O sucesso da Barbie vai chegar em Wall Street?

21 de julho de 2023
Warner/Divulgação

Estreia nos cinemas, alta nos pregões: Goldman Sachs elevou o preço alvo das ações da Mattel

Excetuando-se eremitas residentes em cavernas sem energia, todos sabem que nesta quinta-feira (20) ocorreu a estreia de “Barbie”, filme estrelado por Margot Robbie e Ryan Gosling. A obra atraiu a atenção mundial. E isso inclui até as pessoas cuja imagem está longe de ser associada à boneca vestida de rosa: os analistas de Wall Street. A pergunta de vários bilhões de dólares é: todo mundo está falando na Barbie. Isso vai alavancar as vendas da Mattel e justifica comprar suas ações?

O mercado, como sempre, já se animou. Desde o início do ano até o fechamento da sexta-feira (21), as ações da Mattel, que são listadas na Nasdaq, acumularam uma valorização de 18,4%, em linha com a variação do índice de ações S&P 500, que subiu 18,6%. Porém, boa parte da alta dos papéis da fabricante de brinquedos ocorreu nos últimos quatro meses, período no qual as ações se valorizaram cerca de 30%. Coincidentemente, quando o lançamento do filme começou a atrair a atenção mundial.

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Os preços podem continuar subindo? Segundo o respeitado banco de investimentos americano Goldman Sachs, sim. O banco aumentou sua meta de preço da Mattel para US$ 24, uma alta potencial de 13,7% em relação aos US$ 21,14 de fechamento da sexta-feira. Em sua avaliação, os analistas do banco consideram três fatores: as receitas com o filme em si, as receitas com vendas de brinquedos e novas obras que podem ser transportadas das prateleiras das lojas para as telas dos cinemas.

1) Sucesso de bilheteria

As previsões de bilheteria nos Estados Unidos para o fim de semana de estreia de “Barbie” variam de US$ 75 milhões a US$ 159 milhões. O filme tem críticas positivas com uma classificação de 90% no Rotten Tomatoes. A Mattel fez de tudo para garantir que o interesse dos espectadores fosse transferido para as vendas. A empresa já lançou uma linha de produtos inspirada no filme e também receberá uma participação nos resultados dos cinemas. Como ela não participou em nada dos custos de produção, a receita será resultado líquido.

2) Vendas de produtos e licenciamentos

A Mattel é líder na venda de bonecas, ainda a maior fonte de receita da empresa fundada em 1945. Só a Barbie gerou US$ 1,5 bilhão em receita em 2022, em linha com o US$ 1,2 bilhão em 2013. O crescimento pequeno é padrão da indústria: as taxas de natalidade vêm caindo e os jogos eletrônicos, principalmente online, cresceram exponencialmente nesse período.

Há razões para otimismo. O esforço cinematográfico da Nintendo ajudou as vendas de sua principal marca de videogames, o Super Mario Bros. O filme arrecadou US$ 1,3 bilhão desde o lançamento, no início deste ano, mas não está ajudando as vendas de videogames de forma significativa.

A Mattel fechou novos acordos de licenciamento para vários produtos que devem aumentar sua receita de licenciamento. “Ela fechou dezenas de parcerias que licenciam a marca Barbie para empresas de consumo, a fim de elevar a conscientização e o entusiasmo entre os consumidores muito além da boneca tradicional”, escreveu Stephen Laszczyk, analista do Goldman Sachs. A estimativa do banco é que essas taxas representem de 10% a 20% das receitas do produto.

3) Filmes de outros brinquedos da Mattel

O sucesso da estratégia do filme Barbie deve-se ao CEO da Mattel, o israelense Ynon Kreiz, que assumiu o cargo em 2018 para transformar um negócio em dificuldades. Antes de sua gestão, a empresa estava vendo queda de receita a cada ano e não era lucrativa. Essas tendências se inverteram e as ações responderam dobrando de valor nos últimos três anos. Para os analistas, ainda que o sucesso financeiro do filme “Barbie” não seja tão estrondoso quanto o de bilheterias, ele deve justificar vários lançamentos semelhantes.

A Mattel tem pelo menos 45 linhas de produtos, e vários deles são muito adequados para os cinemas. Por exemplo as franquias Hot Wheels, Major Matt Mason e Uno, apenas para citar alguns. Há outra comparação, além da Nintendo: a concorrente Hasbro superou a pandemia graças à franquia Transformers. Com o sucesso do filme, a franquia foi expandida para jogos digitais e criou uma série nos cinemas. A Mattel tem tudo para seguir um caminho semelhante, beneficiando os acionistas

Investidores institucionais

A Mattel foi fundada em 1945 em Los Angeles por três sócios, Harold Matson, apelidado de “Matt”, e pelo casal Elliot e Ruth Handler. O nome Mattel veio da junção do apelido de Matson com as primeiras letras do primeiro nome de Elliot. A empresa criou alguns brinquedos bem-sucedidos que ainda estão no mercado, como a Bola 8 Mágica. Porém, o primeiro grande sucesso (e o maior até hoje) foi a Barbie, lançada em 1959.

O casal Handler seria destituído do cargo pelas autoridades em 1974, após uma investigação comprovar que a empresa havia falsificado seus demonstrativos financeiros. Em 1980, Ruth vendeu suas ações para a fundação da empresa de apoio à infância, e a companhia tornou-se uma “corporation”. Atualmente, a Mattel não tem um dono: os maiores acionistas são gestoras de investimentos, que controlam a empresa por meio de fundos. Assim, a alta das ações não deverá provocar grandes alterações na lista de bilionários da Forbes.