Em seu pedido, a companhia informou que a dívida total, após a descoberta das irregularidades contábeis anunciadas no dia 11 de janeiro, era de R$ 43 bilhões. Isso é mais do que o dobro do endividamento divulgado no resultado mais recente. No fim do terceiro trimestre de 2022, a Americanas informava dever “cerca de R$ 20.791 bilhões, sendo 89% desse montante dívida de longo prazo, enquanto o restante correspondia a dívidas de curto prazo”
No pedido de recuperação, a companhia informou que “a posição de caixa estimada totalizava aproximadamente R$ 8 bilhões (…) considerando R$ 3 bilhões que a companhia esperava obter com operações de recebíveis de cartão de crédito), o que representaria 6,4 vezes o valor da dívida de curto prazo.”
Drenagem de caixa
As consequências são potencialmente gravíssimas, diz o pedido. “O risco, então, caso não seja deferido o imediato processamento desta recuperação judicial, é de um absoluto aniquilamento do fluxo de caixa do Grupo Americanas, o que impedirá o cumprimento de obrigações diárias indispensáveis ao exercício da atividade empresarial.”
Para piorar, informou a empresa, os sucessivos rebaixamentos de sua nota pelas agências de classificação de risco de crédito (“rating”) como a Fitch, Moody’s e Standard And Poor’s fizeram com que os bancos se recusassem a antecipar recursos por meio da antecipação de recebimentos de cartões de crédito.
Os próximos passos
Uma recuperação judicial é um procedimento jurídico em que uma empresa que não consegue pagar suas dívidas (nem negociar com os credores) pede para o processo ser intermediado pela Justiça. Se a Americanas não conseguir pagar, os bancos podem pedir sua falência. Por isso ela pediu a recuperação judicial, abreviadamente chamada RJ.
O que ocorre com as ações
As ações da Americanas deverão ser retiradas do Ibovespa no fim do primeiro pregão após a Justiça aceitar o pedido de recuperação judicial, o que deve ocorrer em breve. Os advogados não se arriscam a antecipar os imprevisíveis prazos do Judiciário, mas não se descarta a hipótese de isso ocorrer ainda hoje.
Com a retirada das ações do Ibovespa, os fundos e ETFs que reproduzem a carteira teórica do índice precisam tirar também as ações da Americanas de suas carteiras, o que deve manter as cotações em baixa. Os papéis passarão a ser negociados em um segmento específico de empresas em recuperação judicial.
Os títulos de renda fixa também deverão perder valor no mercado secundário. Com a aceitação da RJ pela justiça, os pagamentos de juros e do principal entram na fila, junto com os demais credores – e a preferência é dos trabalhadores e do Fisco. Por isso alguns fundos de renda fixa que investem nesses títulos já informaram perdas.