Empreendedores desenvolvem plantas que eliminam a poluição do ambiente

30 de outubro de 2022
Divulgação

Lionel Mora e Patrick Torbey, fundadores da Neoplants

Em um laboratório em Paris, Lionel Mora e Patrick Torbey estão projetando uma planta doméstica que pode remover poluentes e capturar compostos orgânicos voláteis da atmosfera. Um exemplo é o formaldeído, prejudicial à saúde humana. Após quatro anos de trabalho, a Neoplants está lançando sua primeira planta feita com bioengenharia, a Neo P1.

A empresa afirma que ela pode remover 30 vezes mais poluentes do que uma planta doméstica comum e diz também que será possível aumentar ainda mais essa eficiência no futuro. “Nós as chamamos de plantas com um propósito”, disse Mora, CEO da empresa, em entrevista à Forbes. “Não vejo nada mais importante do que construir um futuro mais sustentável.”

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Na última década, dezenas de empresas de biologia sintética surgiram com o objetivo de projetar produtos melhores e mais sustentáveis. A pandemia de Covid-19 só acelerou o processo, já que a qualidade do ar em ambientes fechados se tornou ainda mais importante para consumidores e empresas.

Desde sua fundação em 2018, a Neoplants levantou US$ 20 milhões em rodadas de investimento de empresas como a True Ventures e Collaborative Fund, bem como os empreendedores Dan Widmaier (Bolt Threads), Emily Leproust (Twist Bioscience), Niklas Zennstrom (Skype) e Arnaud Plas (Prosa).

A companhia ainda não está gerando receita, mas informou que espera começar a receber pedidos no início de 2023. O mercado principal serão os Estados Unidos, focando em incorporadoras imobiliárias e redes de hotéis.

“Isso é visionário, direto ao ponto e resolve um problema.”, diz Widmaier, que conheceu Mora e Torbey em uma conferência em Londres antes da pandemia. “As plantas são interessantes porque uma vez que você consegue uma que funciona, você está apenas criando plantas. Acho isso incrivelmente elegante e poderoso em um mundo que precisa ver novas tecnologias da biologia sintética”.

Embora o foco recentemente tenha sido a filtragem de ar para o Covid, os compostos orgânicos voláteis, ou COVs, que a Neoplants tem como alvo – formaldeído, benzeno, tolueno e xileno – têm sido um grande problema em ambientes fechados. O formaldeído, usado em madeiras manufaturadas e em muitos produtos domésticos comuns, pode causar ardência nos olhos, tosse, dores de cabeça e irritação na pele mesmo em níveis baixos.

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A Agência de Proteção Ambiental dos EUA descobriu que os níveis de COVs em ambientes fechados, onde passamos a maior parte do tempo, geralmente são duas a cinco vezes maiores do que em ambientes externos. A Neoplants não tem como alvo vírus, e Torbey diz que “filtros mecânicos sempre serão melhores para filtrar vírus do que plantas”.

Mora, de 32 anos, nasceu na Áustria e cresceu no sul da França, onde seus pais eram professores. Desde criança ele já tinha uma veia empreendedora. Na adolescência, vendia cartões de visita para cabeleireiros. Após a escola de negócios na Emlyon Business School em Lyon, França, ele trabalhou no Google como gerente de marketing de produto por mais de quatro anos. Ele diz que ficou ansioso para fazer algo que tivesse um impacto social maior. “É uma síndrome típica do milênio, mas estou bem com isso”, diz ele.

Torbey, de 33 anos, cresceu nos arredores de Beirute, Líbano, onde seu pai era pediatra e sua mãe professora. Ele recebeu seu Ph.D. em edição de genoma da Ecole Normale Superieure em Paris. “Quando eu estava fazendo meu doutorado, dei cursos sobre como criar seu dragão. Como você pode usar essas ferramentas genéticas para criar algo mágico?” ele diz.

Apesar de suas origens diferentes, eles se conectaram na hora que se conheceram na incubadora de startups Station F em Paris. Em pouco tempo Torbey abordou a ideia de construir um organismo que tivesse uma função. “Estamos cercados por lindas plantas domésticas e pensamos: ‘Bem, este é um organismo icônico muito simples’”, diz Mora, observando que 80% das famílias já têm plantas em suas casas. “A função mais poderosa que poderíamos dar a ela seria limpar o ar.”

