Tanto os financiamentos para pessoas físicas quanto os para as pessoas jurídicas acumulam altas de dois dígitos nos 12 meses até agosto. O saldo de créditos a pessoas físicas chegou a 20,7%, com uma carteira total de R$ 3 trilhões. Para as empresas, o crescimento no período foi de 11,5%, com o estoque total chegando a R$ 2,1 trilhões.
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“Esse volume de crédito alto é um reflexo do nível do caixa das empresas que está baixo ou negativo, e da situação financeira das famílias que está prejudicada. Por isso, mesmo com os juros altos, o crédito ainda é visto como uma solução de curto prazo”, diz o professor.
Segundo Eduardo Vilaim, economista do Banco Original, o rápido ciclo de aumento da taxa Selic nos últimos meses ainda não foi absorvido pelos juros atrelados às novas concessões de crédito.
“Para se ter uma ideia, quando a Selic atingiu 14,25% no passado, os juros para pessoas físicas chegaram a 70% de absorção. Hoje, a Selic se encontra em 13,75%, mas os juros ainda estão em 53,9%”, explica Vilaim.
“Isso provavelmente vai acontecer quando o custo dos juros básicos tiver sido repassado integralmente ao crédito”, diz Vilaim.
2023 chega marcado
De acordo com o mais recente Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado hoje (29) pelo BC, o PIB do Brasil deve crescer 2,7% em 2022. O BC elevou sua projeção, que era de 1,7% no RTI anterior, divulgado em junho. Pelo o Relatório Focus, também do BC, os economistas do mercado financeiro esperam que a inflação seja de 5,88% e que a taxa Selic encerre o ano nos atuais 13,75%.
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Isso porque o cenário para o próximo ano será bem diferente. Em 2022, a economia brasileira contou com incentivos fiscais do governo federal para aquecer a economia e se aproveitou do aumento da demanda internacional. Vários países procuraram novos parceiros comerciais, ou aumentar as relações com os existentes, para se recuperarem da pandemia.
O cenário de 2023 é outro. “Vemos os Estados Unidos e a Europa em vias de ter uma recessão. A China também enfrenta um desaquecimento econômico. E o governo que se eleger para 2023 terá que arcar com uma série de desarranjos fiscais”, diz Galvão.
Além disso, os juros terão sido absorvidos e o custo do crédito será maior. Para o professor, tudo isso indica que a economia irá andar de lado no próximo ano, um termo usado para indicar fraco crescimento.
“Essa combinação será refletida no aumento da inadimplência por parte das empresas e, principalmente, das famílias”, afirma Galvão.
Cartão de crédito cheio e caixa vazio
O capital de giro das empresas com prazo inferior a 365 dias subiu 67,9% em agosto frente a julho. Para Vilaim, isso indica que as companhias estão contratando crédito para arcar com custos de curto prazo. O economista também indica que o financiamento de importações aumentou 6% no mês passado, o que sugere que os custos de importação subiram e é necessário tomar crédito para financiar a atividade.
“São duas linhas de crédito que chamam a atenção porque contam uma história interessante de como está a situação financeira das empresas. É natural esperar que a desaceleração econômica que deve ocorrer em 2023 traga alguma perda no ímpeto de crédito para pessoas jurídicas”, diz Vilaim.
Para as pessoas físicas, o cenário que Galvão vê é de priorização das dívidas a partir do próximo ano. “As famílias devem priorizar bens de consumo, como água, energia e alimentos. Dívidas de vestuário, eletrodomésticos e veículos devem ficar em segundo plano”, diz o professor que vê uma relação direta da inadimplência com o problema de caixa das empresas.
Atualmente, o endividamento das famílias já está em níveis recordes, de 53,1%, alta de 5,1% em 12 meses. Já o comprometimento de renda chegou em 28,6%, com variação positiva de 3,8% em um ano.
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