A situação rara –uma vez que o valor da gasolina na bomba geralmente é mais influenciado pela Petrobras– ocorre em função de estoques baixos do biocombustível, em meio a uma safra de cana atrasada e forte direcionamento da matéria-prima para produção de açúcar, produto de exportação mais rentável que o etanol.
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“O etanol tem potencial para subir porque os estoques de anidro estão baixos… essa safra está sendo muito peculiar, a indústria perdeu dias de moagem em um número muito maior do que temos observado em anos anteriores”, afirmou o presidente da consultoria Datagro, Plínio Nastari, explicando os efeitos das chuvas para o processamento de cana e o mercado de combustíveis.
Mas ele ressalvou que, para a Datagro, a referência de preço da gasolina no Brasil é a cotação da Petrobras, que está há mais de 40 dias sem reajustar os preços do combustível em suas refinarias.
“Se algum agente, seja Acelen, ou importador que importa e vende gasolina A a níveis diferentes do preço de venda da Petrobras, pode acontecer… mas não é um fator que muda a realidade do preço de referência principal”, disse Nastari.
A expectativa é que os preços do etanol permaneçam com tendência altista nas próximas semanas, apontou o consultor sênior de petróleo gás e renováveis da StoneX, Smyllei Curcio.
Assim como Nastari, ele ainda citou que os produtores de etanol que têm fôlego financeiro estão segurando vendas para janeiro, quando impostos federais (PIS/Cofins) de combustíveis devem voltar, elevando a competitividade do biocombustível frente à gasolina e proporcionando melhores retornos.
“Outro motivo é que tem chovido bastante…, o que tem dado uma desacelerada na colheita”, pontuou Curcio.
“O que se desenha até o momento é um volume moído de cana menor na região centro-sul, 18 usinas já com a moagem encerrada, exportações fortes, estoques baixos e, ainda, perspectiva de valorização da gasolina por conta do comportamento do preço do petróleo nas últimas semanas”, disse o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em nota nesta semana.
Já o sócio-diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Pedro Rodrigues, também citou como causa do aumento da gasolina um movimento de tentativa de melhorar as margens pelo setor de postos combustíveis.
“Vale lembrar que o preço da gasolina é livre no Brasil, ou seja, significa dizer que os donos dos postos podem precificar o produto conforme sua necessidade. O principal fator, na minha opinião, é que em razão das quedas sucessivas no preço alguns postos tenham visto a possibilidade de aumentar suas margens sem prejudicar o consumo”, disse Rodrigues à Reuters.
Defasagem?
A defasagem em relação ao mercado externo já dura duas semanas, mas, em meio às eleições presidenciais, não há expectativas de que a Petrobras possa mexer nos valores.
Um diretor da estatal disse recentemente que a empresa está “próxima ao valor de mercado” e “demora” mais para repassar a subida do petróleo para beneficiar a sociedade.
Os cálculos da Abicom, contudo, levam em consideração a conta de importação de players menores.
Mas o avanço dos preços do petróleo Brent no mercado externo, que na máxima de outubro chegou a subir 10% ante o fechamento de setembro, também está impactando nas bombas do país.
“A Acelen (dona da Refinaria de Mataripe), diferentemente da Petrobras, tem seguido a paridade de importação, então ela reajustou os preços dela nas últimas semanas. Só em outubro somou uma variação positiva na ordem de 40 centavos”, afirmou o sócio da Raion Consultoria Eduardo Melo.
Localizada na região metropolitana de Salvador (BA), a refinaria vendida pela Petrobras no ano passado tem capacidade para processar mais de 300 mil barris de petróleo por dia, o que corresponde a 14% da capacidade total de refino do Brasil e mais da metade do abastecimento do Nordeste brasileiro.