Por que a parceria da Apple com o Goldman Sachs é o futuro dos bancos

29 de abril de 2023
Foto: Getty Images

O lançamento do novo produto ocorre em um momento em que os bancos regionais estão lutando após a crise do Silicon Valley Bank (SVB) para manter suas bases de clientes

Na semana passada, a Apple efetivamente elevou as expectativas no setor bancário dos Estados Unidos. Isso porque, enquanto um banco médio está pagando menos de meio por cento ao ano em valores depositados na poupança, a empresa de tecnologia anunciou que ofereceria retornos anuais de 4,15% aos poupadores – sem mínimos, sem bloqueios e com seguro do FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation), equivalente americano do FGC (Fundo Garantidor de Crédito).

O lançamento do novo produto ocorre em um momento em que os bancos regionais estão lutando após a crise do Silicon Valley Bank (SVB) para manter suas bases de clientes.

Tecnicamente, a Apple não tem uma licença bancária. A empresa está usando uma das frentes do Goldman Sachs Bank USA, também conhecido como Marcus, que tem uma licença estadual e é segurado pelo FDIC. No jargão das fintechs, a Apple é um neobanco, mas conta com a força incomparável de sua marca, dado que existem mais de dois bilhões de iPhones em todo o mundo, agora servindo como rede de agências do Goldman.

De acordo com a pesquisa anual realizada pela empresa de pesquisas Gallup, a “Confidence in Institutions”, no ano passado, antes do SVB, apenas 27% dos norte-americanos disseram ter “muita” confiança em seus bancos. Esse número caiu de seu pico de 60% em 1979.

Em contraste, a Apple alcançou o primeiro lugar pelo décimo ano consecutivo em 2022 no ranking anual Global Best Brands da Interbrand. O único banco a entrar no top 25 foi o JPMorgan, classificado em 24º lugar, logo à frente do YouTube.

“A Apple está em alta velocidade e muitos bancos estão dirigindo a 30 km/h na faixa da direita”, diz Dan Ives, analista da Wedbush Securities.

Leia também:

A nova conta poupança de alto rendimento está disponível apenas para clientes com cartão de crédito da Apple, o Apple Card. Esses usuários podem ter uma conta configurada em minutos e suas recompensas de gastos, chamadas de dinheiro diário, são canalizadas automaticamente para a conta de alto rendimento.

A conta será exibida em um painel na carteira digital da Apple, onde os usuários poderão acompanhar seu saldo e juros ganhos. O produto permite que a Apple ofereça mais um benefício fixo do iPhone, fortalecendo sua carteira digital integrada.

“A ideia é realmente manter tudo no ecossistema”, diz David Donovon, vice-presidente executivo de serviços financeiros da empresa de consultoria Publicis Sapient.

Os depósitos estão se tornando uma fonte maior de financiamento para o banco à medida que cresce o negócio de instituições de consumo e transações. A conta de poupança de 4,15% da Apple deve turbinar essa tendência.

Outras iniciativas

A nova conta é apenas a mais recente de uma série de ofertas financeiras de alto perfil da blue chip da tecnologia de Cupertino. No mês passado, a empresa começou a oferecer uma linha de crédito própria destinada ao consumo, um “compre agora, pague depois” (“buy now, pay later”), dando aos consumidores a opção de dividir os pagamentos em quatro parcelas sem juros ou taxas.

Em julho, a Apple lançou o toque para pagar, permitindo que os varejistas aceitassem pagamentos com cartão diretamente de seus iPhones. Ao oferecer produtos financeiros como esses para consumidores e varejistas, a Apple está se integrando a todos os aspectos da vida de seus clientes, ao mesmo tempo em que cobra taxas de furto e faz vendas cruzadas de seus próprios produtos.

Leia também:

Em todos os seus produtos financeiros, o Goldman Sachs opera em segundo plano, apesar de sua própria reputação formidável, sugerindo que eles estão apostando que os clientes não valorizam mais as colunas de mármore e as histórias veneráveis nas quais milhares de instituições financeiras redundantes seguradas pelo FDIC continuam a apostar.

O Goldman Sachs, de 154 anos, é essencialmente um player de infraestrutura não muito diferente da Evolve e Cross River, provedores bancários como serviço sem marca que atendem a outras fintechs.

“São parcerias como essas que podem basicamente tornar os bancos invisíveis”, diz Chris Nichols, diretor de mercado de capitais do SouthState Bank.