17 dicas do investidor bilionário Mario Gabelli

18 de março de 2023
Foto: JEFF BROWN/ Forbes USA

Mario Gabelli diz que o trabalho árduo e o networking o ajudaram a se tornar um investidor bilionário

Um velho (e cáustico) ditado do mercado acionário diz que o modo mais fácil de se tornar um milionário especulando na Bolsa é começar como bilionário. Isso não se aplica a Mario J. Gabelli. Aos 80 anos, o descendente de imigrantes italianos nascido no Bronx veio de uma família modesta. Porém, após 55 anos investindo, ele acumulou um patrimônio de US$ 1,7 bilhão (R$ 8,93 bilhões).

Gabelli aprendeu cedo o valor do trabalho duro e da educação. Seus pais estudaram apenas até a sexta série, mas o jovem Mário era um estudante brilhante e sempre teve vocação empreendedora. Ainda menino ele carregava sua caixa de engraxate pelo Bronx e por Manhattan. A partir dos 12 anos, pedia carona e fazia longas viagens de ônibus para trabalhar como carregador de tacos de golfe em clubes de elite no rico subúrbio de Westchester County, em Nova York.

Muitos sócios trabalhavam em Wall Street e suas conversas durante os jogos inevitavelmente tratavam de ações. O jovem adolescente do Bronx prestava atenção. Comprou suas ações ainda antes de começar o ensino médio: Beech Aircraft, Philadelphia & Reading, IT&T e Pepsi-Cola.

O bom desempenho escolar rendeu a Gabelli uma bolsa de estudos para a Fordham University, onde se formou em contabilidade em 1965. Imediatamente após a formatura ele ganhou outra bolsa de estudos. Desta vez para a escola de negócios da Universidade Columbia, onde Warren Buffett estudou com Benjamin Graham, e onde, três décadas antes, haviam se desenvolvido os conceitos de análise de ações e de “value investing”.

Após se formar, em 1967, Gabelli trabalhou como analista, cobrindo automóveis, equipamentos agrícolas e conglomerados. Ele abriu sua própria empresa de pesquisa em 1977 e começou a administrar fundos logo depois. Sua gestora, a Gabelli Asset Management Company (GAMCO), tem US$ 30 bilhões (R$ 157 bilhões) sob gestão. Seu fundo mais conhecido, o Gabelli Asset Management Value, rende 14,1% ao ano em média desde 1977, ante 11,5% do principal índice de ações de Wall Street, S&P 500.

A estratégia de investimentos de Gabelli busca determinar por quanto uma empresa de capital aberto seria adquirida. Seu método inclui o valor de mercado mais a dívida líquida. A maioria dos investidores se baseia nos fluxos de caixa futuros descontados a valor presente. Após definir o “valor intrínseco” de uma empresa, Gabelli, como outros investidores em valor, busca ações que estejam cotadas abaixo desses valores.

Algumas de suas ações favoritas neste momento são de empresas de autopeças, jogos e entretenimento. Gabelli acha difícil ignorar a valorização exponencial das equipes esportivas. Em fevereiro, o investidor bilionário Marc Lasry vendeu sua participação no time de basquete Milwaukee Bucks por US$ 3,5 bilhões (R$ 18,36 bilhões), 52% acima da avaliação de US$ 2,3 bilhões (R$ 16,80 bilhões) calculada pela Forbes em novembro de 2022. Gabelli investe no Madison Square Garden Sports, dono do time de basquete New York Knicks e do time de hóquei New York Rangers. Ele também possui ações do Liberty Braves Group, controlador do time de beisebol Atlanta Braves, da Georgia. Cassinos e empresas aeroespaciais também o atraem. Gabelli falou com a Forbes americana. A seguir, os principais trechos da entrevista:

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FORBES: Como você descreveria seu estilo de investimento?

GABELLI: Eu acho que é simples. Me formei em contabilidade em Fordham e estudei finanças e impostos na pós-graduação de Columbia. Você basicamente analisa relatórios anuais. Mas o mais importante é acompanhar as indústrias. Ler todas as revistas especializadas, ir a todas as conferências, comparar cinco, seis empresas. Quando visitar a empresa X, que faz pastilhas de freio, aproveite e pergunte como está o setor. Na empresa Y pergunte sobre a empresa X. E assim por diante.

A maior mudança para mim como analista foi quando o Muro de Berlim caiu. Fui presidente da Auto Analysts de Nova York. Costumávamos ir à China e ao Japão no início dos anos 1980. Eu já estava no Japão. Mas não era para investir, era só para entender o que estava acontecendo. Quando o Muro de Berlim caiu, em novembro de 1989, percebemos que precisávamos nos tornar globais. Nossos analistas olham para setores em que temos conhecimento acumulado. E mesmo assim nós erramos. Mas é como o beisebol. Se você errar menos que acertar, você vai se sair bem.

