O outro, a mais longo prazo, foi sobre os juros americanos. Ontem (5), a taxa dos títulos do Tesouro americano de dois anos, mais sensível às decisões de política monetária, subiu sete pontos-base (centésimos de ponto percentual) para 4,171% ao ano. A taxa dos títulos de 10 anos, que são referência no mercado, subiu mais ainda. Avançou 16 pontos-base, para 3,779% ao ano.
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Juros e inflação
Desde março deste ano, o Fed (o banco central americano) vem elevando os juros para conter a inflação. No caso dos Estados Unidos, o que vem pressionando os índices de preços são a escassez de mão-de-obra e os preços elevados dos combustíveis.
O mercado de trabalho segue apertado, mas essas limitações são mais fáceis de resolver. A expectativa é que mais americanos voltem a procurar empregos após terem resolvido se aposentar ou tentar novas carreiras durante a pandemia.
Os combustíveis, porém, continuam sendo um problema. Os preços do petróleo explodiram e chegaram a US$ 120 dólares nos primeiros dias da invasão russa à Ucrânia. A causa foram temores do mercado de interrupção do fornecimento russo. Porém, vários países liberaram seus estoques estratégicos de petróleo durante o segundo e o terceiro trimestre, o que reduziu os preços. No fim de setembro, o barril de petróleo chegou a ser negociado a US$ 85, nível em linha com as cotações anteriores à guerra na Ucrânia.
Impactos no mercado
Juros altos nos Estados Unidos afetam o mercado financeiro como um todo. Eles elevam a rentabilidade dos títulos de renda fixa americanos, tanto públicos quanto privados. Isso piora o desempenho das empresas e derruba os preços das ações. Mais do que isso, torna o ambiente mais adverso para empreendedores, sejam da economia tradicional, sejam das startups tecnológicas.
O aumento da remuneração dos títulos do Tesouro americano, que são o principal porto seguro para investidores temerosos, faz o dólar se apreciar frente às demais moedas, o real brasileiro entre elas. Com isso, os preços da cesta básica denominados em dólar, como os principais alimentos, ficam mais caros em todo o mundo. Isso eleva os índices de preços mais ainda. Fazendo uma comparação mecânica: os preços do petróleo são um excelente combustível para acelerar os motores da inflação global.
Xadrez geopolítico
Há bons motivos para acredita que a solução vai demorar. A decisão da Opep+ tem várias implicações geopolíticas. Pela primeira vez desde o início da pandemia, a medida foi tomada após uma reunião presencial dos diretores dos países-membros da Organização. O encontro foi realizado na sede da Opep em Viena, com a presença de todos os dirigentes, inclusive o vice-primeiro-ministro russo, Alexander Novak.
Na reunião, os países-membros da Opep+ concordaram no corte de 2 milhões de barris por dia na produção, o que representa 1,5% de redução na oferta global. Isso ocorre em um mercado estruturalmente apertado. Desde o início da década passada, a redução dos investimentos em prospecção e exploração fez com que quase todos os países-membros da Opep tenham produzido menos do que o combinado. Isso os coloca em uma posição de força para negociar preços, algo que será aproveitado pelo governo de Vladimir Putin para enfraquecer as sanções impostas à Rússia por Estados Unidos e União Europeia.
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