Fundos de investimentos têm pior captação no 1º semestre em 8 anos

6 de julho de 2022
arik Kizilkaya/Getty Images

A indústria de fundos captou R$ 8 bilhões, uma queda de 97% em comparação ao recorde de 2021.

A captação líquida dos fundos de investimento brasileiros registrou o seu menor valor para um primeiro semestre em oito anos. A diferença entre aportes e resgates somou R$ 8 bilhões entre janeiro e junho de 2022, segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

O saldo é 97% inferior ao registrado no mesmo período do ano passado, quando os fundos receberam o montante recorde de R$ 272,5 bilhões, e o terceiro menor da série histórica iniciada em 2002.

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A captação líquida deste ano só perde para a do primeiro semestre de 2014, que foi de R$ 4,6 bilhões, e de 2002, quando o saldo foi negativo (R$ 23 bilhões).

Segundo Pedro Rudge, vice-presidente da Anbima, o resultado do primeiro semestre reflete o aumento da taxa Selic no país.

“Os juros altos aumentam a atratividade de produtos isentos de imposto de renda, como alguns títulos de renda fixa. Ao longo deste ano estamos vendo uma saída relevante das classes de ações e multimercados”, disse Rudge em coletiva de imprensa realizada hoje (6).

Apesar da queda nas captações dos fundos de investimentos, outros números da indústria registraram variações positivas neste primeiro semestre quando comparados ao ano passado.

O patrimônio líquido dos fundos aumentou em 6,8% na comparação anual, saindo de R$ 6,7 trilhões para R$ 7,2 trilhões. O número de contas avançou em 11,4%, para 31,57 milhões, enquanto o número de fundos cresceu 12,5%, para 27.507.

Rudge destaca que o resultado dos primeiros três meses deste ano não se destoou daqueles de anos anteriores, e acredita na recuperação dos números até o final de 2022.

“A velocidade da fuga de capital já está diminuindo, até pelo patamar do preço dos ativos. Nada dura para sempre, em algum momento os investidores concluem que o valor atual mais do que justifica os eventuais riscos, e voltam à normalidade, ou pelos menos para um patamar mais razoável nesse sentido”, afirmou o vice-presidente da Anbima.

Captação dos fundos por classe

Os aportes que seguraram o saldo positivo da captação líquida dos fundos no período vieram dos fundos de renda fixa e dos FIDCs (fundos de investimentos em direitos creditórios). Os fundos de renda fixa registraram saldo de R$ 88,8 bilhões – um recuo de 25,1% frente ao saldo de R$ 118,6 bilhões do mesmo período de 2022.

Já os FIDCs somaram R$ 31,6 bilhões em ganhos neste primeiro semestre, porém mais da metade do valor veio de um único aporte de R$ 16,5 bilhões em um FIDC da classe agro, indústria e comércio, sinaliza a Anbima. Na comparação anual, os aportes em FIDCs apresentaram queda de 51,5% – no mesmo período de 2021, eles captaram R$ 65,2 bilhões.

Os resgates deste ano foram puxados pelos fundos multimercados, que saíram de um saldo positivo de R$ 89,9 bilhões no primeiro semestre de 2021 para um montante negativo de R$ 61,8 bilhões nos primeiros seis meses de 2022.

Os fundos de ações também tiveram um grande peso de resgates. No ano passado a classe registrou ganhos de R$ 3,8 bilhões, enquanto neste ano o saldo negativo foi de R$ 49,5 bilhões.

O principal motivo foi a queda dos papéis de companhias negociados na B3. Nos primeiros meses do ano, o Ibovespa, principal índice de ações da Bolsa brasileira, chegou a registrar ganhos acumulados de 20% e alcançou os 120 mil pontos, mas reverteu para perdas e opera no patamar dos 98 mil pontos atualmente, com perdas de 6% até o final de junho.

Segundo Rudge, o movimento mais agressivo de resgates começou em maio e se acentuou em junho. Giuliano de Marchi, diretor da Anbima, afirma que a aversão a riscos no mercado de renda variável é uma característica observada em todo o mundo e causada pelas elevações dos juros.

“Diversos banco centrais estão aumentando os juros. Quando a inflação voltar para um patamar de arrefecimento, os ativos de risco voltarão a performar melhor. Sobre o Brasil, o que podemos pontuar de diferente de outros países é a questão das eleições, que acrescenta um fator incerteza a mais e aumenta a volatilidade”, afirma o diretor.

Fundos internacionais negativos

As bolsas internacionais não tiveram desempenho muito diferente da brasileira diante do cenário de inflação e aperto dos juros. O S&P 500, índice de referência dos EUA, recuou 20,6% nos primeiros seis meses do ano.

Fundos que investem em ações no exterior sentiram o peso dessa queda e fecharam o período com captação líquida negativa de R$ 18,3 bilhões.

Marchi sinaliza que o câmbio e a fuga de capital também tiveram participações nessas perdas. “Foi uma combinação de fatores somados às bolsas caindo internacionalmente e o mercado daqui performando melhor até meados da metade do primeiro semestre”, afirmou o diretor.

O patrimônio líquido e o número de contas de fundos internacionais também caíram em relação a dezembro do ano passado, para R$ 40,2 bilhões (recuo de 42,6%) e 310.916 (perda de 35,2%), respectivamente.

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