Muitos documentos, visitas constantes a cartórios, burocracia jurídica, não se trata de um processo fácil e a experiência ruim dos irmãos resultou na ideia de uma empresa: Cidadania4u, uma startup especializada em pedidos de cidadania com processo 100% digital. “Nosso lema é: não saia de casa”, diz Rafael Gianesini, CEO da empresa.
Formado em sistemas de informação, Rafael trabalhava como diretor de integração no Banco do Nordeste quando decidiu abrir a startup com o irmão. Ambos optaram por lançar a empresa no mercado somente quando todo o sistema do Cidadania4u estivesse completo, para que a experiência dos clientes fosse realmente 100% digitalizada.
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Com três amigos trabalhando como freelancers no desenvolvimento da plataforma com Rafael, levou um ano até que fosse possível trabalhar com o primeiro cliente, em 2019.
“Quando conseguimos ajustar o sistema, aí descobrimos outras dificuldades. Apanhamos muito do processo comercial e de marketing no início. Eram pessoas de TI tentando captar clientes. Não deu muito certo. Precisei correr atrás de cursos e de pessoas especializadas para o negócio não quebrar logo no começo”, conta Rafael.
No primeiro ano, o faturamento chegou a R$ 1 milhão, mas o CEO conta que o valor não cobria os investimentos feitos na plataforma. Todos os custos foram arcados pelos irmãos, que empreenderam totalmente independentes.
Em 2020, o sistema já estava 100%, mas a captação de clientes ainda capengava. Com a ajuda de uma consultoria, revisaram processos, montaram treinamentos e focaram na contratação de pessoas especializadas para fazer o negócio decolar. Deu certo, mesmo na pandemia. O faturamento subiu para R$ 3,9 milhões em um ano, com o ponto de equilíbrio atingido.
Desde então, o Cidadania4u só cresce. Em 2022, o faturamento fechou em R$ 56,5 milhões – acima da meta de R$ 54 milhões e mais do que o dobro do ano anterior. O número de clientes chegou a 9,25 mil famílias com processos em andamento ao mesmo tempo (muitos dos processos envolvem mais de um parente, daí não contar os clientes individualmente).
“Quando fizemos a pesquisa em agências, muitas disseram que só conseguiam atender até cinco famílias ao mesmo tempo. Então nossa meta no começo era atender mais de cinco famílias simultaneamente. Estamos em 9 mil, então acho que conseguimos”, brinca Rafael.
100% digital
Com mais de 200 funcionários, são 14 times para atuar em todas as frentes, desde as comuns a qualquer empresa, como administrativo, comercial e tecnologia, até as áreas especializadas, como pesquisa genealógica, traduções de petições e jurídico in loco na Itália e em Portugal.
A startup ainda conta com uso de inteligência artificial em alguns processos, para ajudar na análise de documentações, envio de orçamentos e dúvidas.
Rafael conta que um processo de cidadania tem muitas etapas. Por meio de agências e na embaixada brasileira há casos em andamento há pelo menos uma década. O objetivo da startup é agilizar o processo e oferecer comodidade para o cliente.
A atriz Grazi Massafera foi uma das clientes do Cidadania4u para conseguir sua cidadania italiana. Por meio do serviço de busca genealógica, a atriz descobriu um trisavô, chamado Carmini Massafera, que nasceu em 1868 na região da Calábria, na Itália.
Desde outubro do ano passado, o CEO conta que o número de pedidos de orçamentos aumentou muito. O chatbot do WhatsApp chegou a fazer 25 mil orçamentos em um único mês. Rafael conta que foi um reflexo do período eleitoral. “A cidadania é um plano B para muitas pessoas. Tem muitos que não querem, de fato, sair do país, mas querem ter a possibilidade, ter ao alcance sem ter muito trabalho”, diz.
A projeção de faturamento para 2023 é o dobro do ano anterior: R$ 110 milhões. Janeiro deste ano registrou o melhor faturamento mensal da startup, de R$ 5,7 milhões.
Todo dinheiro investido é próprio, dos lucros do negócio. Os irmãos não receberam nenhum investimento até o momento e ainda não tem planos concretos no curto prazo nesse sentido.
“Fomos independentes desde o início e isso é importante para a gente colocar em prática nossas ideias. Investimos muito em tecnologia e no nosso time, com investidores de fora, essa autonomia fica mais limitada. Não descartamos a possibilidade, mas não é uma prioridade no momento”, diz Rafael. E brinca “por enquanto, somos dois sócios pobres, em uma empresa rica.”