Americanas identifica indícios de fraude em resultados passados

13 de junho de 2023

Parte dos acionistas incluiam nomes como Jorge Paulo Lemann, Carlos Sicupira e Marcel Telles

Foto: Americanas/Divulgação

Loja da Americanas

As demonstrações financeiras da Americanas (AMER3) vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da empresa, segundo relatório de assessores jurídicos apresentado ao conselho de administração da companhia, afirmou nesta terça-feira (13) em comunicado ao mercado a varejista que está em recuperação judicial.

A Americanas afirmou que o efeito dos ajustes decorrentes das fraudes nos resultados da companhia ao longo do tempo ainda está sendo apurado, “mas a expectativa da administração é de que o impacto nos resultados mais recentes seja significativo”.

O relatório, apresentado na segunda-feira (12) ao conselho de administração da empresa, foi baseado em documentos entregues pelo comitê de investigação independente e documentos complementares identificados pela administração e seus assessores após reuniões com o comitê.

O documento também indica a participação na fraude do ex-presidente-executivo Miguel Gutierrez, que se desligou da empresa em dezembro de 2022, bem como de outros ex-diretores e ex-executivos, e afirma que houve esforços da diretoria anterior para ocultar a real situação do resultado e patrimonial, segundo o fato relevante da empresa.

Não foi possível obter um posicionamento de Gutierrez de imediato.

A Americanas revelou em janeiro a descoberta de inconsistências contábeis da ordem de cerca de 20 bilhões de reais. O rombo contábil iniciou uma crise na empresa que a fez pedir recuperação judicial.

De acordo com a Americanas, as informações do relatório, associadas aos trabalhos de refazimento das demonstrações financeiras históricas, levaram ao entendimento de que a fraude se dava predominantemente em operações como contratos de verba de propaganda cooperada e instrumentos similares (“VPC”).

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Esses incentivos comerciais usualmente utilizados no setor de varejo “teriam sido artificialmente criados para melhorar os resultados operacionais da companhia como redutores de custo, mas sem efetiva contratação com fornecedores”, segundo a Americanas.

“Esses lançamentos, feitos durante um significativo período, atingiram, em números preliminares e não auditados, o saldo de 21,7 bilhões de reais em 30 de setembro de 2022.”

Além das operações de VPC, a Americanas disse que a diretoria anterior contratou financiamentos nos quais a companhia é devedora perante bancos, sem as devidas aprovações societárias, todas inadequadamente contabilizadas no balanço patrimonial da 30 de setembro de 2022 na conta fornecedores.

As operações de financiamento de compras — risco sacado, forfait ou confirming — somam 18,4 bilhões de reais e as operações de financiamento de capital de giro alcançam 2,2 bilhões, em números preliminares e não auditados nos dois casos.

A Americanas disse que também foram identificados lançamentos redutores da conta de fornecedores oriundos de juros sobre operações financeiras, que deveriam ter transitado pelo resultado da companhia ao longo do tempo, totalizando, em números também preliminares e não auditados, saldo de 3,6 bilhões.

A companhia afirmou que os ajustes contábeis definitivos estarão refletidos nos demonstrativos financeiros históricos auditados que serão reapresentados assim que os trabalhos estiverem concluídos.

Ainda conforme o fato relevante, o conselho de administração orientou a companhia e os assessores a apresentar o relatório a todas as autoridades competentes e avaliar as medidas visando ao ressarcimento dos danos causados pela fraude.

Após a notícia, as ações da Americanas, apresentavam, por volta das 11h52, alta de 9,48%, negociadas a R$ 1,27. No entanto, nos últimos 12 meses os papéis acumulam queda de 90,45% .