O CEO da Hermeus, AJ Piplica, e seus cofundadores acreditam que esse é o primeiro passo em um longo caminho para um objetivo audacioso: construir um avião capaz de transportar 20 passageiros em velocidade hipersônica – cinco vezes mais rápido que o som, ou a 6 mil quilômetros por hora.
Imagine ir de Nova York a Paris em 90 minutos. Um avanço e tanto das sete horas e meia de um voo comercial hoje.
Piplica reconhece que a Hermeus enfrenta desafios técnicos ainda mais difíceis na construção de um avião comercial que pode voar por longos períodos sofrendo o calor intenso e a dinâmica adversa criada à medida que ultrapassa a velocidade do som. Mas esse não é o maior problema, diz Piplica, 35 anos. “Os desafios de negócios são, na verdade, os mais difíceis. Você não vai levantar bilhões de dólares apenas para desenvolver uma aeronave de passageiros”, afirma.
A solução de Piplica: testar a tecnologia em grande parte às custas do Pentágono, desenvolvendo drones hipersônicos pequenos e aproveitando a urgência de Washington para alcançar a Rússia e a China no lançamento de modelos manobráveis.
O Quarterhorse serve como um banco de testes reutilizável para submeter materiais e equipamentos a condições de alta velocidade. A Hermeus ganhou um contrato de US$ 30 milhões com a Força Aérea dos EUA que será destinado à construção e aos testes de três versões da aeronave. O primeiro voo está previsto para 2024, e Piplica diz que espera que o custo total de desenvolvimento seja inferior a US$ 100 milhões.
Se der certo, quando a Hermeus começar a construir o Halcyon, seu avião comercial planejado, Piplica diz que eles terão construído de seis a dez protótipos do Quarterhorse e do Darkhorse e encontrado soluções para muitas das incógnitas técnicas do voo de alta velocidade.
Leia também:
- Índia entra para o G4 dos países que já pousaram na Lua
- Como ela mudou de carreira e se tornou a 1ª mulher à frente do marketing do Bradesco
- 5 lições de Beyoncé (e sua turnê Renaissance) para ter sucesso nos negócios
Afinal, diz Piplica, os humanos têm apenas cerca de 30 minutos de experiência em Mach 4 com as chamadas aeronaves que respiram. Esses aviões usam o oxigênio a seu redor como combustível em vez de carregá-lo a bordo como os foguetes, deixando menos espaço para carga útil, como passageiros. Quando todos os testes estiverem concluídos, Piplica espera ter uma frota de drones hipersônicos obtendo receitas sólidas e realizando missões do Departamento de Defesa.
Com base nesse plano de negócios, a Hermeus levantou US$ 119 milhões, com uma rodada B concluída em março de 2022, com uma avaliação de US$ 400 milhões. Os objetivos ambiciosos garantiram à empresa um lugar na Next Billion-Dollar Startups da Forbes deste ano, lista de 25 empresas apoiadas por capital de risco que acreditamos terem maior probabilidade de atingir uma avaliação de US$ 1 bilhão.
Ciência estranha
O objetivo da Hermeus de ter aviões comerciais em serviço em meados de 2030 é uma tarefa incrivelmente difícil, dizem especialistas. O desafio não é atingir velocidades hipersônicas – mísseis e veículos espaciais fazem isso regularmente. A dificuldade está em construir algo que possa sustentar essas velocidades e tensões e que seja reutilizável, diz Luca Maddalena, pesquisador de hipersônica da Universidade do Texas, em Arlington.
O atrito com o ar cria progressivamente mais calor à medida que a aeronave acelera. Para se adaptar, o avião espião SR-71 Blackbird, que estabeleceu o recorde de aeronave tripulada mais rápida em Mach 3,3 em 1976, tinha seções de asas em liga de titânio que eram onduladas para permitir que se expandissem à medida que o material esquentava.
Leia também:
Um requisito fundamental para tornar viável um avião hipersônico será sua durabilidade. “Ele não pode chegar com metade da vida que um veículo subsônico tem hoje”, diz Mary Jo Long-Davis, chefe do Projeto de Tecnologia Hipersônica da NASA. “Isso não fechará o modelo de negócios”, completa.
Piplica admite que não há como prever a vida útil ou o cronograma de manutenção do Halcyon. “Os dados não existem”, diz ele. A Hermeus pretende obter as informações através do Quarterhorse e Darkhorse, e pode ter uma chance devido ao atual zelo do governo dos EUA em desenvolver armas hipersônicas.
Opção de escolha
Piplica e seus cofundadores – CTO Glenn Case, COO Skyler Shuford e Diretor de Produto Mike Smayda – têm experiência na indústria espacial e trabalharam juntos na Generation Orbit, que estava desenvolvendo um foguete líquido lançado do ar para testes de voo hipersônico. Eles acham que podem reduzir os custos imitando as startups espaciais na construção de uma série de aeronaves que progressivamente resolvem os problemas do voo hipersônico.
Por exemplo, o Quarterhorse voará acima de Mach 3 apenas por alguns minutos, então o Hermeus não terá que resolver os problemas de gerenciamento de calor de um drone hipersônico de voo mais longo, muito menos aqueles necessários para manter os passageiros vivos. Quarterhorse testará o sistema de propulsão respiratório, que foi projetado para ser relativamente acessível.
Tanto o Quarterhorse quanto o Darkhorse serão movidos desde a decolagem por um motor de caça a jato pronto para uso que impulsionará a aeronave para perto de Mach 3, rápido o suficiente para acender um ramjet, que não possui partes móveis e depende do movimento para frente para comprimir o ar necessário para queimar combustível de forma eficiente. Os ramjets estão em desenvolvimento há décadas e são uma tecnologia relativamente madura, diz Piplica.
O Darkhorse está planejado para ser cerca de 50% mais longo que o Quarterhorse e capaz de atingir um alcance de Mach 5 de mais de 1,6 mil km por hora. Com os avanços no radar ameaçando anular as propriedades furtivas das aeronaves dos EUA, como o caça F-35, Piplica argumenta que a velocidade do Darkhorse dará à Força Aérea a capacidade de continuar a operar no espaço aéreo de adversários como a China, que possuem defesas aéreas avançadas.
Custo da velocidade
Quanto maior o número Mach, mais materiais exóticos serão necessários – e maiores serão os custos de manutenção, diz Long-Davis da NASA. Também aumentando com a velocidade estão os custos de combustível e os prováveis preços das passagens, de acordo com alguns estudos financiados pela NASA nos últimos quatro anos sobre a economia do transporte aéreo de alta velocidade.
Os estudos sugerem que o maior potencial de mercado é para aeronaves que navegam na faixa relativamente tranquila de Mach 2 a Mach 3, com 20 a 30 passageiros.