vai comprar. O investidor local só quer saber de renda fixa e o estrangeiro está completamente avesso a risco. Enquanto isso, sofremos todos.”
DESTAQUES
– VALE ON recuou 2,83%, em sessão negativa para os futuros do minério de ferro em Dalian e Cingapura, com CSN MINERAÇÃO ON caindo 6,31%. No setor de siderurgia, CSN ON, USIMINAS PNA e GERDAU PN recuaram 6,42%, 4% e 3,41%, respectivamente.
– PETROBRAS PN cedeu 0,53%, na esteira do declínio dos preços do petróleo no mercado externo. Dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) também mostraram que a venda de combustíveis no Brasil cresceu 6,1% em maio ante igual mês do ano passado.
– BRADESCO PN caiu 2,27% e ITAÚ UNIBANCO PN recuou 1,78%, contaminados pela aversão a risco que minou o pregão. O índice do setor financeiro – que inclui ainda papéis como o da B3, que subiu 0,09% – fechou em baixa de 0,98%.
– MRV ON avançou 2,90% após anúncio de programa de recompra de até 2% das ações em circulação no mercado.
– TC ON desabou 27,09%, pior desempenho do Small Caps. O colunista Lauro Jardim publicou que CVM e BSM estão investigando a plataforma para investidores por suposta manipulação de cotação de ações. O TC disse que não recebeu qualquer notificação dos respectivos órgãos.