A remuneração adicional esteve no centro de uma polêmica que atingiu o Nubank em abril deste ano, quando o banco informou ao mercado previsão de pagamento total de até R$ 816 milhões aos diretores e conselheiros em 2022, gerando discussões nas redes sociais. Mais de 80% do valor era referente a efeitos contábeis do acordo de Vélez.
A decisão de Vélez também ocorre após queda no valor das ações do Nubank ante o IPO. A remuneração era baseada na performance das ações do banco em bolsa.
Acontece que as ações do Nubank, que saíram a US$ 9 (R$ 47,76) cada no IPO e chegaram a US$ 12,24 (R$ 64,95) na estreia, fecharam ontem (28) a US$ 4,22 (R$ 22,39). Ou seja, teriam que subir em mais de quatro e oito vezes, respectivamente, para a ativação do pagamento.
O Nubank estimou o valor justo da remuneração em US$ 423 milhões (R$ 2,2 bilhões), um cálculo que, entre outras especificidades, tem como base números da época do acordo. Na prática, o valor recebido por Vélez seria maior, já que implicaria uma avaliação mais alta da empresa.
Questionado se a queda nas ações foi um fator para abrir mão da potencial remuneração, Vélez disse à Reuters que o programa foi “muito mal interpretado pelo mercado” no início do ano, já que ele era “muito, muito ambicioso”. Portanto, a decisão de desistir do pagamento não tem “nada a ver com o desempenho da ação no curto prazo”, afirmou.
Vélez, que já havia se comprometido a doar todas as ações que ganhasse com a remuneração extra para a plataforma filantrópica de sua família, disse que a decisão foi baseada no atual cenário macroeconômico de altas taxas de juros.
“Cheguei à conclusão que o melhor para a empresa neste momento é fazer esse cancelamento dado o quão caro é o programa para a empresa”, afirmou Vélez. “Isso nos permite navegar um ambiente mais turbulento com muito menos peso e de maneira mais ágil”, acrescentou.
Economia
O Nubank disse que a economia contábil esperada entre novembro de 2022 a 2029 será de US$ 356 milhões (R$ 1,8 bilhão), à medida que o banco não precisará mais reconhecer o efeito contínuo da potencial concessão futura da remuneração.
A desistência da remuneração também evitará potencial diluição dos outros acionistas, em até 2% do total de ações ordinárias, disse o Nubank.
Vélez também descartou a possibilidade de um novo acordo similar no futuro, à medida que disse já estar “muito bem remunerado” com sua fatia de cerca de 20% na empresa, por meio da holding Rua California.
“Do ponto de vista da companhia, é um ganha-ganha muito relevante”, disse Guilherme Lago, diretor financeiro do Nubank, que falou à Reuters ao lado de Vélez. Ele citou a economia com despesas e destacou que “ao mesmo tempo a gente atinge isso mantendo o David super alinhado com o resto dos acionistas da empresa”.
O Nubank, que tinha 70 milhões de clientes em setembro entre Brasil, México e Colômbia, fechou o terceiro trimestre com lucro líquido ajustado de US$ 63,1 milhões (R$ 334 milhões), acima das estimativas de analistas. A ação ainda está longe dos US$ 9 (R$ 47,76) do IPO, mas se recuperou frente ao valor mínimo de US$ 3,3 (R$ 17,51), em junho.