Startup brasileira de recrutamento levanta milhões para entrar nos EUA

27 de março de 2023
Divulgação/Paulo Liebert

Cammila Yochabell, fundadora da Jobecam

A startup de recursos humanos Jobecam está prestes a dar um novo passo em seu plano para ajudar a reduzir o viés no recrutamento por meio da tecnologia. A startup brasileira fundada pela empresária Cammila Yochabell se prepara para entrar no mercado norte-americano, auxiliada por um programa de intercâmbio de talentos e novos investidores, incluindo o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga.

Fundada em 2016, a plataforma de Yochabell pode ser descrita como o “The Voice” do departamento de RH – uma referência ao reality show de canto, onde os juízes inicialmente não veem o competidor. A plataforma permite que os candidatos enviem suas informações e currículos, mas detalhes como gênero e raça são omitidos – os recrutadores conhecem apenas as habilidades do candidato.

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Usando inteligência artificial (IA) e machine learning, o sistema classifica os candidatos mais adequados para o trabalho. A entrevista inicial ocorre com um avatar gerado automaticamente e um nome fictício. Em fases posteriores do processo de recrutamento, as empresas podem optar por ver a identidade do candidato ou continuar o processo anonimamente.

Com uma carteira de clientes que inclui nomes como a consultoria Accenture e o grupo farmacêutico Novo Nordisk, a empresa atua no Brasil e em alguns mercados da América Latina, como Colômbia, México e Chile. A startup está agora em um processo de pouso para entrar no mercado dos EUA, apoiada por um programa internacional de intercâmbio e retenção de talentos criado pela empresa de capital de risco IDL Ventures.

“Buscamos reduzir vieses inconscientes nas tomadas de decisão [de recrutamento] de forma mais eficiente, garantindo mais diversidade, inclusão e alinhamento com as leis de recrutamento dos Estados Unidos. O foco é ajudar as organizações a reduzir seus custos com processos seletivos, atrair talentos e, consequentemente, ter mais diversidade nas contratações por meio de nosso modelo de entrevista anônima em vídeo”, disse Yochabell em entrevista à Forbes.

A empresa afirma reduzir os custos de contratação em cerca de 80% e aumentar a diversidade no recrutamento em 70%, tendo facilitado mais de 200 mil entrevistas com candidatos de grupos sub-representados somente no Brasil desde a sua criação. A meta é aumentar o número para 1 milhão em um ano.

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Investimentos e estratégia para o futuro

Aproximadamente 30% de uma rodada inicial de R$ 4 milhões (US$ 760 mil) recentemente levantada pela startup brasileira irá para o processo de expansão nos Estados Unidos, enquanto o restante irá para a comercialização e melhoria do produto. O ex-presidente do Banco Central, Fraga, e o economista Daniel Gleizer, outro ex-diretor do Banco Central e atual investidor, lideraram o investimento e estão otimistas com a expansão e os planos da startup.

“A estratégia do Jobecam converge com a minha visão de construir um país mais igualitário do ponto de vista socioeconômico. Para melhorar nossa realidade desafiadora, precisamos dar mais atenção às questões de raça, gênero e sexualidade. E acredito no diferencial da Jobecam para nos ajudar a avançar nessa agenda”, disse Fraga.

Segundo Yochabell, o objetivo inicial nos EUA é impulsionar a adoção da ferramenta para admissão de estudantes universitários. A empresa já tem um cliente nos Estados Unidos e espera que o negócio se auto ajuste no curto prazo. No entanto, a startup está estruturando uma rodada ponte de cerca de US$ 2 milhões nos EUA e já está em negociações com investidores.

As empresas precisam continuar perseguindo suas agendas de diversidade e inclusão, disse a fundadora, devido ao aspecto social e ao impacto econômico que isso pode trazer. “Alguns anos atrás, essa agenda ainda era considerada um modismo por muitas empresas, mas hoje em dia a maioria já entendeu que precisa se adequar a essas demandas. Caso contrário, perderá dinheiro, bons funcionários e lidará com as repercussões negativas de suas marcas.”

Sobre o futuro da Jobecam no curto prazo, a fundadora destaca que o Brasil continua sendo um mercado atraente, mas precisa evoluir muito na frente de diversidade e inclusão. Por exemplo, de acordo com Yochabell, o tokenismo – a prática de fazer apenas um esforço superficial ou simbólico para ser inclusivo para membros de grupos minoritários – ainda é um tema em muitas empresas. Outros acreditam que o método de entrevista anônima ajudará a esconder preconceitos.

“Acredito que entrando no mercado americano, vamos ganhar mais força e conseguir aumentar o conhecimento corporativo no Brasil de uma forma mais robusta.” (Traduzido por Vitória Fernandes)

Angelica Mari é jornalista sênior e comentarista que cobre o espaço de tecnologia e inovação em português e inglês há duas décadas.