Olhando para trás em sua carreira de investidor, voltando para os anos 1960, 1970, há algum investimento que você considere realmente ótimo?

Bem, tive muita sorte em cobrir a indústria de radiodifusão. E como eu fazia locução, realmente consegui entender o impacto da inflação no faturamento, na margem bruta e no fluxo de caixa. Em segundo lugar, tive muita sorte de ter Tom Murphy e Dan Burke administrando uma empresa chamada Capital Cities. Eu vi o que eles fizeram. Reinvestiram os lucros, compraram a ABC e depois a fundiram com a Disney. Tom faleceu no ano passado. Ele compreendeu melhor que ninguém onde estava a demanda, entendeu todas as regras e regulamentos, a estrutura fiscal e como conduzir o negócio.

Também investi em serviços. Em Manhattan investíamos em uma empresa de detetives chamada Pinkerton. Em Briarcliff havia a Burns Detective Agency e na Flórida ficava a Wackenhut. A Pinkerton estava em baixa, e Warren Buffett era um grande investidor. Então comecei a ler sobre o que Warren estava fazendo, como ele estava em Columbia e tinha [Benjamin] Graham como professor. Graham era sócio de Jerry Newman, que dirigia Filadélfia e Reading (uma ferrovia), que foi uma das minhas primeiras ações. Quando comecei um dos meus fundos, comprei Berkshire Hathaway (a empresa de Buffett).

Você já cometeu algum erro?

O que aconteceu foi o seguinte: fui para Los Angeles e visitei Earl Scheib. Eles pintavam qualquer carro, de qualquer cor, por US$ 19,95. Eles tinham um ótimo negócio, mas se recusaram a fazer algumas coisas, como se transformar em reparo e manutenção. E mantive a ação por 30 anos. Portanto, é um enorme custo de oportunidade, a perda de retorno sobre o capital. Depois tivemos outras empresas que faliram e ensinam a lição de não investir em companhias muito alavancadas, especialmente quando os juros começam a subir.

Que ações você está comprando agora?

Existem dois tipos. Neste momento, em um mundo ideal, você teria um bom negócio com boa gestão por um valor baixo. Ontem estávamos olhando para um bom negócio, ótima gestão, mas está caro, 25 vezes lucros. Há momentos, quando os juros estão altos, e não estou dizendo que chegamos nele ainda – em que você compra barato um bom negócio com uma administração ruim. Porque alguém vai comprar essa empresa para consolidar o setor e vai elevar o Ebitda sem muito esforço.

Pode dar alguns exemplos?

Alguém me lembrou outro dia que escrevi um relatório sobre uma empresa chamada Manitowoc, que fabrica guindastes. Começamos a comprar a ação por US$ 8. De repente, devido à Lei de Redução da Inflação e do IIJA, eles vão ganhar muito dinheiro na melhoria da infraestrutura. A ação passou de US$ 8 para US$ 18, e a empresa não é nada inspiradora. Outra pouco inspiradora que vai ficar famosa é a fabricante de empilhadeiras Hyster-Yale Material Handling, localizada em Cleveland. O valor de mercado de US$ 480 milhões (R$ 2,52 bilhões). Tem algumas dívidas, mas eles vendem equipamentos na China.

Tenho ações da Strattec Security, de Milwaukee, quatro milhões de ações a US$ 20 (R$ 105). Bom balanço patrimonial, sem dívidas, operações na China, na Europa e no México. Eles fazem a porta traseira do Ford Lightning, então estão nos veículos elétricos. Mas eles também fazem outra coisa. Por exemplo, se você tem um carro e perde as chaves, qualquer pessoa vai procurar um chaveiro. Eles têm o “DNA” de cerca de 80% dos 290 milhões de carros nos Estados Unidos e estão envolvidos com uma empresa alemã que pode ajudá-lo em todo o mundo.

Existe alguma coisa que você acha que é muito importante para os investidores saberem?

Se você é um investidor jovem, de 20 anos, que cresceu jogando Fortnite, você quer provavelmente ganhos no curto prazo. Minha recomendação é: pense no longo prazo. Essa é a noção de composição de valor durante um longo tempo. Tenho um gráfico que uso quando dou palestras na faculdade sobre como se tornar um bilionário. Recomendo economizar um café (e isso não é uma crítica à Starbucks) e investir esse dinheiro. Você está investindo US$ 35 (R$ 184) em uma semana, e cresce em 4%, 6%, 8% ao ano. Onde você vai estar daqui a 40 anos? E se quiser expandir mesmo, tome uma cerveja a menos. E se você tiver a sorte de ter um avô ou pai que pode iniciar um plano de investimento para a universidade, o governo permitirá que você pegue uma parte disso e coloque em uma conta de aposentadoria.

 (Traduzido por Monique Lima)