Por que a herdeira da BASF abriu mão de uma fortuna bilionária

11 de agosto de 2022
Reprodução/Buitenhof

Engelhorn disse que receber o montante seria algo injusto.

Abrir mão de uma herança bilionária não estaria nos planos da maioria das pessoas, mas foi o que Marlene Engelhorn decidiu fazer. A estudante de 30 anos rejeitou receber a fortuna que a avó, Traudl Engelhorn, deixaria para ela.

A matriarca da família da indústria química BASF tem patrimônio estimado em US$ 4,2 bilhões (cerca de R$ 21,47 bilhões), o que lhe garante a 687ª posição no ranking das pessoas mais ricas do mundo da Forbes.

Em entrevista ao podcast Fair&Female, publicado no site austríaco Kleine Zeitung em março deste ano, Engelhorn disse que receber o montante seria algo injusto e, por isso, decidiu doar 90% de sua herança. “Não é possível que uma única pessoa herde uma quantia tão grande sem ter feito nada por isso.”

Acompanhe em primeira mão o conteúdo do Forbes Money no Telegram

“Os super-ricos, como eu, são a sociedade paralela mais problemática que temos. […] Eu não herdo apenas dinheiro, eu herdo poder e oportunidades de vida que são estruturalmente negados aos outros”, complementou ela.

À revista austríaca Der Standard, Engelhorn também explicou que a doação de aproximadamente R$ 19,32 bilhões (caso ela seja a única herdeira do patrimônio) seria “uma questão de justiça”, já que ela apenas teve sorte “na loteria do nascimento”.

“Já que o dinheiro vem da sociedade, é para lá que ele deve voltar”, disse Marlene em março de 2021.

“Quando veio o anúncio [da herança], percebi que eu não poderia ficar feliz com isso. Eu pensei comigo mesma e cheguei à conclusão que algo estava errado e, por isso, deveria fazer alguma coisa a respeito. O autor Bertolt Brecht sempre me vinha à mente: ‘Se eu não fosse pobre, você não seria rico’. Então comecei a levar isso a sério”, acrescentou, dizendo que a riqueza individual está “estruturalmente ligada à pobreza coletiva.”

Em novembro de 2021, a Forbes Áustria também conversou com a jovem. Em entrevista, Engelhorn contou que nasceu em uma “casa grande demais” em Viena e sempre frequentou escolas particulares.

“Uma criança rica e privilegiada, esse é o resumo da minha infância”, relembrou. À época, ela disse que, ao descobrir que ia herdar a quantia de sua avó, inicialmente não sabia o que fazer com ela e, por isso, começou a pedir conselhos às pessoas ao seu redor, e acabou concluindo que não aceitaria a fortuna.

Segundo a estudante de alemão e literatura da Universidade de Viena, sua avó, que é viúva de Peter Engelhorn (bisneto do fundador da Basf), lhe deu uma enorme liberdade para agir como bem entendesse.

“A escolha veio quando entendi que eu não trabalhei um dia pelo dinheiro, além de não pagar um centavo de imposto para receber isso, o que não é justo. Para ser franca: se não houver imposto sobre herança ou riqueza até então, eu mesma farei um.”

E é por isso que ela, ao lado de 49 herdeiros, fundou o ‘Taxmenow’ (taxe-me agora, em português), uma iniciativa para o Estado passar a administrar a maior parte da riqueza de bilionários. Ela defende uma maior redistribuição de renda, além de que mais ricos paguem mais impostos.

“Eu sou incrivelmente privilegiada e sou grata, porque isso também me dá muita liberdade. É um luxo enorme, mas também é uma questão de responsabilidade, e a minha responsabilidade é devolver algo à sociedade. Se esse status me dá a oportunidade de fazer o que eu tenho vontade, então eu também posso fazer isso.”

>> Inscreva-se ou indique alguém para a seleção Under 30 de 2022