O que esperar da Super Quarta com as reuniões do BC e do Fed

19 de setembro de 2023
Kevin Lamarque/Reuters

Jerome Powell, presidente do Fed: petróleo e empregos vêm mantendo a inflação elevada

A quarta-feira (20) está sendo chamada de Super Quarta pelos investidores graças à coincidência de reuniões de bancos centrais. Às 14h (horário de Brasília) deve acabar a reunião do Federal Open Market Committee (Fomc), e quatro horas e trinta minutos mais tarde encerra-se, em Brasília, a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Os resultados desses dois encontros já são esperados. “Nos Estados Unidos, 99% das projeções são de manutenção dos juros no intervalo atual, de 5,25% a 5,50% ao ano”, diz a economista Ana Paula Debiazi. “Para a Selic, a expectativa praticamente unânime do mercado é que o Copom mantenha o ritmo de corte de juros em 0,5 ponto percentual, reduzindo a taxa para 12,75% ao ano.”

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Sem emoções, portanto? Longe disso. O que vai mesmerizar as atenções do mercado é o que está previsto para ocorrer em seguida. Nos Estados Unidos, a entrevista coletiva em que Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, comenta a decisão. E por aqui, o Comunicado da reunião do Copom, em que o Banco Central vai divulgar sua avaliação sobre a inflação que justificou a alteração nos juros. E, além disso, indicar o que os agentes econômicos devem esperar nas próximas reuniões.

Economia brasileira resiliente

Começando pelo Copom. A projeção é de corte de meio ponto percentual nesta reunião, baixando os juros para 12,75% ao ano. Segundo a edição mais recente do Relatório Focus, divulgado todas as segundas-feiras pelo Banco Central (BC), a projeção para a Selic no fim deste ano é de 11,75%.

Haverá mais duas reuniões do Copom neste ano – no início de novembro e no começo de dezembro. Pelas contas do mercado, haverá um corte de 0,5 ponto percentual na quarta-feira e mais duas reduções deste tamanho nas próximas reuniões.

Isso era o que valia até a manhã da segunda-feira (18). No entanto, no fim do dia, o Ministério da Fazenda elevou a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023 de 2,5% para 3,2%. Segundo a Secretaria de Política Econômica (SPE), a melhora da projeção é reflexo do resultado positivo do PIB no segundo trimestre, que deixou um carregamento estatístico de 3,1% para o ano. “A maior projeção repercute principalmente o crescimento do segundo trimestre, que foi de 0,9% na margem e de 3,4% ante o mesmo período de 2022”, informou a SPE.

O número do Ministério está acima das projeções do mercado. O Focus indica um crescimento de 2,89%. Mesmo assim, o número é relevante. Em 2022, o PIB brasileiro movimentou R$ 10 trilhões. Considerando-se o aumento da projeção ministerial, o 0,7 ponto percentual a mais representa um adicional de R$ 70 bilhões em circulação na economia, movimentando as empresas e fortalecendo o consumo.

Mais dinheiro em circulação pode representar uma pressão de alta na inflação. Isso não é um risco por enquanto, dizem os economistas. Segundo Rafael Perez, economista da Suno, “o resultado do PIB, especialmente o do segundo trimestre, mostrou uma economia brasileira muito mais resiliente, principalmente devido ao setor de serviços e ao consumo das famílias, dois componentes importantes para a dinâmica inflacionária.”

Isso, no entanto, não deve alterar as expectativas de inflação. “A deflação em índices importantes como o IGP-M e a queda dos preços de commodities agrícolas e dos alimentos vêm ajudando na dinâmica inflacionária e tendem a compensar possíveis pressões por conta do aumento no consumo das famílias”, diz Perez. Mesmo assim, o mercado vai observar atentamente o Comunicado da reunião do Copom, para ver se o Banco Central concorda com essa avaliação.

EUA: emprego e petróleo

A situação dos juros americanos é diferente. Se por aqui a questão é redução, por lá a dúvida é se eles param de subir ou não. O Fed manteve as taxas a zero ou quase entre 2020 e 2022. Em março do ano passado, elas começaram a subir e alcançaram o patamar atual de 5,25% a 5,50%, o mais elevado desde 2007. Foi o maior aperto na política monetária em décadas e visa fazer a inflação, ao redor de 4,5% ao ano, voltar à meta de 2%.

Há dois obstáculos para isso, porém. O primeiro é o aquecimento do mercado de trabalho. O emprego americano está, aos poucos, desacelerando. No trimestre encerrado em agosto, a economia americana criou 449 mil empregos, o menor resultado trimestral desde 2020. E o crescimento salarial abrandou. O rendimento médio por hora aumentou apenas 0,2 % em agosto.

Com isso, as empresas criam menos vagas, a taxa de desemprego aumenta, mas não muito, e os salários pararam de ser reajustados acima da inflação. No entanto, esse arrefecimento da demanda por trabalho mostra que ela parou de subir, e não que começou a cair. Ou seja, ainda há pressão de custos de mão de obra que mantém os índices de inflação elevados.

O outro problema é o petróleo. Ao longo do terceiro trimestre, entre junho e setembro, os preços do petróleo do tipo West Texas Intermediate (WTI), referência para o mercado americano, subiram de US$ 67 para US$ 90 por barril. Antes de setembro acabar, é bastante provável que o barril de petróleo supere US$ 100 pela primeira vez em 2023, dizem os analistas.

A oferta está apertada, com a decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de manter até dezembro uma redução conjunta na produção de 1,3 milhão de barris por dia (bpd). E a demanda está aquecida, com a economia chinesa dando sinais de recuperação. A China é o segundo maior consumidor global de petróleo, perdendo apenas para os Estados Unidos, e é o maior importador. Sua produção é incapaz de atender o mercado interno. Assim, um aumento na demanda chinesa tem o potencial de drenar os estoques ainda mais depressa.

“Ao analisarmos a inflação americana, notamos que a energia foi um dos principais responsáveis pelo aumento de preços”, diz Vinícius Steniski, analista de ações do TC. “No entanto, o Fomc foca mais no núcleo da inflação, que exclui esses itens voláteis.” Mesmo assim, os núcleos estão em quase 4% em 12 meses, muito acima da meta de 2%. Isso não passou desapercebido para Powell e para os demais diretores do Fomc. Apesar de o mercado não esperar uma nova alta dos juros, Powell pode indicar que a porta permanece aberta para um último aumento na reunião de novembro.