Fundos setoriais crescem no financiamento do agronegócio

18 de outubro de 2022
Krisanapong detraphiphat_Guettyimages

“O advento do Fiagro e a listagem de mais empresas relacionadas ao agronegócio aumentaram o interesse dos investidores”, diz Bruno Santana, fundador e CEO da Kijani

Em fevereiro deste ano, o fundador e CEO da gestora de recursos Kijani, Bruno Santana, especializada em fundos dedicados ao segmento agrícola, comemorou os resultados da captação do primeiro Fiagro (Fundo de Investimento do Agronegócio) lançado pela empresa, o Asatala. Os investidores aportaram R$ 24o milhões. A segunda captação, em setembro, foi ainda mais bem-sucedida: o follow-on levantou R$ 334 milhões, mais de 10% acima da meta de R$ 300 milhões. “O advento do Fiagro e a listagem de mais empresas relacionadas ao agronegócio na bolsa aumentaram o interesse dos investidores pelo setor”, diz  Santana. “Queremos navegar esse momento de mercado.”

Os números da Kijani mostram o interesse dos investidores pelo setor. Os Fiagro são um produto recente. Começaram a ser negociados há cerca de dois anos, ainda servindo-se de uma regulamentação provisória da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) que utilizou o arcabouço legal dos Fundos de Investimento Imobiliário (FII) e dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (Fidc).

Atualmente, cerca de 85 mil investidores já colocaram aproximadamente R$ 6 bilhões nos Fiagro. E a conta não para de subir. Há pouco mais de 30 Fiagros abertos à captação, a maioria com cotas negociadas na B3. Os mais populares têm investimento inicial a partir de modestos R$ 10,00.

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O campo, sem trocadilhos, é vasto. No ano, até setembro, o agronegócio brasileiro produziu cerca de R$ 1,2 trilhão. Isso representa cerca de 14% do PIB estimado para 2022. O setor é profundamente dependente dos recursos públicos. O Plano Safra, principal programa de apoio à produção agrícola nacional, disponibiliza R$ 340 bilhões para a atividade no ciclo que se encerrará em junho do ano que vem.

Esse valor não é suficiente para cobrir as necessidades de investimento. “O agro do Brasil produz mais de R$ 1 trilhão em valor de mercado. Na média, os agricultores são 70% alavancados. Trata-se de mais de R$ 700 bilhões de necessidade de investimento”, disse Vitor Duarte, CIO da gestora Suno Asset em um evento dedicado a fundos imobiliários, em agosto.

Esse dinheiro atualmente vem de financiamento com os fornecedores de insumos, de reinvestimento dos recursos e há uma participação pequena do mercado de capitais. Isso deve mudar, porém. “Hoje o Fiagro é o instrumento mais importante quando falamos em dívida agrícola. É um segmento que tem crescido muito”, diz Santana.

A meta da gestora é lançar outros fundos setoriais do agronegócio, apostando na diversificação. “O agro tem os seus ciclos e, para ganhar com isso é preciso diversificar.” Ele afirma que suas carteiras são diversificadas. “Nós originamos a maior parte das nossas operações, que estão espalhadas pelos diversos nichos de atividade”, diz ele.

Por exemplo, os fundos compram títulos originados por empresas que atuam na estocagem de grãos, na produção de alimentos, nas embalagens e na distribuição. “Nós acreditamos que o papel do mercado de capitais no financiamento do agronegócio brasileiro será cada vez mais importante”, afirma.

A vantagem brasileira e o impacto da guerra

Segundo Santana, o foco no agro é justificado devido às características nacionais do setor. O País é um dos maiores produtores e exportadores das dez principais commodities agrícolas. “Somos extremamente competitivos e estamos na vanguarda tecnológica”, diz Santana. Com outra vantagem: “O mundo depende do Brasil para se alimentar.”

Santana avalia que o impacto da invasão russa à Ucrânia no mercado foi menor do que o esperado. “O agronegócio é uma cadeia global. O que nós produzimos aqui no Brasil, é necessário para alimentar quase 1/3 da população mundial. Para isso acontecer, existe uma série de conexões estabelecidas, seja de grãos e fertilizantes, por exemplo. A pandemia já tinha trazido impactos, com as safras acontecendo em meio a esse cenário”, explica Santana.

“Os empresários, no entanto, aprenderam a lidar com esse cenário mais incerto, conseguindo gerenciar e trazer bons lucros para o setor. Quando olhamos para o futuro, acreditamos que as coisas caminharão bem”, diz o executivo.

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