Goldman Sachs: Petrobras seguiria lucrativa com nova política de preços

14 de abril de 2023

O que aconteceria se a Petrobras (PETR4) mudasse a sua política de preços? A assembleia de acionistas para aprovar a nova diretoria da companhia está agendada para o dia 27 de abril. A data é aguardada com ansiedade pelo governo federal. Desde a campanha eleitoral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro que pretendia alterar as práticas de preços da estatal.

Recentemente, Lula reiterou essa intenção: “Vamos mudar, mas com muito critério. Durante a campanha eu disse que era preciso abrasileirar o preço da gasolina e diesel. O Brasil não tem porque estar submetido ao preço internacional”, afirmou em conversa com jornalistas.

Segundo o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, a nova política seria a de “preços de competitividade interna”. Uma mudança que a estatal afirmou, via fato relevante, que não está em curso e nem sendo debatida atualmente. Entretanto, analistas acreditam que isso pode mudar com a nova diretoria.

Qual seria a reação do mercado? Forbes Brasil teve acesso a um relatório do banco de investimentos americano Goldman Sachs que traça diferentes cenários para a petroleira com a possível mudança em sua política de preços.

Acompanhe em primeira mão o conteúdo do Forbes Money no Telegram

Petrobras x lucros

O primeiro destaque – e mais importante – é que dificilmente a empresa deixaria de ser lucrativa. Para os analistas, a lucratividade da empresa pode ser prejudicada. No entanto, se a diferença entre o preço do petróleo bruto e os produtos petrolíferos extraídos, conhecida como spread global, estiver normalizada, eles ainda veem a companhia entregando fluxo de caixa (FCF) e lucro operacional por barril (Ebitda/bbl) positivos.

Isso vai ocorrer ainda que a Petrobras abandone a metodologia atual, que é a Paridade de Preços de Importação (PPI). Adotada desde 2016, a PPI considera o custo no porto internacional de onde o petróleo seria importado mais as despesas de transporte e de internação, como os gastos portuários e de transporte até as bases de distribuição. Já a Paridade de Preços de Exportação (PPE) é o inverso. Ela considera o que seria ganho ao exportar o petróleo, considerando o valor de exportação em um porto brasileiro, supondo-se a opção de exportar mercadoria em vez de consumir internamente.

No entanto, apesar de a Petrobras seguir lucrativa, sua avaliação fica mais apertada e o interesse dos investidores internacionais poderia diminuir. “Notamos que, se a paridade de exportação prevalecer e os spreads convergirem para a média histórica em diesel e gasolina (US$ 14 e US$ 7, respectivamente), o rendimento do fluxo de caixa convergiria para meados de 14% no período entre 2024 e 2025”, dizem os analistas.

E completam. “Investidores buscam um rendimento mínimo de fluxo de caixa de 15% para ações de petróleo de mercados emergentes, uma vez que os mercados desenvolvidos oferecem 11%, em média. [Eles] exigem um prêmio maior de mercados emergentes devido ao maior risco e volatilidade”, escrevem Bruno Amorim, João Frizo e Guilherme Costa Martins.

Os analistas também expõem uma segunda situação. Se a política de preços mudar para paridade de exportação, mas os spreads permanecerem no nível atual (US$ 30 o barril para diesel e US$ 18 o barril para gasolina), a Petrobras negociaria com um rendimento médio de 20% o fluxo de caixa no período entre 2024 e 2025.

Leia mais: 

Cenários PPI x PPE

PPI com spreads atuais: 26% de rendimento médio FCF
PPE com spreads atuais: 20% de rendimento médio FCF
PPI com spreads médios: 19,5% de rendimento médio FCF
PPE com spreads médios: 14% de rendimento médio FCF

Preços para os consumidores

Segundo os analistas do Goldman Sachs, embora a mudança da PPI para a PPE possa resultar em mudanças significativas nos preços dos combustíveis na saída do refino, para os consumidores, eles veem os efeitos “suavizados”, devido aos efeitos dos impostos, diluição etanol/biodiesel, entre outros fatores.

Eles informam que consideraram em seus cálculos a retomada dos impostos federais (zerados para o diesel até o fim do ano, enquanto as taxas para a gasolina são parciais), com o detalhe de que o governo determinou que a cobrança do novo imposto seja por litro, não mais uma porcentagem dos preços.

“Notamos que a proposta de ICMS por litro para a gasolina é superior à média nacional atual de cobrança de R$ 0,25, portanto, isso pressionaria ainda mais os preços para o consumidor, mesmo em um cenário de preços do barril Brent atrasados e estáveis para menores spreads”, diz o relatório.

Em suma, para o diesel, eles estimam que em qualquer política de preços (PPI ou PPE) a tendência é de queda dos preços para os consumidores (mesmo contabilizando a retomada dos impostos).

Por outro lado, para a gasolina, que tem uma carga tributária maior, os analistas veem pouco espaço para preços mais baixos, mesmo que a Petrobras mude para a PPE e os spreads fiquem na média. “Ainda veremos apenas preços estáveis da gasolina na bomba. Isso poderia potencialmente pressionar a empresa a reduzir os preços da gasolina na refinaria, mesmo abaixo do PPE inicial, a fim de reduzir os preços na bomba”, diz o relatório.

Exemplo dos emergentes

O Goldman Sachs traz o exemplo de três países emergentes e suas práticas de preços de combustíveis para comparação. São eles China, Índia e África do Sul.

Na China, o governo estabelece um teto de preço para os produtos refinados, que leva em consideração o preço do petróleo bruto e uma margem teórica de refino (definida pelo governo). Essa margem representa o preço máximo que os mercados podem negociar (os empresas podem operar abaixo do teto).

Além disso, para os preços do petróleo abaixo de US$ 40 o barril, os preços dos combustíveis não são ajustados para baixo e a diferença é colocada em um fundo de reserva, usado para fins relacionados à energia. Já os preços internacionais do petróleo bruto acima de US$ 130 o barril, os produtos refinados não são ajustados para cima (ou apenas ligeiramente ajustados), protegendo os clientes do aumento dos preços do petróleo no exterior.

Desde 2017 os preços do diesel e da gasolina são ajustados diariamente na Índia. O país considera fatores como a cotação internacional do petróleo, os impostos, os custos do transporte e outros.

Na prática, os analistas afirmam que os preços não são atualizados diariamente e o governo possui flexibilidade para definir os valores, principalmente por meio do ajuste de impostos sobre combustíveis. “Em geral, notamos a adesão aos preços internacionais, mas também reconhecemos alguma discricionariedade na fixação dos preços dos combustíveis”, escrevem os analistas.

Por fim, a África do Sul reajusta os seus valores mensalmente, na primeira quarta-feira de cada mês. “O governo realiza o cálculo dos preços dos combustíveis diariamente e a variação mensal do preço é inferior aos preços internacionais em 1 mês”, descreve o relatório do Goldman.

Basicamente, os preços da gasolina são compostos por um elemento internacional que é o custo de importar os combustíveis de uma refinaria estrangeira e transportá-lo até a costa sul-africana (essencialmente paridade de preço de importação, ou PPI). Além disso, o governo inclui impostos, taxas e margens para chegar ao preço pago pelo consumidor.