Salário anual médio de CEOs de empresas do Ibovespa é de R$ 12,57 milhões

3 de agosto de 2022
Getty Images/boonchai wedmakawand

Salário anual médio dos executivos em 2021 foi de R$ 12,57 milhões, enquanto a remuneração média anual dos funcionários foi de R$ 192,57 mil.

A remuneração média anual dos 88 CEOs das empresas listadas no Ibovespa em 2021 foi 111 vezes maior do que a remuneração média anual dos funcionários dessas companhias, indica um levantamento realizado pelo especialista em governança corporativa Renato Chaves em parceria com a Fundação Getulio Vargas.

De acordo com a pesquisa, o salário anual médio dos executivos no ano passado foi de R$ 12,57 milhões, enquanto a remuneração média anual dos funcionários foi de R$ 192,57 mil. Os dados foram compilados a partir dos formulários de referência apresentados pelas empresas à CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

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Em 2009, o órgão passou a exigir que as companhias informassem a remuneração total anual da diretoria, declarando o valor mais baixo e o mais alto – que via de regra é pago ao CEO ou presidente, mas pode haver exceções.

Embora a média entre as remunerações seja cerca de cem vezes, os opostos do ranking apontam disparidades extremas. A maior discrepância salarial de uma empresa listada no Ibovespa é do atacarejo Assaí (ASAI3), que paga 535 vezes mais o seu CEO do que os seus funcionários.

O maior salário anual de um executivo no Assaí foi de R$ 20,86 milhões em 2021, enquanto a média anual do salário dos funcionários foi de R$ 39 mil – equivalente a R$ 3.250,42 mensais para o operacional e R$ 1,74 milhão mensal para o CEO.

No segundo lugar do ranking aparece outra empresa de varejo, a Americanas (AMER3), com uma diferença salarial de 431 vezes. O presidente-executivo da companhia recebeu R$ 12,83 milhões no acumulado do ano passado, enquanto a média acumulada dos funcionários foi de R$ 29,76 mil – equivalente a R$ 2.480,28 mensais para os empregados e R$ 1,07 milhão para o CEO.

O professor Joaquim Rubens Fontes Filho, especialista em governança corporativa da Ebape (Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas) da FGV, afirma que é necessário entender como funciona cada setor para entender a diferença salarial entre a remuneração do presidente-executivo e dos funcionários.

“Empresas de varejo empregam pessoas com menor escolaridade em grande escala, o que implica em salários menores, embora o número de empregados seja maior”, diz Fontes Filho.

O professor ainda destaca que o mesmo não se aplica a uma empresa industrial de alta tecnologia, como a Embraer, por exemplo. “Grande parte do corpo de funcionários deles é graduado, o que eleva o nível salarial.”

Na Embraer (EMBR3), a diferença entre o salário do CEO e a média salarial dos funcionários é de 71 vezes. Em 2021, o alto executivo ganhou R$ 10,12 milhões no acumulado do ano frente aos R$ 142,38 mil, em média, dos colaboradores.

Equilíbrio nas contas

Na outra ponta do ranking os números também surpreendem. A menor discrepância salarial de uma empresa listada no Ibovespa é de três vezes e o posto é da Copel (CPLE6). O executivo da empresa ganhou R$ 879,23 mil no ano passado e os funcionários receberam, em média, R$ 276,78 mil anuais.

Na sequência aparece outra estatal, a Eletrobras (ELET3), com um salário anual para o CEO de R$ 1,03 milhão e a remuneração anual média para os funcionários de R$ 380,34 mil.

O professor da FGV explica que as estatais são um ponto fora da curva no quesito de remunerações porque elas possuem maior controle sobre os pagamentos.

“Existe um equilíbrio maior nos salários dessas empresas, o que por um lado é louvável, visto que não há grandes divergências entre o alto escalão e o baixo, mas por outro deixa de ser competitivo frente às empresas privadas”, afirma Fontes Filho.

Quando se olha para o levantamento sem as estatais (Banco do Brasil, Copel, Cemig, Eletrobras, Petrobras e Sabesp), a discrepância média entre os salários dos CEOs e dos funcionários aumenta de 111 vezes para 119 vezes.

Para efeito comparativo, em 2021, o presidente-executivo da Petrobras (PETR4) recebeu R$ 3,08 milhões no acumulado do ano, enquanto na PetroRio (PRIO) se pagou R$ 11,61 milhões para o mesmo cargo.

Por outro lado, os funcionários da estatal de petróleo receberam uma média anual de salário de R$ 703,13 mil. Já os empregados da PetroRio receberam, em média, R$ 219,80 mil no mesmo período.

Na estatal, a diferença salarial entre o pagamento do CEO e dos funcionários é de quatro vezes – na PetroRio, é 53 vezes.

Transparência no salário

O professor da FGV pondera que não existe uma “meta” para essa relação, um múltiplo que seja considerado saudável e que as companhias devem perseguir. “Essas empresas afirmam que a maior consideração para estabelecer as remunerações é seguir o livre mercado e pagar valores em linha com os concorrentes”.

Mas isso quando se trata dos funcionários. Para os CEOs, as considerações são menos claras. “A maior parte das companhias têm uma remuneração quebrada, com bonificações ligadas a metas, parcela em ações, salário fixo e outras variáveis, o que torna difícil mapear e entender o que define o valor total”, diz Fontes Filho.

