Emprego nos Estados Unidos seguirá elevado e pressionando a inflação

6 de fevereiro de 2023
Getty Images

Sede do Google: demissões no setor de tecnologia são pouco relevantes no total

Divulgados na sexta-feira (3), os dados do emprego americano referentes a janeiro superaram todas as expectativas. O “non farm payroll”, ou criação de empregos não agrícolas, indicou a abertura de 517 mil vagas no mês passado. Esse resultado foi 130% superior às 223 mil vagas abertas em dezembro, e foi quase três vezes maior que a projeção, que era de 185 mil novas vagas. Além disso, o índice de desemprego caiu de 3,6% em dezembro para 3,4% em janeiro, o menor percentual desde 1969.

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Essas notícias podem ter surpreendido boa parte dos profissionais do mercado, mas pelo menos uma pessoa já esperava um resultado assim. Segundo Nela Richardson, economista-chefe da empresa de processamento de dados americana ADP, as empresas americanas seguem contratando. “A taxa de desemprego está baixa de maneira geral, e em alguns lugares a situação é inédita”, diz ela. “Em estados como Utah, o nível de desemprego é de apenas 2%.” As empresas localizadas no estado vêm tendo muita dificuldade em contratar.

Tecnologia

A ADP foi fundada em 1949 para processar folhas de pagamento, e segue fazendo isso, em grande escala. “Processamos as folhas de pagamento de um em cada seis empresas americanas”, diz Richardson. Isso proporciona à ADP uma visibilidade excelente sobre a temperatura do mercado de trabalho. E, segundo a economista, os patrões americanos ainda devem seguir contratando por bastante tempo. “A maioria das empresas ainda não repôs todos os trabalhadores dispensados durante e imediatamente após a pandemia do coronavírus”, diz ela.

Empresas de tecnologia como Google e Facebook têm anunciado cortes significativos de seu pessoal. No entanto, isso não representa um alívio para a escassez de mão-de-obra nos Estados Unidos. “As demissões no setor de tecnologia são muito visíveis, mas não afetam muito a economia como um todo”, diz a economista. Segundo ela, essas empresas são conhecidas, empregam mão de obra especializada e pagam bons salários. No entanto, não são tão relevantes em termos estatísticos. “O setor emprega cerca de 2% dos trabalhadores americanos”, diz Richardson. “Atividades como hotelaria e lazer são muito mais relevantes, e esses setores seguem contratando.” Isso pressiona a “inflação dos salários”, um dos pontos mais importantes na avaliação da economia americana.

Inflação

Como o custo da mão de obra é relevante para as empresas, isso quer dizer que a inflação seguirá elevada, apesar do aumento dos juros. Em teoria, o dinheiro mais caro desestimula as empresas a contratar e até leva algumas delas a reduzir suas equipes, o que libera trabalhadores no mercado. Porém, isso não deverá ser suficiente para reverter o quadro inflacionário.

“Melhorar a oferta de mão de obra não será um remédio milagroso para conter a inflação”, diz ela. “Há algumas distorções que vão demorar para ser resolvidas.” Um bom exemplo é o setor americano de construção civil. Intensivo em mão de obra e pesadamente dependente de trabalhadores imigrantes, o setor tem se ressentido da falta de operários. “Cerca de um terço das pessoas que trabalham com construção civil nos Estados Unidos vêm da América do Sul”, diz a economista. “A redução da imigração fez com que haja poucos trabalhadores disponíveis, o que reduz a oferta de novos imóveis e mantém os preços da moradia elevados.”

Como as despesas com habitação representam cerca de 40% da cesta de inflação, isso quer dizer que os juros americanos permanecerão elevados por mais tempo. Em seu pronunciamento mais recente, Jerome Powell, presidente do Fed (Federal Reserve), o banco central americano, disse que as principais variáveis que o Fed iria acompanhar para definir a política monetária americana são as do mercado de trabalho: nível de emprego, oferta e demanda de vagas e custos da mão de obra.