“É muito importante destacar que Gorbachev não tinha a intenção de fazer a transição da economia da URSS. O que ele queria era fomentar o desenvolvimento do regime nos padrões anteriores. A União Soviética chegou a crescer 12% ao ano, mas reduziu gradualmente o avanço ao ponto de chegar a 3% nos anos 1980”, diz Cesar Albuquerque, pesquisador da USP.
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No entanto, o legado do político russo pode ser visto como contraditório. O professor explica que, enquanto o Ocidente o considera como um agente libertador da União Soviética, os russos muitas vezes o vêem como um líder fraco que permitiu que o regime soviético se desmanchasse.
“O próprio [Vladimir] Putin diz que a queda da União Soviética foi um dos maiores desastres do século 20, porque ela desestruturou todo aquele modelo que, apesar de se mostrar ineficiente, segurava a Rússia na posição de segunda maior potência do mundo”, diz Honorato.
Quando Mikhail Gorbachev estava no poder, as repúblicas socialistas estavam atrasadas em relação aos países do Ocidente em termos de tecnologia e modernização de produtos e serviços. A ineficiência operacional dificultava a competição internacional e impunha dificuldades à URSS, segundo o professor da FIA Business School.
Abaixo, veja as cinco principais reformas de Mikhail Gorbachev:
Segundo Albuquerque, o modelo político e econômico soviético era excessivamente burocrático por concentrar todas as decisões nos líderes do partido socialista. Isso causava ineficiência e atraso nas decisões cotidianas. “Desde decisões sobre a extração agrícola até a produção e comercialização dos produtos finais dependiam do Estado”.
Gorbachev então deu autonomia para os agentes econômicos e começou a liberar setores de mercados para negociações internacionais. O objetivo não era chegar a um livre mercado, como o das economias ocidentais — onde trocas comerciais podiam acontecer sem a interferência do Estado — mas resultou em um mercado regulado [que obedece a regras criadas pelo Estado] com o passar do tempo.
2. Renovação da liderança e eleições independentes
“A partir de 1987, começa um processo de radicalização da reforma política e o Estado passa a incentivar a participação popular em organizações de comitês regionais. Passam a acontecer eleições independentes em setores específicos”, conta o pesquisador da USP. No futuro, esse movimento culmina no fim do monopólio do Partido Socialista.
3. Abertura da imprensa e fim da censura
Com as tensões internas causadas pelas reformas, o governo de Gorbachev também buscou a aprovação popular para suas mudanças. Para isso, ele retirou a censura da imprensa e de produções culturais.
4. Acordo para fim de testes nucleares
Mikhail Gorbachev conheceu grande parte dos países da URSS, assim como os países ocidentais. O pesquisador da USP conta que isso era um diferencial porque ele entendia que a União Soviética não era perfeita como pregava o Partido Socialista, assim como os países capitalistas não eram um terror.
“Além de ter essa visão externa mais ampla, existia um interesse pragmático em encerrar as disputas da Guerra Fria. A corrida armamentista comprometia 20% do orçamento público e dificultava a liberação de recursos para os esforços que Gorbachev queria promover na economia”, diz Albuquerque.
5. Não interferir na dissolução do bloco
Quando Gorbachev assumiu a liderança da URSS, ela era formada por 15 repúblicas da Europa e da Ásia, e se estendia desde a Ucrânia até a Letônia e o Tajiquistão.
“O movimento mais radical de Gorbachev foi o de não intervir nos processos de dissolução dos regimes socialistas de países do Leste Europeu. Existia uma grande preocupação desses países e do Ocidente de que a URSS iria impedir a transição com o avanço de tanques e repressão. Mas Gorbachev optou por não interferir”, conta o pesquisador da USP.
Nobel da Paz
Em 1990, Mikhail Gorbachev foi laureado com o Nobel da Paz pelo protagonismo nas iniciativas que levaram ao fim da Guerra Fria. Para Albuquerque, o prêmio foi resultado de todas as iniciativas iniciadas em 1985 com a abertura econômica até a tolerância com a dissolução dos regimes socialistas.
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