O professor ainda pondera sobre conflito de interesses que podem haver dentro dos conselhos de administração e nas relações com os controladores. Isso porque o salário de um presidente-executivo passa por votação em assembleia.

“Muitas vezes o controlador, na condição de administrador, participa da votação em assembleia e define a distribuição de verba com os outros conselheiros de acordo com seus interesses, o que não é transparente com os acionistas e dificulta a clareza sobre os salários desses executivos”, afirma Fontes Filho.

Com a agenda de governança corporativa cada vez mais evidente em meio às pautas de ESG (meio-ambiente, social e governança, na sigla em inglês), o professor afirma que essa prestação de contas deve ser tornar mais transparente.

“De que adianta uma companhia abrir um processo seletivo exclusivo para negros e apresentar uma diferença salarial entre o CEO e os funcionários na ordem de 300 vezes? Essa é uma empresa que preza pelo social e pela governança corporativa?”, questiona o professor.

10 empresas com MAIOR discrepância salarial:

1- Assaí (ASAI3)
• Salário anual do CEO em 2021: R$ 20,86 milhões
• Média salarial anual dos funcionários: R$ 39.005,08
• Diferença salarial: 535 vezes

2 – Americanas (AMER3)
• Salário anual do CEO em 2021: R$ 12,83 milhões
• Média salarial anual dos funcionários: R$ 29.763,34
• Diferença salarial: 431 vezes

3 – Vale (VALE3)
• Salário anual do CEO em 2021: R$ 55,14 milhões
• Média salarial anual dos funcionários: R$ 134.773,78
• Diferença salarial: 409 vezes

4 – Santander (SANB11)
• Salário anual do CEO em 2021: R$ 59,03 milhões
• Média salarial anual dos funcionários: R$ 157.035,43
• Diferença salarial: 376 vezes

5 – Localiza (RENT3)
• Salário anual do CEO em 2021: R$ 29,70 milhões
• Média salarial anual dos funcionários: R$ 87.910,47
• Diferença salarial: 338 vezes

6 – JBS (JBSS3)
• Salário anual executivo: R$ 52,69 milhões
• Média salarial anual dos funcionários: R$ 158.478,23
• Diferença salarial: 332 vezes

7 – Hapvida (HAPV3)
• Salário anual do CEO em 2021: R$ 12,22 milhões
• Média salarial anual dos funcionários: R$ 41.861,20
• Diferença salarial: 292 vezes

8 – Rede D’Or (RDOR3)
• Salário anual do CEO em 2021: R$ 27,19 milhões
• Média salarial anual dos funcionários: R$ 95.174,46
• Diferença salarial: 286 vezes

9 – Cogna (COGN3)
• Salário anual do CEO em 2021: R$ 21,18 milhões
• Média salarial anual dos funcionários: R$ 75.688,28
• Diferença salarial: 280 vezes

10 – Carrefour (CRFB3)
• Salário anual do CEO em 2021: R$ 10,92 milhões
• Média salarial anual dos funcionários: R$ 39.590,71
• Diferença salarial: 276 vezes

10 empresas com MENOR discrepância salarial:

1 – 3R Petroleum (RRRP3)*
• Salário anual do CEO em 2021: R$ 264,33 mil
• Média salarial anual dos funcionários: R$ 313.336,45
• Diferença salarial: 1 vez

2 – Energisa (ENGI11)*
• Salário anual do CEO em 2021: R$ 633,13 mil
• Média salarial anual dos funcionários: R$ 1,06 milhão
• Diferença salarial: 1 vez

3 – Copel (CPLE6)
• Salário anual do CEO em 2021: R$ 879,23 mil
• Média salarial anual dos funcionários: R$ 276.779,48
• Diferença salarial: 3 vezes

4 – Eletrobras (ELET3, ELET6)
• Salário anual do CEO em 2021: R$ 1,03 milhão
• Média salarial anual dos funcionários: R$ 380.338,31
• Diferença salarial: 3 vezes

5 – Petrobras (PETR3, PETR4)
• Salário anual do CEO em 2021: R$ 3,08 milhões
• Média salarial anual dos funcionários: R$ 703.130,30
• Diferença salarial: 4 vezes

6 – Sulamérica (SULA11)
• Salário anual do CEO em 2021: R$ 781,53 mil
• Média salarial anual dos funcionários: R$ 165.369,84
• Diferença salarial: 5 vezes

7 – Sabesp (SBSP3)
• Salário anual do CEO em 2021: R$ 884,03 mil
• Média salarial anual dos funcionários: R$ 189.721,14
• Diferença salarial: 5 vezes

8 – Banco do Brasil (BBAS3)
• Salário anual do CEO em 2021: R$ 1,25 milhão
• Média salarial anual dos funcionários: R$ 277.564,09
• Diferença salarial: 5 vezes

9 – Weg (WEGE3)
• Salário anual do CEO em 2021: R$ 781,49 mil
• Média salarial anual dos funcionários: R$ 140.225,09
• Diferença salarial: 6 vezes

10 – Metalúrgica Gerdau (GOAU4)
• Salário anual do CEO em 2021: R$ 1,40 milhão
• Média salarial anual dos funcionários: R$ 232.579,53
• Diferença salarial: 6 vezes

*Ambas as empresas apresentaram distorções na base de dados. Segundo Renato Chaves e Joaquim Rubens, as divergências podem ser por erro no preenchimento do formulário de referência, mudanças no corpo de funcionários ou distribuição de pagamentos entre diferentes unidades de negócios.

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