Porém, os empresários de três das maiores redes de varejo do país — Americanas, Via e Magazine Luiza — foram cuidadosos ao definir a magnitude dessas expectativas, falando em otimismo “cauteloso” e semestre “mais favorável” a analistas e jornalistas no final da semana passada.
Para além da Copa, e do Natal, executivos ainda mencionaram a Black Friday, em novembro, o recente lançamento da tecnologia 5G, que deve ajudar na venda de celulares, e o aumento do programa Auxílio Brasil para R$ 600.
O otimismo aparece depois que as taxas de juros em seu mais alto pico no Brasil desde 2017 e o maior avanço da inflação em 12 meses em quase duas décadas pressionaram as vendas das varejistas no primeiro semestre.
A receita líquida da Via, dona das bandeiras Ponto e Casas Bahia, caiu 2,5% no primeiro semestre, enquanto a do Magazine Luiza ficou praticamente estável e da Americanas subiu 16,6%. No mesmo período de 2021, as três conseguiram aumento de vendas de 32,7%, 59,8% e 37,9%, respectivamente.
Cruz disse que as vendas da Americanas até esta metade do terceiro trimestre seguem crescendo de forma “consistente” nas lojas físicas, puxadas por produtos de valor médio mais baixo, mas a demanda online por produtos próprios, como eletrodomésticos, “segue tímida”.
A avaliação é que os fatores favoráveis às vendas estão mais concentradas no quarto trimestre, incrementados ainda por efeitos maiores relacionados a uma expectativa de alívio na inflação e estabilidade nos juros.
“As vendas de categorias mais tradicionais de produtos (como móveis, eletrodomésticos e celulares) tendem a refletir a evolução desses indicadores, principalmente inflação e taxa de juros”, disse o diretor financeiro do Magazine Luiza, Roberto Bellissimo.
“Estamos vendo um aumento na demanda entre 30% e 40% por aparelhos 5G (nas cidades em que a tecnologia já foi implementada)”, afirmou Fabrício Bittar, vice-presidente de operações do Magazine Luiza, observando que esses aparelhos tem preço médio acima de R$ 2 mil.
Indústria também na expectativa
“Neste ano ainda tem um evento importante que é a Copa do Mundo quando tradicionalmente há um consumo maior de televisores, produtos de áudio e vídeo e refrigeradores”, afirmou ele. A associação engloba empresas como Philco, LG, Panasonic, Samsung e Whirlpool.
Nos dados até maio, a indústria brasileira amargou queda de 24% nas entregas de produtos ao varejo em comparação a 2021, segundo a Eletros. “Estamos em um momento de crise com retração do consumo e precisamos que o cliente volte a consumir”, disse Nascimento.
Na Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), a expectativa é de “otimismo moderado”. A entidade, que tem como associadas companhias como Siemens, Apple, Dell e Motorola, projeta alta de 9% no faturamento do setor em reais em 2022, contra avanço de 22% em 2021.
Humberto Barbato, presidente-executivo da Abinee, disse que “parece que as varejistas estão conseguindo desovar os estoques”.
A avaliação é reiterada pelas companhias. “Não achamos que os estoques estão elevados, acreditamos que no segundo semestre a perspectiva de venda é melhor… para o que a gente acredita que é possível fazer de crescimento, os estoques já estão normalizados”, disse Frederico Trajano, presidente do Magazine Luiza.
O mercado acionário tem mostrado animação com o setor e as ações das três varejistas – Magazine Luiza, Via e Americanas – têm reduzido perdas acumuladas no ano, conforme novos dados macroeconômicos positivos são divulgados. As três tiveram as maiores quedas dentre as ações do Ibovespa em 2021.