Em 2018, eles lançaram a Neoplants. Eles começaram a focar na planta pothos, comumente chamada de jibóia, uma planta doméstica básica que é extremamente resistente e se dá bem em vários ambientes. Suas grandes folhas e seu crescimento acelerado permitem que absorva muitos poluentes. Essas são grandes vantagens para a criação de um produto comercial. Mas eles também enfrentaram uma desvantagem.

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Não houve nenhuma pesquisa significativa sobre o pothos. Outra desvantagem: ingerir pothos é venenoso, tornando-se uma má opção para quem tem animais de estimação. “Trabalhamos em plantas que ninguém estudou antes”, diz Mora. “Esta é uma das coisas que provavelmente foi o maior desafio. Nós estamos começando no escuro.”

No laboratório da Neoplants, Torbey e sua equipe sequenciaram o genoma do pothos e depois desenvolveram dezenas de protótipos de plantas que refinaram as capacidades daquela encontrada na natureza. Os empresários melhoraram a planta pela engenharia de seu metabolismo molecular, permitindo converter VOCs em matéria vegetal em vez de armazená-los como poluentes.

Eles também trabalharam no microbioma da planta, essencialmente sobrecarregando a comunidade de fungos e bactérias benéficas que vivem dentro da planta para metabolizar com mais eficiência esses VOCs. Além disso, a dupla também personalizou o solo da nova planta usando biocarvão, uma substância semelhante ao carvão, para melhorar sua eficiência na eliminação de poluentes. O processo de modificação de uma planta é conceitualmente direto e difícil na prática.

Durante a entrevista, Mora tira uma pequena planta de sua bolsa que está em um recipiente fechado. Parece uma planta doméstica comum, semelhante a um filodendro. “Este é um pothos dourado”, diz ele. “É muito fofo e muito bonito.” As plantas reais serão muito maiores quando estiverem prontas para venda. O Neo P1 fica em um suporte alto projetado sob medida que maximiza suas propriedades de limpeza de ar e permite que seja regado com muito menos frequência.

Testes iniciais, realizados em parceria com a Ecole Mines-Telecom da Universidade de Lille, mostraram que a nova planta era até 30 vezes mais eficaz na remoção de COVs do ar do que as plantas mais eficientes encontradas na natureza. “Nosso primeiro produto equivale a 30 plantas de casa comuns”, diz Mora. “Estamos muito orgulhosos disso.”

Embora a empresa tenha sede em Paris, a dupla também criou uma companhia nos EUA, e Mora diz que agora está finalizando um acordo com um grande produtor de plantas domésticas na Flórida para transformar as plantas pesquisadas em laboratório em um produto comercial.

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A nova planta, que precisa receber aprovação do Departamento de Agricultura dos EUA sob seus regulamentos para plantas ornamentais geneticamente modificadas, será vendida por US$ 179 (R$ 931), incluindo o suporte autoirrigável e três meses de gotas para melhorar o microbioma.Depois disso, Mora planeja lançar regularmente novos produtos e adicionar novos recursos às suas plantas existentes.

Para fazer pesquisas futuras, a empresa está construindo um laboratório de pesquisa avançado de 3,6 mil metros quadrados no subúrbio de Paris de Saint-Ouen-Sur-Seine, que deve ser inaugurado em novembro.

Até que ponto sua planta de bioengenharia poderia ser mais eficiente continua sendo uma questão em aberto. “Não quero me sentir estúpido em 10 anos”, diz Torbey. “Eu realmente não sei qual é o limite. A tecnologia quando se trata de plantas ainda está muito recente.”

A longo prazo, a dupla espera desenvolver plantas que possam combater as mudanças climáticas ao ar livre por meio da captura de carbono, uma tarefa muito mais complexa do que projetar plantas domésticas.

A tecnologia que eles desenvolveram também pode ser útil para a descontaminação do solo, diz Mora. Como ele diz: “Nossa estratégia é começar a trabalhar em um caso de uso em que possamos lançar um produto no mercado o mais rápido possível e nos permitir avançar para a captura de carbono com credibilidade científica”.

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