A corrida presidencial no Brasil, contudo, parece não ser fator de preocupação para o movimento desses recursos em um primeiro momento, com investidores externos mais curiosos do que aflitos sobre o processo eleitoral, e o seu desfecho pode até favorecer a entrada de recursos mais adiante.
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“Não acho que consegue manter o ritmo”, afirmou David Beker, chefe de economia para Brasil e estratégia para América Latina do Bank of America, argumentando que revisões positivas para o país, principalmente sobre crescimento, além de fortes resultados corporativos no segundo trimestre já estão no preço.
Além disso, Beker disse não observar uma mudança da visão para mercados emergentes que aponte manutenção dessa entrada na bolsa brasileira, devido a incertezas principalmente ligadas ao ciclo de alta de juros nos EUA e à atividade econômica na China.
Declarações recentes do chair do banco central norte-americano foram entendidas pelo mercado como sinal de que o Fed está disposto a sacrificar o crescimento da economia para controlar a inflação. Ao mesmo tempo, na China, restrições contra a Covid-19 têm alimentando temores de desaquecimento, e há também preocupações com o setor imobiliário.
O movimento de agosto compara-se com saldos negativos de abril (-7,7 bilhões de reais) e maio (-6,2 bilhões de reais) e os superávits de 427 milhões e R$ 1,85 bilhão em junho e julho. Mas ainda está abaixo dos desempenho do primeiro trimestre do ano, de mais de R$ 20 bilhões por mês.
Para César Mikail, gestor de renda variável da Western Asset, “ceteris paribus” (tudo mais constante), o fluxo deveria continuar, citando entre outros fatores o ‘valuation’ da bolsa brasileira, que continua bastante descontado por diferentes métricas.
Ele ressaltou que o Brasil já fez a lição de casa nos juros, e que logo a discussão será quando a Selic vai começar a cair. E acrescentou o efeito de realocação de outros emergentes sem notícias tão boas, como a própria China.
Nur Cristiani, chefe de estratégia de investimento para América Latina no JPMorgan Private Bank, disse que a volatilidade no mercado brasileiro pode ser catalisada também pelas eleições.
Mas ela chamou a atenção para os recentes números da inflação e as declarações do Banco Central sobre o provável fim do ciclo de alta de juros país. E isso, segundo ela, diferencia o Brasil de outros BCs, como o Fed, onde as dúvidas ainda são se a próxima alta será de 0,50 ponto ou 0,75 ponto percentual.
“Investidores que antecipam o início do corte de juros (no Brasil) em algum momento de 2023 veem os ‘valuations’ atuais como uma oportunidade que não pode ser desperdiçada. Concordamos com a visão”, afirmou, destacando que o Brasil é o mercado preferido do sua equipe na América Latina.
ELEIÇÃO
“Eles não estão necessariamente preocupados, mas buscando entender o que está acontecendo”, afirmou a estrategista de ações para Brasil do Santander, Aline Cardoso, acrescentando que o tema tem dominado as reuniões com clientes estrangeiros.
Uma das razões dessa relativa tranquilidade é o fato de os dois candidatos que lideram as pesquisas serem conhecidos –Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na frente das intenções de voto e que foi presidente de 2003 a 2010, e do presidente Jair Bolsonaro (PL), que aparece em segundo.
“Na média, o investidor estrangeiro não está preocupado com a eleição no Brasil”, reforçou Beker, do BofA. Segundo ele, há dúvidas sobre as políticas econômicas, mas a incerteza não é tão grande como em outras eleições na América Latina, em que venceram candidatos desconhecidos por esses investidores.
“O que se ouve de investidor de portfólio e corporativo é que as pessoas querem ter uma convicção maior do que vai acontecer adiante. Então num período pós-eleitoral pode ocorrer uma descompressão de risco…e é possível que se observe mais fluxo uma vez que esse fator de incerteza ficou para trás.”
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