IPCA desacelera mais que o esperado em maio e taxa em 12 vai abaixo de 4%

7 de junho de 2023
Ricardo Moraes/Reuters

A meta para a inflação este ano é de 3,25%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, medida pelo IPCA

A inflação ao consumidor brasileiro desacelerou com mais força do que o esperado em maio, levando a taxa em 12 meses abaixo de 4% pela primeira vez em dois anos e meio, em um movimento de desinflação em curso no Brasil que deve intensificar apostas sobre o início do ciclo de cortes de juros pelo Banco Central.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,23% em maio, depois de ter avançado 0,61% em abril. O resultado é o mais fraco desde setembro de 2022 (-0,29%) e ficou bem abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters de um avanço de 0,33% do índice.

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O resultado divulgado nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) levou o IPCA a acumular nos 12 meses até maio taxa de 3,94%, contra 4,18% antes.

A expectativa para a taxa em 12 meses era de uma alta de 4,04%, e ela atinge assim o patamar mais fraco desde outubro de 2020 (+3,92%), última vez em que ficou abaixo da marca de 4%..

A meta para a inflação este ano é de 3,25%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, medida pelo IPCA.

O Banco Central manteve a taxa básica de juros em 13,75% em maio e a expectativa do mercado na pesquisa Focus é de manutenção no encontro deste mês do Comitê de Política Monetária (Copom), com início dos cortes em setembro.

Mas o resultado do IPCA deve ampliar a discussão sobre o esperado início do afrouxamento monetário e sua intensidade, e pode desencadear novas críticas do governo à condução da política monetária. O resultado mais fraco do que o esperado do IPCA-15 em maio já havia alimentado apostas de uma antecipação dos cortes na Selic pelo Banco Central.

Em maio, os grupos de Transportes (-0,57%) e de Artigos de residência (-0,23%) foram os únicos a registrar queda.

No caso de Transportes, destacam-se os recuos nos preços das passagens aéreas (-17,73%) e combustíveis (-1,82%), com quedas do óleo diesel (-5,96%), da gasolina (-1,93%) e do gás veicular (-1,01%).

Alimentação e bebidas, grupo com maior peso no índice, também ajudou no resultado do IPCA do mês ao apresentar forte desaceleração da alta de 0,71% em abril para 0,16% em maio, com queda nos preços das frutas (-3,48%), do óleo de soja (-7,11%) e das carnes (-0,74%).

Entre os grupos com altas de preços, Saúde e cuidados pessoais teve o maior impacto ao subir 0,93% no mês, sob peso de plano de saúde (+1,20%) e itens de higiene pessoal (+1,13%).

A inflação de serviços, acompanhada de perto pelo Banco Central e que vinha mostrando resiliência em meio a um mercado de trabalho aquecido, também mostrou movimento benigno ao registrar variação negativa de 0,06% em maio, depois de subir 0,52% em março, acumulando em 12 meses avanço de 6,51%.

O índice de difusão, que mostra o espalhamento das variações de preços, caiu em maio a 56%, de 66% no mês anterior.

O BC volta a se reunir em 20 e 21 de junho para deliberar sobre a política monetária. O presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, avaliou nesta semana que a inflação está melhorando, mas ainda de forma lenta, principalmente no caso dos núcleos, que medem os preços menos voláteis, que ele destacou terem queda “bastante lenta”.

Analistas dizem que o IPCA deve voltar a acelerar no segundo semestre, quando o efeito da redução de impostos de 2022 sair da conta e a reoneração pesar no cálculo do índice. A pesquisa Focus aponta expectativa de que 2023 termine com alta de 5,69% do IPCA.